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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ProfJam: a dança de um rapper inquieto

O músico vai apresentar o novo “MDID” com uma performance inovadora. A estreia acontece esta sexta-feira, 30 de junho, no Sumol Summer Fest. Falámos com o músico e a coreógrafa Amélia Bentes.

Em 10 anos, desde que começou por dar nas vistas na Liga Knock Out, ProfJam conseguiu afirmar-se como um dos rappers mais influentes e marcantes do panorama nacional. Além de sempre se ter distinguido pelas mensagens transmitidas e pela eloquência lírica, Mário Cotrim foi vanguardista das sonoridades trap para um público abrangente, revelou-se essencial para lançar uma nova geração de artistas em Portugal — vestindo a pele do “prof dos putos da nova gen” — e nunca se esquivou do risco artístico. Com um novo álbum para apresentar, MDID (que é como quem diz “música de intervenção divina”), o artista lisboeta dá mais um passo no escuro. ProfJam vai apresentar-se ao vivo com uma forte componente de dança contemporânea em palco.

“É um espetáculo novo, com mais pessoas em palco, é uma partilha que nunca tive, por isso é uma estreia total. Estou muito ansioso, quero muito que chegue o dia, que as pessoas gostem e que dê que falar”, explica ao Observador Mário Cotrim, quando visitamos o último dia de ensaios num estúdio em Almargem do Bispo, no concelho de Sintra. A primeira apresentação deste novo formato, onde Mike El Nite se mantém enquanto DJ e hypeman, acontece esta sexta-feira, 30 de junho, no palco principal do Sumol Summer Fest, que este ano se muda da Ericeira para a Costa da Caparica. Depois, a performance irá continuar a repetir-se em todas as atuações do rapper de 32 anos.

A ideia surgiu da mente de Rafael Freire, agente de ProfJam, que foi aluno, há vários anos, da reputada coreógrafa Amélia Bentes no Chapitô. Mário Cotrim, que sempre teve uma forte componente de performer em palco, procurava uma abordagem mais cénica e teatral nos concertos.

[ouça na íntegra o álbum “MDID”, de ProfJam, através do Spotify:]

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“Não me considero um músico no sentido tradicional da palavra, a minha génese não é musical… Então sempre pensei num espetáculo de um ponto de partida muito mais abrangente. Na escola, tive alguma formação em teatro, por vezes sinto mais uma veia teatral do que propriamente de músico. Não sou cantor, o meu foco às vezes não é cantar porque tenho a ajuda do auto-tune — por isso é a questão da expressão, da intensidade, de me entregar às linhas melódicas e de texto. O que eu queria era construir um bocado sobre isso… Vês um David Guetta ou certos DJ que estão sozinhos em cima do palco, estão virados para uma máquina e não é por isso que deixam de cativar as pessoas pela sua música e com o seu espetáculo de luz e som. Isso sempre me intrigou porque gosto muito de música eletrónica”, conta.

Adeus à zona de conforto

Entre o desenho de luz e os elementos audiovisuais, passando pelos produtores 2LO que estarão a fazer arranjos digitais em direto, o que se vai destacar então nas atuações de ProfJam serão os seis bailarinos, que o artista descreve quase como se fossem “personagens” da sua narrativa, que o irão acompanhar em palco. O processo começou em fevereiro, três meses antes do lançamento de MDID, quando Amélia Bentes mergulhou a fundo na obra de Mário Cotrim e começou a idealizar a performance.

“Conhecia-o à distância, não é muito da minha geração”, explica a coreógrafa que tem uma carreira de 30 anos na dança contemporânea, sendo professora na Escola Superior de Dança. “A primeira impressão que tive foi: estou cheia de medo de fazer isto porque é algo fora da minha zona de conforto. Por outro lado, tive um fascínio enorme porque íamos criar uma fusão de linguagens e uma interdisciplinaridade que é necessária no contexto artístico.”

