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A procura interna passou a ter um contributo positivo para a variação em cadeia, "destacando-se o crescimento do consumo privado apesar da aceleração dos preços no consumidor", conclui o INE
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A procura interna passou a ter um contributo positivo para a variação em cadeia, "destacando-se o crescimento do consumo privado apesar da aceleração dos preços no consumidor", conclui o INE

LUÍS FORRA/LUSA

A procura interna passou a ter um contributo positivo para a variação em cadeia, "destacando-se o crescimento do consumo privado apesar da aceleração dos preços no consumidor", conclui o INE

LUÍS FORRA/LUSA

Portugal escapa à entrada em recessão no terceiro trimestre. Como cresce 0,4%?

Portugal cresceu mais do que a UE num trimestre de verão em que o consumo não abrandou face aos três meses anteriores, apesar da aceleração dos preços. Meta do Governo para o PIB fica "reforçada".

As estimativas variavam entre um crescimento de 0,8% a uma contração de 0,5% para o terceiro trimestre do ano. Mas os resultados provisórios, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ficaram algures a meio caminho: a economia portuguesa terá crescido 0,4% de julho a setembro, face aos três meses anteriores, num período de verão que não trouxe um abrandamento do consumo privado, mesmo apesar de a inflação se ter mantido acima dos 9% em termos homólogos. Os resultados, ainda provisórios, afastam os receios de entrada em recessão técnica no arranque da segunda metade do ano, mas não desanuviam completamente as projeções mais sombrias para o final de 2022 e início de 2023.

Na estimativa rápida divulgada esta segunda-feira, o INE é parco em explicações (o documento mais detalhado, com a evolução percentual de cada rubrica, só será divulgado no final de novembro). Mas já dá algumas pistas sobre os motivos do comportamento da economia, destacando o consumo privado como o motor de crescimento. A procura interna (que inclui consumo e investimento) passou a ter um contributo positivo para a variação em cadeia, “destacando-se o crescimento do consumo privado apesar da aceleração dos preços no consumidor“, salienta o INE. Por outro lado, o contributo da procura externa líquida (cujo principal componente é o turismo) foi inferior ao trimestre anterior.

Os 0,4% de aumento representam uma aceleração face à quase estagnação do segundo trimestre, mas estão ainda longe dos mais de 2% dos primeiros três meses do ano. Ainda assim, são uma boa notícia, destacam os economistas contactados pelo Observador, nomeadamente para a meta do Governo de um crescimento de 6,5% no conjunto do ano. Mas na reta final do ano os efeitos da subida das taxas de juro e da inflação já deverão notar-se de forma mais evidente nas estatísticas do INE, segundo antecipam.

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Inflação não travou consumo. Porquê?

Mesmo tendo estado acima dos 9% no terceiro trimestre, a inflação não determinou um abrandamento do consumo privado face ao segundo trimestre do ano. Nem a subida das taxas de juro. Paulo Rosa, economista-sénior do Banco Carregosa, salienta que o crescimento do consumo privado foi “alicerçado” numa subida, “ainda que ligeira”, na confiança dos consumidores portugueses na primeira metade do verão.

A poupança acumulada durante a pandemia pode ter tido um papel relevante na persistência do consumo. “Já no segundo trimestre observámos que a taxa de poupança desceu abaixo da média histórica, significando que as famílias estavam a ir buscar recursos às poupanças acumuladas. É possível que a tendência se tenha mantido”, refere ao Observador Paula Carvalho, economista-chefe do BPI. João Borges Assunção, responsável pelo núcleo de estudos de economia da Católica, aponta no mesmo sentido: “A redução da poupança pode estar a contribuir para a manutenção do consumo privado apesar da inflação”.

Já Rui Constantino, economista-chefe do Santander, defende que “as famílias ainda não estão a ir buscar dinheiro à poupança passada”, até porque “os depósitos têm continuado a subir“. Estão é “a dedicar mais rendimentos à despesa de consumo, em resultado do aumento da inflação”.

Economia cresce 0,4% no terceiro trimestre do ano face ao segundo trimestre

Há um outro efeito potencial a contribuir para o crescimento, apontado pelo economista do ISEG António Ascensão Costa: a procura automóvel, à medida que se resolvem os problemas no abastecimento de componentes. “A procura em trimestres anteriores não se conseguiu concretizar porque a oferta estava restringida, havia problemas de componentes. Agora, provavelmente a oferta está um bocadinho mais desanuviada“, afirma, ao Observador.

