A Iniciativa Liberal vai a votos em plena crise política, com o Governo e o PS debaixo de fogo, e Rui Rocha apresenta uma moção estratégica crente de que as eleições antecipadas podem ser uma realidade e que o partido tem de estar preparado. Caso não aconteça, o candidato a sucessor de João Cotrim Figueiredo coloca a fasquia elevada: conquistar 15% dos votos quando nas últimas eleições (em que passaram de um para oito deputados) os liberais conseguiram 4,91%.

Num documento com mais de cem páginas, há linhas vermelhas que deixa traçadas: “Somos liberais em toda a linha” e “rejeitamos populismos, afastamo-nos dos extremos e recusamos a instrumentalização do medo e da frustração para obter ganhos políticos”. Com o Chega excluído da equação, a equipa que segue a linha de continuidade de Cotrim Figueiredo reitera que o partido, “regra geral”, vai continuar a ir a votos sozinho e sem coligações pré-eleitorais e que apenas avalia “entendimentos” depois dos resultados.

As possibilidades de entendimentos ficam escassas, tendo em conta que as críticas se multiplicam por todos os partidos, a começar no PS (“Não subscrevemos a lógica da “vacina” socialista — que será preciso o país voltar a bater no fundo”), passando pelo PSD (“Perdeu a sua energia reformista, tem aversão a muitas ideias liberais e representa uma oposição frouxa ao PS, procurando ser simples alternância em vez de alternativa, competindo pelos lugares no Estado com o PS”) e terminando no Chega, PCP e Bloco de Esquerda que, segundo Rui Rocha, “representam o fascínio pelo poder” e são “partidos extremistas que pretendem usar o Estado para impor a sua visão de mundo”.

“O nosso principal objetivo é tirar o PS do Governo e fazer crescer o liberalismo em Portugal.” Na parte que dedica à política nacional, Rui Rocha acusa ainda o Presidente da República de ter sido “conivente com a degradação das instituições democráticas e tem exercido este seu mandato comentando temas superficiais e não agindo nos temas essenciais”.

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Os objetivos para os próximos anos ficam definidos: a eleição de mais um deputado nos Açores (onde a IL ficaria com dois), um resultado na Madeira que permitisse dois representantes no parlamento regional e a conquista do primeiro eurodeputado da história do partido. Além das eleições que estão no calendário eleitoral, numas legislativas antecipadas que a IL não descarta, é ainda traçado o objetivo de eleger pelo menos em Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e também em Leiria e Aveiro.

Quanto aos candidatos às eleições, caso Rui Rocha seja eleito haverá o compromisso de recolher as propostas dos núcleos territoriais para as listas a deputados. No que toca a eleições regionais e locais, “salvo casos politicamente excecionais que possam ser vetados”, a Comissão Executiva vai propor os nomes escolhidos pelos núcleos para aprovação do Conselho Nacional.

Entre algumas das prioridades da equipa de Rui Rocha está o facto de ainda haver “liberdades sociais por realizar”, desde a “legalização da produção, venda e uso de canábis”, mas também a questão da “regulamentação do trabalho sexual”.

Numa moção mais focada na ideia de programa político do que nas questões internas propriamente ditas, Rui Rocha ambiciona uma “rede nacional e universal de creches, articulada com os setores privado e social”, mais liberdade na elaboração dos calendários escolares e escolas “verdadeiramente autónomas”. E sublinha ainda que os estudantes que preferem “trabalhar enquanto estudam não podem perder acesso à bolsa”.

Na área dos transportes, a ideia de rever o modelo de contratualização dos serviços de transporte rodoviário está incluído na moção de Rui Rocha, tal como a liberalização dos transportes fluviais na Área Metropolitana de Lisboa, “acabando com a exclusividade da Transtejo/Soflusa na prestação do serviço público de transportes”.

Na ferrovia, os liberais pretendem “a implementação de um plano de expansão da rede ligando as capitais de distrito, assegurando mais concorrência entre operadores”, mas também defendem a existência de um “estatuto único para o transporte privado de passageiros, acabando com a distinção enviesada entre serviços táxi e TVDE”.