“Há certos paralelismos entre o que eles fazem, que tem muito a questão das barras, do tempo, e o que eu faço enquanto rapper. Eles estão, basicamente, a cuspir barras com o corpo. E quando eu tive de integrar isso foi complicado, porque estou habituado às palavras… Mas é ótimo para crescer enquanto artista e ter novos desafios”
Mário "ProfJam" Cotrim

O importante, explica, era absorver o “contexto dramatúrgico” das músicas de ProfJam. “Gosto de metáforas, de mensagens, de trabalhar emoções. Dissequei as letras do Mário ao milímetro, mesmo com aquela linguagem metafórica difícil”, diz, referindo-se ao disco complexo e com uma forte componente espiritual que ProfJam apresentou este ano. “Obrigou-me a entrar naquele universo e isso aliou-se muito bem à dança contemporânea que pratico. Gosto de caos organizado, de energia, intensidade, mensagens assertivas… E o Mário tem isso tudo.”

A ideia passava por traduzir de alguma forma as letras de ProfJam para movimentos corporais. Ainda que, muitas vezes, seja a intensidade das melodias ou do ritmo que ditem as manobras executadas pelos seis bailarinos — Marta Cardoso, Nuno Velosa, Sofia Gamboa, Joana Silva, Gustavo Gonçalves e Francisco Freire, todos alunos de Amélia Bentes. “Foram escolhidos a dedo, cada um tem a sua personalidade e especificidade física. A dança não se faz sozinha. Eu posso ter as ideias, mas eles têm que dar corpo e energia a tudo o que eu sugiro. E o espetáculo está intenso também por isso. Porque eles entraram muito profundamente no universo do Mário.”

“Contagiante”, “rápido”, “perspicaz”

Durante dois meses e meio, ensaiaram diariamente para concretizarem uma performance de uma hora, sem movimentos repetidos e com muito poucas pausas. “Para ficar bem feito, a dança precisa de muitas horas. Nós vamos movimento a movimento, som a som.” ProfJam ia aparecendo esporadicamente nos ensaios, para fazer algumas sugestões e acompanhar todo o processo. “No início mostrávamos o material ao Mário e ele ficava excitadíssimo, era mesmo gratificante, porque ele vibrava só de olhar.”

Durante dois meses e meio, Amélia Bentes ensaiou diariamente para concretizar uma performance de uma hora, sem movimentos repetidos e com muito poucas pausas

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ProfJam confirma-o. “Tive logo a sensação de que isto ia correr bem, porque eles fizeram cenas incríveis. Percebi logo que iríamos construir uma cena do caraças porque as pessoas envolvidas são de qualidade e estão aqui a dar tudo, a atirarem-se para o chão e a darem voltas”, conta o rapper.

O resultado, como o Observador pôde verificar e como a coreógrafa o descreve, é um espetáculo “contagiante”, “rápido”, “perspicaz”, “visualmente interessante”.

“São movimentos sensíveis, até porque eles se tocam muito, e tem sempre a ver com a letra. Por exemplo, na ‘Fase’, em que ele diz que não era nada disto que queríamos para nós, ele está a falar numa relação que não está a funcionar. Como é que traduzo uma relação difícil e frágil, que não está a funcionar mas ainda existe um certo carinho? A minha imagem física foi pôr dois bailarinos às cavalitas de outro. E os que estão em cima estão a acariciar a cara, mas à distância — e na iminência de cair, pois estão às cavalitas e o pilar é frágil. Ou seja, são este tipo de metáforas físicas. Noutro caso, o da ‘Azteca’, que é enérgica, fiz uma coreografia em que os bailarinos são monstros, estão curvados e crispados, com uma energia dinâmica e um olhar intenso. Ou seja, cada movimento tem a intensidade exata daquilo que está a ser dito ou ouvido.”

“O Mário tem uma energia forte, uma expressão intensa, imponente, e aproveitei logo isso. Fiz uma coreografia em que queria que ele dançasse um bocadinho mais a sério e nessa coreografia fiz o papel dele, quando lhe mostrei, para ele ver o potencial que aquilo tinha e para não desistir logo [risos]. Ele saltou da cadeira aos gritos e disse: ‘Amélia, isto é muito bom, 'bora lá’."
Amélia Bentes, bailarina, coreógrafa e professora

Mais importante do que o movimento em si, era ter “a mensagem que ele traduz, o que é que ele significa”. “Vou muito ao lado emocional. Os bailarinos têm de ser muito sinceros no que estão a fazer, o movimento não pode ser só decorado, tem de ser sentido. É exatamente o que o Mário faz também: ele sente o que está a fazer e é muito honesto e transparente nisso. E eu obriguei a que a minha dança tivesse esse cunho, que fosse um bom tapete para o espetáculo do Mário. Não é um espetáculo de dança, é de música, mas a dança envolve e dá relevo a toda a mensagem.”

