O cancro é a segunda principal causa de morte em Portugal, ceifando a vida, todos os anos, a milhares de pessoas. Em 2013, segundo os últimos dados do INE, registaram-se mais de 24 mil óbitos por tumores malignos. Mas há um lado bom nestes números negros. São muitos os que conseguem vencer a batalha contra o cancro, erguer a cabeça e a autoestima. E, para esses, garantem os próprios, a vida ganha uma nova luz.
No dia em que o Mundo celebra a luta contra o cancro, o Observador publica o testemunho, na primeira pessoa, de oito mulheres a quem foi diagnosticado um tumor maligno e que, depois do susto inicial, tiraram algum proveito positivo disso. Os testemunhos são acompanhados de duas fotografias: a maior mostra como elas estão atualmente, a mais pequena remonta a um período antes do diagnóstico.
“O bom que a doença trouxe à minha vida? Descobri ter uma força e garra incríveis e que no meio de queda de cabelo, enjoos e dores, se consegue rir e viver muito! Por muitos momentos em que estejamos mal, estamos vivos, isso vale muito! Aprendi e aprendo todos os dias a estabelecer prioridades, a viver cada dia intensamente, a ser feliz com as mais pequenas coisas! Tive a certeza do mundo incrível que me é próximo, com direito a um copo cheio de escovas de dentes na minha casa de banho, a amigos que passaram aqueles meses comigo, a pessoas novas que conheci, experiências que partilhei, pessoas que ajudei. Lutei com um milhão de sorrisos, o meu e o de todos que me acompanharam nesta caminhada, e daí resultou a minha remissão.”
“Ter tido cancro foi um processo de aprendizagem, libertação e de modificação da minha vida. Dois anos após me ter sido diagnosticado cancro da mama resolvi candidatar-me ao ensino superior, fui fazendo as disciplinas sem stress e neste momento falta-me o segundo semestre para concluir a licenciatura. Hoje encontro-me separada, vivo uma vida calma e feliz com a minha filha, com muita esperança no futuro, sem medo de viver, desejando ser muito feliz e acreditando que o melhor da minha vida “ainda está por vir”. Acredito na vida, e não tenho medo de viver, na doença penso às vezes, mas não quero viver de medos, por isso logo desvio o pensamento. Eu quero mesmo é viver e ser feliz e é nisso que quero acreditar.”
“O cancro mudou tudo e no fundo não mudou nada. Quanto ao psicológico e à maneira de ver as coisas sem dúvida que posso afirmar que o cancro me fez ver o que é realmente importante, a relativizar todos os problemas, a ver o amor inexplicável que a minha família tem por mim, e o apoio dos verdadeiros amigos. Aprendi com este mal a dar valor ao que verdadeiramente tem valor. Esta foi uma luta que me mostrou a força que tenho em mim para vencer quaisquer outras que se me apresentem. Mas nada mudou. O cabelo voltou a crescer lindo, o peso voltou ao normal (com muito esforço), os hematomas curaram e as cicatrizes passaram a fazer parte da pele e a confiança reinstalou-se. Com o cancro, aprendi a ser mulher. Com o cancro, a mais infeliz das palavras, aprendi a ser feliz.”
“A primeira vez que comecei a ver o lado positivo desta experiência foi em casa da minha avó. Estava a família toda empenhada em fazer as limpezas à casa, falavam alto e riam muito. E eu a observar aquele cenário apercebi-me que a família não se juntava assim há anos. Nesse momento eu agradeci pelo cancro. Não parece lógico, mas senti-me feliz por ter passado por uma experiência horrível só para compensar aquele momento. Tornei-me sem dúvida uma pessoa melhor e estou muito mais próxima de minha família. Não trocaria por nada o que ganhei e no que me tornei depois do cancro. O cancro faz triagem, tira o que está a mais!”
“Depois de um diagnóstico de cancro tudo passa a ser diferente. Aprendemos a relativizar os grandes problemas, a dar mais importância a pequenas coisas que nos fazem felizes, renascemos para a vida e vamos vivendo o dia-a-dia com outra energia, dedicando mais tempo àquilo que nos dá prazer e faz felizes. O cancro ensinou-me a compreender melhor os outros e a dar mais valor a algumas pessoas. Depois de passar pela experiência do cancro da mama, julgo poder dizer que a minha vida ganhou outro significado, as minhas prioridades mudaram e ganhei uma força e vontade de viver muito maior.”
“Quando te dizem ‘tens cancro’, a vida parece virar-se do avesso! E não é que o avesso até não é assim tão feio e medonho? O meu não foi! Perdi uma mama. E depois? Nunca me senti menos mulher por isso. Mamas põem-se e tiram-se à vontade do ‘cliente’! Fiquei careca. E depois? O cabelo cresce rápido e eu adorava ver-me careca. Dói? Sim… Foi difícil? Sim… É superável? Sim! Não acho que haja uma Tânia antes e depois do cancro, mas há uma Tânia mais forte, mais positiva, com medo de muito pouca coisa. O que de melhor me deu o cancro? Sem dúvida, o experimentar dos sentimentos enormes de amor e amizade que recebo da minha família e dos meus amigos, que nunca imaginei ser possível receber e retribuir.”
“Sempre fui uma pessoa muito otimista e feliz graças à infância feliz que tive. E pelo facto de já ser uma criança traquina e bem-disposta sempre vivi de uma forma descontraída, aproveitando tudo o que me surgia, encarando-o como recompensa ou ensinamento! Acho que esta fase menos boa se tratou de facto de um ensinamento! Hoje vivo a vida mais feliz pois esta pedra que surgiu no meu caminho mostrou-me o verdadeiro sentido da vida, a importância da família, do amor e dos verdadeiros amigos. Aprendi a viver ao milésimo de segundo e a ver quem são os verdadeiros amigos e muitos novos surgiram e passaram a ocupar um lugar de destaque.”
“Neste meu percurso, a família ficou ainda mais unida, amigos passaram a família e conhecidos passaram a amigos. Houve também amigos que deixaram de o ser. Cresci, amadureci, comecei a fazer uma triagem do que verdadeiramente seria importante e aumentei a minha autoestima, pois nunca pensei que fosse ter forças e ser capaz de enfrentar um cancro. O caminho continua, o foco também, porque cada dia é uma vitória e deve ser agradecido. Psicologicamente estou muito muito desgastada agora, mas a ganhar diariamente vida! Estou-me a reorganizar, a encontrar e reencontrar. Ao meu ritmo, vou dando passos de vitória.”