Mas se no trimestre do verão o consumo interno até cresceu face ao trimestre anterior, na reta final do ano, já deverá abrandar face ao “atual forte desempenho”, diz Paulo Rosa. Rui Constantino também observa que os efeitos da inflação e da subida das taxas de juro ainda não se refletiram “plenamente” sobre o consumo e investimento. “Ainda“.

Temos uma economia em desaceleração, como resulta da dinâmica homóloga, e onde os principais riscos decorrentes da inflação elevada e da subida das taxas de juro ainda não se fizeram sentir plenamente sobre o consumo e investimento, pelo que os riscos de maior abrandamento da atividade não podem ser excluídos“, observa Rui Constantino.

Márcia Rodrigues, economista da área de estudos económicos do Millennium bcp, acrescenta que nos meses de julho e agosto os “riscos” da subida da inflação e das taxas de juro foram ainda “relativamente limitados“. A economista aponta ainda a possível “recuperação do investimento” como um dos contributos, depois de uma quebra no trimestre anterior, resultado do alívio das restrições nas cadeias de produção globais.

Turismo ainda não recuperou totalmente da pandemia

Embora o INE não o refira explicitamente no curto destaque que publicou esta segunda-feira, os economistas antecipam que o turismo também tenha tido uma quota-parte no crescimento. Rui Constantino, do Santander, assinala a “boa dinâmica” do setor, em especial do turismo doméstico, o que também explicaria “a melhoria ao nível do consumo privado“. Já o turismo de não residentes, “apesar da recuperação, está ainda aquém do observado em 2019”.

Economia não contraiu no segundo trimestre, mas sol deverá pôr-se depois do verão

Isso mesmo revelam os dados, divulgados também esta segunda-feira, das dormidas em Portugal. No trimestre do verão, as dormidas de não residentes ficaram ainda 0,8% abaixo do mesmo trimestre de 2019, enquanto as dos residentes estavam 10,8% acima desse período. “O comportamento do turismo deve ser visto no contexto de pandemia, em que foi o primeiro ano em três com um período de férias ‘normais’”, salienta ainda.

O destaque do INE revela que “o contributo da procura externa líquida”, que inclui importações e exportações, com destaque para o turismo de estrangeiros, “foi inferior ao observador no trimestre precedente”, em que cresceu muito. “O impulso pode ter sido inferior ao do trimestre anterior, sem pôr em causa o contributo do setor para a atividade“, indica Paula Gonçalves, do BPI.

Já Paulo Rosa destaca que, em agosto, as contas do turismo em termos líquidos superaram os níveis pré-pandemia de agosto de 2019, com um novo “máximo histórico”, mas isso não foi suficiente para contrariar “o agravamento do défice comercial e o consequente menor contributo das contas externas para o PIB”. De forma idêntica, Márcia Rodrigues explica que a evolução positiva da procura externa “continua a refletir um forte dinamismo da atividade turística“, mas esse contributo terá sido “atenuado” por um “possível aumento das importações“. É por isso que Paula Carvalho, do BPI, aponta o consumo privado e as exportações como os prováveis principais “motores da boa performance”.

Por outro lado, a “gradual deterioração” da confiança das empresas terá levado a uma desaceleração do contributo do investimento para o PIB, refere Paulo Rosa.

O horizonte desfavorável no final do ano (que não deverá pôr em causa a meta do Governo)

Os receios de recessão técnica (que se verifica quando há dois trimestres consecutivos de queda da economia) ficam, para já, afastados, mas não por muito tempo, com os economistas a revelar mais pessimismo em relação ao final do ano. Paulo Rosa, por exemplo, admite que a economia abrande ou estagne nos últimos três meses do ano, em termos homólogos, ou até que recue em cadeia, depois de seis trimestres consecutivos de alta. João Borges de Assunção, da Católica, atira mesmo que a conjuntura se mantém “desfavorável no horizonte visível“, e que o crescimento homólogo deverá ficar “relativamente fraco assim que desaparecerem os efeitos base favoráveis” devido ao efeito de saída da pandemia.