ProfJam bailarino?

Apesar de muitas vezes os bailarinos fazerem a sua coreografia enquanto ProfJam se foca na sua performance regular, o próprio rapper também tem alguns momentos coreografados. “Há certos paralelismos entre o que eles fazem, que tem muito a questão das barras, do tempo, e o que eu faço enquanto rapper. Eles estão, basicamente, a cuspir barras com o corpo. E quando eu tive de integrar isso foi complicado, porque estou habituado às palavras… Mas é ótimo para crescer enquanto artista e ter novos desafios”, diz Mário Cotrim.

Nos ensaios, ProfJam improvisava os seus movimentos enquanto Amélia Bentes observava atentamente. Acima de tudo, a coreógrafa valoriza a “individualidade física” de cada um e gosta de “potenciar” as melhores características do indivíduo — daí muitas vezes até fazer trabalhos com pessoas que não dançam de forma profissional.

Para ProfJam, o facto de partilhar o palco com seis bailarinos dá-lhe espaço e tempo para que não tenha de ser sempre o performer intenso em busca de preencher o palco

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

“O Mário tem uma energia forte, uma expressão intensa, imponente, e aproveitei logo isso. Fiz uma coreografia em que queria que ele dançasse um bocadinho mais a sério e nessa coreografia fiz o papel dele, quando lhe mostrei, para ele ver o potencial que aquilo tinha e para não desistir logo [risos]. Ele saltou da cadeira aos gritos e disse: ‘Amélia, isto é muito bom, ‘bora lá’. Ficou tão entusiasmado que aprendeu aquilo na hora. São movimentos simples, como é óbvio, porque ele está a cantar ao mesmo tempo e está cheio de contagens. E gerimos a coreografia dentro das possibilidades físicas e respiratórias, porque é muito exigente cantar e dançar ao mesmo tempo. Mas ele entrou muito bem.”

A coreógrafa sublinha o facto de o rap conter “letras muito complexas” que exige “tempo para respirar” ao longo do espetáculo. “O Mário vai interagindo, sabe de tudo o que se está a passar, e tem a liberdade de fazer o máximo que ele quiser. Vai ser uma boa surpresa.”

Um espetáculo que “eleva a fasquia”

Para ProfJam, o facto de partilhar o palco com seis bailarinos dá-lhe espaço e tempo para que não tenha de ser sempre o performer intenso em busca de preencher o palco — que nesta fase da sua carreira são bastante grandes.

“É um espetáculo que vai às nuvens, ao chão, ao amor, à loucura. É o que me representa também. E acho que isto pode abrir portas para aquilo que um espetáculo [de rap em Portugal] pode ser", diz ProfJam.

“Sou um bocado caótico, este tipo de ajuda em palco acaba por me ordenar e ancorar. Até consigo fazer uma performance superior, porque como está tudo mais estudado, existe uma componente cénica e teatral que dá uma dimensão mais fixe do que estar ali desenfreado — embora eu também goste, de andar de um lado para o outro aos saltos… Assim posso estar mais focado e, nas músicas mais puxadas, também aguento melhor os pulmões. O espetáculo subiu de qualidade a todos os níveis e os bailarinos expandem a intensidade da coisa.”

O alinhamento vai passar muito por MDID, um álbum intencionalmente “dark e pesado”, mas também irá incluir temas anteriores, mais “abrangentes” e “comerciais”. A ideia foi procurar um equilíbrio entre vários “tons” e “emoções”. “É um espetáculo que vai às nuvens, ao chão, ao amor, à loucura. É o que me representa também. E acho que isto pode abrir portas para aquilo que um espetáculo [de rap em Portugal] pode ser.”

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