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Inês Bettecourt realizou a primeira época na NCAA ao serviço das UConn Huskies, equipa que formou alguns dos maiores nomes do basquetebol feminino norte-americano

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Inês Bettecourt realizou a primeira época na NCAA ao serviço das UConn Huskies, equipa que formou alguns dos maiores nomes do basquetebol feminino norte-americano

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"Quando Geno Auriemma fala, é como um Deus que está a descer à terra. Tudo o que ele diz, tenho que ouvir": entrevista a Inês Bettencourt

Dos Açores para a "capital mundial do basquetebol". Após o March Madness, Inês Bettencourt terminou a época em UConn. A entrevista à herdeira do 21 de Ticha que conversou com Sue Bird sobre Ronaldo.

A ESPN divulgou que a final entre as LSU Tigers e as Iowa Hawkeyes teve uma audiência média de 9,9 milhões de pessoas, tornando-se no jogo mais visto de sempre do campeonato universitário de basquetebol feminino dos EUA. Os números disponibilizados pelo canal desportivo equivalem a Portugal inteiro parar para ver os jovens talentos da modalidade. Ao longo do March Madness, o torneio composto por eliminatórias a um jogo que define o campeão nacional, 357.542 pessoas passaram pelos pavilhões, segundo a NCAA (National Collegiate Athletic Association), um número também nunca antes vistos.

O basquetebol feminino nos EUA vive numa bolha de entusiasmo. Uma das maiores responsáveis por isso é a Universidade de Connecticut (UConn) que tem, ao longo dos anos, deixado uma marca impossível de ignorar no basquetebol norte-americano: 11 títulos nacionais e seis temporadas sem derrotas, além de ter formado algumas das melhores jogadoras de sempre da modalidade: Sue Bird, Diana Taurasi, Breanna Stewart e Maya Moore, todas elas atletas que passaram pelo campus de Storrs antes de serem figuras de destaque na WNBA. A ser moldada nesta fábrica de talentos está a portuguesa Inês Bettencourt.

São Miguel, Açores, onde os relógios devem uma hora ao continente, deu ao basquetebol uma jogadora adiantada no tempo. Aos 16 anos, Inês já somava minutos na Liga Portuguesa e na temporada seguinte estreava-se na pré-qualificação da EuroCup, tudo vestida com a camisola da União Sportiva. Este verão, esteve em evidência no Campeonato da Europa Sub-18, ao serviço de Portugal.

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Ao mesmo tempo, nos EUA, Paige Bueckers, a principal estrela de UConn, nomeada Jogadora do Ano na época de estreia no basquetebol universitário, tornando-se na primeira atleta a conseguir esse feito, sofria uma lesão que a impediu de jogar em 2022/23. Para completar as opções para a posição de base, UConn recrutou Inês Bettencourt, que passou a ser orientada por um dos treinadores mais conceituados do país, Geno Auriemma. O técnico comanda o programa que agora a portuguesa integra desde 1985 e também foi selecionador dos EUA entre 2009 e 2016. Inês tinha planeado jogar numa equipa de junior college na Flórida, mas tudo mudou em poucos dias. “Quer dizer… É UConn…”, justificou na chegada a Storrs, “não podia recusar”.

Esta época, UConn não conseguiu ir além da ronda das Sweet 16, caindo perante Ohio State (73-61). Ainda assim, tal como aconteceu na temporada regular que coroou as Huskies como campeãs da divisão Big East, Inês Bettencourt teve a oportunidade de se estrear no March Madness logo na primeira ronda. A cinco minutos a pé do mítico Gampel, o pavilhão onde UConn realiza os jogos em casa, mesmo antes de começar mais uma aula do curso de Gestão no Desporto, a jogadora de 18 anos falou ao Observador sobre a primeira época nos EUA.

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Inês Bettencourt fez 25 jogos esta temporada

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Como foi a experiência do March Madness?
Tudo aqui é completamente diferente. A quantidade de fãs que vem ver os jogos é diferente do sítio onde jogava antes, em São Miguel, de Portugal continental e da Europa. O March Madness é outro nível. Pavilhões esgotados… a dimensão é muito maior.

A vossa chegada a Seattle para a ronda das Sweet 16 teve muita gente. A final do campeonato, entre LSU e Iowa, teve uma audiência televisiva média de quase dez milhões de pessoas, que é a população de Portugal. Foi essa dimensão o que mais te surpreendeu?
Sim. Os fãs vibram muito mais com o basquetebol. O primeiro choque foi na First Night que é a noite de apresentação da equipa, que foi em Storrs, no Gampel. Não estava à espera que aparecesse muita gente. Curiosamente, fui a primeira da equipa a ser apresentada, ou seja, estava extremamente nervosa. No final, disseram-me que estavam entre 7.000 e 8.000 pessoas a ver. Foi aí que percebi o quão diferente isto é.