Nos dados divulgados até ao momento, “ainda” não encontra sinais de recessão. “Em termos de recuperação face ao período pré-pandemia, Portugal está, tal como a Zona Euro, cerca de dois pontos percentuais acima. O que acaba por ser positivo no contexto atual”, afirma. O PIB deste ano deverá, por isso, “manter um bom desempenho no conjunto do ano“, antecipa Paulo Rosa.

Os economistas acreditam que a meta de 6,5% do Governo, inscrita na proposta de Orçamento do Estado, não deverá estar em causa. Paula Carvalho, do BPI, e António Ascensão Costa, do ISEG, sublinham que a previsão oficial até fica “reforçada“. E para João Borges de Assunção torna-se “mais credível” com os resultados agora divulgados. “A variação em termos homólogos está muito influenciada pela base de comparação, que no segundo trimestre de 2021 foi ainda muito condicionada pela pandemia, com impacto decrescente ao longo do ano”, aponta Paula Carvalho.

Economistas acreditam que meta do Governo de crescimento de 6,5% em 2022 será cumprida ou mesmo ultrapassada

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Há até quem admita já que a meta seja ultrapassada. É o caso de Ascensão Costa, que calcula que para chegar aos 6,5% no conjunto do ano seria preciso que Portugal recuasse 0,5% em cadeia no último trimestre. O economista concorda que não há ainda sinais de recessão, mas “claramente uma desaceleração do crescimento“.

O crescimento previsto para o conjunto de 2022 reflete, em grande medida, um efeito base da pandemia, num contexto em que Portugal caiu muito mais do que outros países europeus. Por isso, Rui Constantino não vê com surpresas a desaceleração do PIB em termos homólogos, de 7,4% para 4,9%. Era “esperada, uma vez dissipados os efeitos relacionados com a pandemia e os confinamentos”.

O BPI, que projeta um crescimento de 6,3% para o conjunto do ano de 2022, diz que os 0,4% em cadeia revelam “resiliência” e podem apontar para uma “possível superação do patamar” que o banco prevê. “A economia deve expandir mais próximo dos 7%. Todavia, não põe em causa a trajetória, que antevemos seja de rápida desaceleração em linha com os principais condicionantes e fatores de risco: aumento muito rápido e forte das taxas de juro e persistência da taxa de inflação”, avisa Paula Carvalho.

Márcia Rodrigues, do BCP, também vê nuvens negras: nos próximos trimestres é “expectável” uma evolução “menos favorável” da economia, em virtude do “enquadramento externo adverso, nomeadamente por via da persistência de elevados níveis de inflação, da subida dos custos de financiamento e da perda de vigor dos nossos principais parceiros comerciais”. “Estes efeitos adversos poderão, contudo, ser parcialmente mitigados pela resiliência do turismo e pela execução dos projetos associados ao Plano de Recuperação e Resiliência”, acredita.

As estimativas do INE podem ainda ser revistas em baixa ou em alta, à medida que é disponibilizada mais e nova informação sobre as contas nacionais. Essa revisão já chegou a acontecer e de forma significativa: nas primeiras estimativas (rápidas) sobre o segundo trimestre, o INE começou por calcular uma contração da economia de 0,2%, mas acabou por rever a estimativa para uma estabilização, semanas depois. Os dados mais consolidados do terceiro trimestre só serão conhecidos a 30 de novembro.

Portugal melhor do que média da UE

Com um crescimento de 0,4% em cadeia, Portugal sobe acima da média da União Europeia e da Zona Euro, de 0,2%. Segundo dados provisórios divulgados pelo Eurostat, o gabinete de estatísticas da UE, trata-se de uma desaceleração em relação ao segundo trimestre do ano, quando o PIB cresceu 0,8% na Zona Euro e 0,7% na UE.

Zona euro “já está em recessão”. Dados económicos avançados acentuam queda

Portugal está no grupo de países que mais cresceram em cadeia. É apenas ultrapassado pela Suécia (0,7%) e pela Itália (0,5%), e está no mesmo nível da Lituânia. Já na Letónia (-1,7%), na Áustria e na Bélgica (-0,1%) foi registada uma contração.

Os receios de recessão na Alemanha não se concretizaram, pelo menos para já. O país registou um aumento do PIB muito semelhante ao português, de 0,3%. António Ascensão Costa, do ISEG, admite uma reversão da situação “a qualquer momento”, nomeadamente no país liderado por Olaf Sholz. “E, por essa via, arrastar-se a países como Portugal.”

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