Além da defesa da privatização da TAP — uma bandeira que há muito é levantada pela IL — Rui Rocha propõe um “cheque TAP”’. “Se o Governo consegue gastar 3 200 milhões de euros em injeções na TAP, então conseguirá, com certeza, distribuir pelos portugueses o valor que receber pela sua privatização em curso”, sublinha a moção.

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Ainda que as questões internas tenham marcado estas eleições, Rui Rocha deixa as propostas para mais tarde e assegura que, caso seja eleito, irá criar “todas as condições” para que exista uma “revisão estatutária que prepare o partido para novos desafios”. Promete “rever a composição do Conselho Nacional, nomeadamente no que toca à forma de participação da Comissão Executiva”, mas não diz como.

O candidato que representa a linha de sucessão de João Cotrim Figueiredo considera que para crescer o partido tem de “comunicar fortemente novas bandeiras políticas em novos territórios, chegando a novos públicos”. Para que tal aconteça, ambiciona o regresso das Rotas Liberais — iniciadas pelo presidente demissionário e que tinha como objetivo a implementação do partido a nível nacional.

Não abdica dos eventos nem de algumas das datas que têm colocado o partido na agenda, desde a “descida (e subida) da Avenida da Liberdade no 25 de Abril, o Arraial Liberal, a Reentrée Liberal, o X’IL – Encontro da Juventude, a Festa da Liberdade no 25 de Novembro”. E propõe a criação de um novo: o Festival da Liberdade, um evento de “dois dias de expressão artística, sobretudo musical, e manifestações de rua sempre que for politicamente oportuno”.

A moção coloca os jovens como fundamentais para a ideia de continuidade da Iniciativa Liberal e Rui Rocha aposta não só na captação do interesse desta faixa etária pelas ideias liberais, mas também na capacitação dos mais novos para a participação política e na “promoção do convívio e consolidação duma comunidade de jovens liberais em Portugal”.

Outro dos grandes objetivos de Rui Rocha passa por descer o valor das quotas de 60 para 40 euros e também uma descida para 20 euros no caso dos jovens, sendo que neste caso a faixa etária aumentaria de 23 para 25 anos. Por outro lado, se a liderança ficar nas mãos do deputado liberal a Comissão Executiva irá aumentar o valor das quotas que reverte para os núcleos de 1/3 (33%) para 2/3 (66%).

“A Comissão Executiva contará com canal de comunicação permanente e bidirecional específico para as estruturas locais e onde todos podem consultar as diferentes dúvidas e necessidades que os núcleos reportam, assim como os esclarecimentos e ações corretivas que foram iniciadas”, explica a equipa, que em caso de vitória vai apostar na formação de núcleos, no apoio à gestão dos mesmos e em gabinetes de estudo locais.

Além das ligações previstas, se Rui Rocha for presidente não abdica de estar no terreno e promete encontros regulares com os núcleos. E a sua Comissão Executiva fica responsável por criar um Portal do Membro, “uma intranet onde toda a informação estará sempre disponível e atualizada, onde os membros poderão enviar sugestões ou pedir esclarecimentos de forma direcionada e onde se concretiza toda a ligação entre membro – estrutura local – estruturas nacionais”.

Relativamente ao gabinete de estudos, que a sua adversária coordenou durante vários anos, Rui Rocha diz ser “essencial que não esteja limitado a um círculo fechado” e que seja “aberto à participação de todo o partido e com possibilidade de acesso ao trabalho que lá é executado”, uma crítica nas entrelinhas que tem um destinatário. A criação das Jornadas do Gabinete de Estudos também está nos planos, com a existência de “novos canais bidirecionais de comunicação interna”.

Quanto ao lado da comunicação mais criativa pela qual o partido é conhecido, haverá ainda mais investimento, com a criação de uma loja merchandising online no site da IL. Haverá ainda uma renovação deste mesmo site, com áreas específicas para cada núcleo territorial.

A reativação do canal de WhastsApp criado para a campanha de 2019 também está prevista, bem como a aposta em mais redes sociais, como o TikTok e o Twitch. A criação de um podcast e de uma aplicação também está nos planos de Rui Rocha.

Até ao fim de 2024, a equipa pretende chegar aos 121 núcleos territoriais e mais três na diáspora.

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