A pressão é diferente. Como foi a primeira vez que tocaste numa bola de basquetebol nos EUA?
Estou aqui há algum tempo, então já estou habituada. Os primeiros jogos foram complicados. É um basquetebol diferente. É um basquetebol mais rápido. Estava nervosa no primeiro jogo [UConn venceu Northeastern por 98-39, Inês jogou cinco minutos e fez uma assistência]. Não queria errar. Acabou por correr bem.

No March Madness a pressão era maior?
Tive a sorte de que os primeiros jogos do March Madness foram aqui em Storrs e já estava habituada a jogar em casa. Por isso, senti o mesmo. Claro que, todas as vezes que entramos em campo, ouvir os fãs a gritarem e a aplaudirem é uma sensação que nem consigo explicar. Nós jogamos para eles. Queremos que muita gente venha ver os nossos jogos. As pessoas vêm ver os nossos jogos, porque gostam da nossa agressividade, do nosso ritmo de jogo. Gostam que nós joguemos, como diz o nosso treinador, o “A” Game, ou seja, a nossa melhor versão.

Vocês não chegaram tão longe como desejavam, mas a equipa masculina conquistou o título nacional. Vive-se um bom ambiente no campus por estes dias?
Sim. Diz-se que Storrs é a capital mundial do basquetebol. Ficámos muito felizes pelos rapazes. Depois dos rapazes ganharem, as pessoas aqui no campus estavam loucas. O que não foi tão bom foi que houve muito vandalismo depois do jogo. Quanto a nós, queríamos ter chegado mais longe, mas, por vezes, não dá.

Foi fácil digerir a vossa eliminação?
Como é o meu primeiro ano, ainda não me tinha apercebido do quão importante é o March Madness. No dia a seguir, caiu-me a ficha de que a nossa época tinha acabado e foi difícil. UConn está destinada a chegar à final todos os anos e esta época não estivemos perto.

Acompanhaste o resto do campeonato?
Fomos acompanhando. Claro que gostava de estar ali, mas já não podíamos fazer nada.

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A base portuguesa foi titular por uma ocasião, diante de Maryland

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Como é que foi a integração junto de uma equipa que tem Geno Auriemma, um treinador emblemático, e jogadoras que já têm bastante nome nos Estados Unidos?
No início, foi muito complicado. Os treinos são muito puxados, por isso é que chegamos onde chegamos. Não estava habituada ao ritmo de treino e de jogo daqui. Claro que aprender tudo de novo é difícil. Tive que aprender novas jogadas, não tinha química com as restantes jogadoras, porque ainda não as conhecia muito bem. Estou aqui há oito meses e o tempo voou.

Receberam-te bem?
Sim, receberam-me muito bem. Elas são o fator para eu ainda estar presente mentalmente.

No sentido de continuares motivada mesmo não tendo tu os minutos que certamente gostarias?
Exatamente. Às vezes, era complicado para mim cometer um erro e avançar para a jogada seguinte. Elas diziam que era normal isso acontecer, porque é o meu primeiro ano, sou uma jogadora internacional e não tinha estado aqui no verão.

Onde estavas e como foi o momento em que soubeste que UConn tinha interesse em ti?
Estava no sofá em frente ao computador. Depois do Europeu [Sub-18, Divisão B, que se jogou na Bulgária], sabia que ia ter mais propostas. Já queria vir para os EUA. Tinha esperança de conseguir ir para a NCAA que sempre foi o meu sonho, não era o junior college [Inês esteve perto de jogar em Northwest Florida]. Tive algumas universidades interessadas, mas, para este ano, o processo era muito complicado. A minha mãe disse-me que UConn estava interessada. Na altura, não percebi o quão grande foi o feito de UConn estar interessada em mim. Acho que só passado um mês de estar aqui na América é que caí na realidade. Depois, tratei do processo e, uns dias depois, já estava aqui.

UConn conquistou 11 títulos da NCAA, chegou a 22 Final Fours. Como funciona a dinâmica motivacional de uma universidade que, por ser tão conceituada, pode levar as jogadoras a pensar que a equipa pode chegar longe só pelo nome que tem?
O nome, claro que tem peso, mas não significa muito, porque, mesmo que as partidas sejam mais fáceis, temos que encarar os adversários como se fosse o último jogo das nossas vidas. Isso começa pelos treinadores nos motivarem. Mesmo a mentalidade das jogadoras: todas as jogadoras vêm para aqui com uma mentalidade de que vamos ganhar tudo. A mentalidade dos treinos e dos jogos é completamente diferente.

Como é trabalhar com o coach Geno Auriemma?
É normal que, com um treinador tão conceituado como ele, seja duro no início. Ele tem muita sabedoria do jogo. Às vezes, dou por mim a pensar “Porque é que ele fez isto?”. Acaba sempre por fazer sentido. São 38 anos a treinar UConn. Nos discursos, compara coisas que nunca achava que pudessem ser comparadas.

Fora do campo, como é ser freshman?
É tudo uma adaptação a estar na universidade no geral. Tudo ficou mais fácil, porque as colegas de equipa o tornaram mais fácil. Há fins de semana em que algumas vão a casa, por exemplo, e as jogadoras internacionais ficam no campus.

Consegues eleger alguém que tenha sido particularmente importante no teu processo de adaptação?
Todas foram muito importantes, mas as internacionais em especial. Já passaram por isso e sabem o quão duro é estar longe de casa. A Dorka Juhasz [selecionada com a pick 16 do Draft da WNBA pelas Minnesota Lynx], a Lou López Sénéchal [selecionada com a pick 5 do Draft da WNBA pelas Dallas Wings] e a Nika Muhl. Claro que as americanas também, mas é diferente.

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Paige Bueckers rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e falhou toda a temporada 2022/23

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Acabaste por partilhar muitos momentos com a Paige Bueckers no banco de suplentes, uma vez que ela esteve lesionada durante a época toda e tu não somaste tantos minutos como gostarias. Como é teres uma jogadora tão conceituada ao teu lado?
A Paige é muito brincalhona. Nós no banco estávamos sempre a brincar uma com a outra. Ela dá-me dicas no jogo e mesmo no treino. Ainda não tivemos oportunidade de treinarmos juntas, infelizmente, mas ela já tem começado a fazer alguns exercícios sem contacto. É uma atleta de outro nível.

Era um dos nomes que já conhecias quando foste para UConn?
Ela era “o” nome.

Mesmo sendo Portugal um país onde o basquetebol não tem tanta tradição, a Paige Bueckers, o coach Geno, por exemplo, são nomes conhecidos por cá. Olhavas para essas pessoas quase como “figuras divinas”, ou seja, com algum distanciamento?
Mais o treinador. Quando fala, é como um Deus que está a descer à terra. Tudo o que ele diz, tenho que ouvir. Tudo o que ele diz é importante. Tenho que ouvir, compreender e repetir.

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Geno Auriemma é uma figura mítica do basquetebol norte-americano. Está desde 1985 à frente das Huskies e também já foi selecionador nacional

Icon Sportswire via Getty Images

Ele já teve talentos como a Sue Bird, a Diana Taurasi, a Breanna Stewart ou a Maya Moore e, de repente, tem a Inês Bettencourt também.
Exato. Desde que cheguei aqui, tive uma grande progressão, o que é normal. Sempre compreenderam isso por causa da maneira como o processo foi feito. UConn não estava à espera de recrutar alguém. Claro que, quando cheguei, foi complicado, porque eles não me conheciam de lado nenhum. Só me tinham visto no Campeonato Europeu. Ao longo do ano, a mentalidade sobre mim foi mudando. Sempre que tínhamos treinos individuais, o treinador aparecia para dar dicas e me ajudar a melhorar.

Há algum aspeto concreto que tenhas tentado trabalhar e que tenhas sentido evolução?
O controlo de bola para não cometer tantos turnovers [perdas de bola sem lançamento]. No início do ano, foi um dos fatores para eu não jogar tanto. Os treinadores não podem confiar em jogadoras que fazem turnovers. Acho que melhorei muito no final da época nesse aspeto.

Na fase final da temporada, tiveste minutos em jogos a doer. Nessa altura o treinador já confiava em ti…
Eu mesma já confiava em mim. Claro que quando uma jogadora comete um turnover, a tendência é deixar-se ir abaixo e mudei.

Acabaste por conhecer a Sue Bird e a Maya Moore. O que é que saiu desses encontros?
Foram encontros muito breves. Estávamos em Portland no Thanksgiving Day, tivemos lá um torneio. A Sue Bird apareceu no hotel. Estávamos a ir tomar o pequeno-almoço. Fiquei chocada. “É a Sue Bird. Será que digo olá ou não?”. Uma pessoa do nosso staff disse-me para eu lhe ir dizer olá. A Sue Bird estava a falar com a nossa treinadora adjunta. Naquela altura, o Mundial de futebol estava a decorrer e ela gozou com a celebração do Ronaldo que não foi a normal. Foi esse o nosso tópico da conversa. Quanto à Maya Moore, veio ao nosso balneário antes do March Madness e deu-nos umas palavras de motivação. Disse que aquela era a altura mais importante do campeonato e que não devíamos ter distrações. Contou histórias dos treinadores, disse qual era o exercício favorito dela e qual o pior.

Estás constantemente rodeada de grandes nomes. Quem é a tua grande referência no basquetebol?
Em UConn, a Sue Bird. Ela é “a” base. Fez o que fez quando esteve aqui e na WNBA… Quando era mais nova, a minha referência era a Jhasmin Player, que jogou vários anos na União Sportiva.

E a Ticha Penicheiro? Também era uma figura que acompanhavas?
Claro. Quando aceitei a proposta de UConn e soube que ia usar o número 21, caiu-me a ficha que era o número da Ticha. Fiquei muito contente quando ela me mandou mensagem a desejar boa sorte, especialmente com o número 21.

Quais são os teus objetivos a médio/longo prazo?
Chegar à WNBA, às melhores ligas europeias e continuar a jogar basquetebol.

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