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O concerto de The Legendary Tigerman no Coliseu dos Recreios encerrou a edição deste ano do Super Bock em Stock
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O concerto de The Legendary Tigerman no Coliseu dos Recreios encerrou a edição deste ano do Super Bock em Stock

Marta Bao / World Academy

O concerto de The Legendary Tigerman no Coliseu dos Recreios encerrou a edição deste ano do Super Bock em Stock

Marta Bao / World Academy

Tigres selvagens, fado para turistas e a patroa Jehnny: um diário de bordo no Super Bock em Stock

Este é o relato hora a hora de uma repórter em marcha pela Avenida da Liberdade. Fim de semana de festival morno, num roteiro feito de escolhas, com apostas vencedoras e alguns tiros ao lado.

Super Bock em Stock é sinónimo de debandada por Lisboa. Nesta décima quinta edição, foram mais de 40 concertos em dois dias, espalhados em torno da Avenida da Liberdade. Felizmente, filas intermináveis à porta nem vê-las. Longe vão os tempos em que o festival mobilizava os melómanos de todos os cantos da capital e arredores. O cartaz não era particularmente memorável e o preço (€52) afastava as carteiras mais contidas (ou a pensar noutras despesas). Entre alguns tiros ao lado e outros certeiros, este foi o resumo de duas noites algo sensaboronas do festival, hora a hora (além da certeza de que faltar ao concerto de Valete talvez tenha sido um grande erro, mas assim se aprende).

Sexta-feira, 24 de novembro

21h30: Saio da estação de metro e descubro que já é Natal no Rossio. Opto por ignorar o mercadinho e sigo direta até à Ginjinha sem Rival, onde duas italianas amontoam ginjas nos copos como se fossem berlindes. Parecem intrigadas com o fruto, até que lhes explicamos que não há mal nenhum em comer as ginjas. Elas lá vão trincando uma a uma, primeiro desconfiadas, depois convencidas. Talvez lhes devêssemos ter dito que é no fruto que o álcool mais gruda. Elas lá descobrirão sozinhas.

21h50: Decido começar o meu Super Bock em Stock na Casa do Alentejo. A voz que se ouve é a de Soraia Cardoso, habitué da casa de fados Sr. Vinho e ex-concorrente do The Voice. A acústica não fez jus aos dotes de Soraia, que ali foi desembrenhando os “greatest hits” do cancioneiro nacional como se estivesse a fazer um menu de degustação de fados para turistas.

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21h55: O público falava cada vez mais alto, de tal modo que a certo ponto, uma pessoa indignada resolve soltar um “shhhh”, lembrando que ali se dava um concerto e não um mingle da Web Summit.

22h: Há tanto ruído à minha volta que me afasto do pátio para ir pedir uma imperial (é preciso seguir o regionalismo). Bebo-a junto à oliveira solitária da Casa do Alentejo, enquanto passo os olhos pelo programa. Não tarda, despeço-me daquele lugar, ao som de “lararais” — Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado – para me posicionar na fila do Coliseu. Soube a pouco este primeiro encontro com Soraia Cardoso. Fica para uma próxima oportunidade, talvez no Sr. Vinho.

Soraia Cardoso

Marta Bao / World Academy

22h30: Afinal não há fila no Coliseu. De repente, tudo parece mais fácil.

22h35: Faltam cinco minutos para o concerto dos Gilsons começar e apercebo-me de que me esqueci de beber a água que carregava comigo. “Isso não pode entrar”, advertiu-me a segurança como se eu levasse na carteira uma navalha de ponta-e-mola. A proibição de as pessoas entrarem com garrafas de água nos concertos por parte dos promotores e das salas de espetáculos é uma prática que mexe cada vez mais com os meus nervos. Nisto, vem-me à cabeça a notícia recente da morte da fã de Taylor Swift por desidratação no Rio de Janeiro, acontecimento que levou o governo brasileiro a decretar a permissão de “entrada de garrafas de água de uso pessoal, em material adequado” nos espetáculos. Para quando igual medida em Portugal?

22h40: Fintado este percalço, prostro-me a seco, no meio da plateia, para ver os Gilsons. Estão vestidos de branco Baía, eles e a sua banda, com exceção do teclista que parece ter faltado ao briefing sobre o dress code. Mais uma vez, o som deixa muito a desejar neste festival.

22h41: Pra Gente Acordar foi o primeiro tema com que José, Fran e João nos brindaram e, logo aí, foi notória a maioria feminina na audiência. Viam-se também alguns casais espalhados, braço na cintura lembrando, quiçá, aquela lua de mel no Recife ou em Fortaleza. Outros pareciam ter caído no Coliseu por engano, como o rapaz que, envergando uma camisola dos Tara Perdida, se fez menir durante quase meia hora até abandonar com desilusão a sala. Olhei-o com alguma empatia, a bem dizer. O concerto, longe de ter sido empolgante, deixou uma sensação de redundância no ar. Não pude deixar de pensar que se este trio – quais Hanson do Brasil, só que com intervalos geracionais – não fosse herdeiro de Gilberto Gil (filho e netos, respetivamente), talvez não tivesse granjeado tanta atenção mediática.

23h: “A gente está realizando um sonho”, diz José para introduzir Devagarinho, canção que levou uma pessoa à nossa frente a sacar de um telemóvel para fazer uma vídeo chamada. A menina de pijama que apareceu no ecrã, com cara de gripe, fungou de felicidade. Por uns breves minutos, ela também esteve no Super Bock em Stock.

23h15: Depois de passarem por temas do último álbum – Pra Gente Acordar (2022) – os Gilsons recuaram no tempo, chamando a cena o EP Várias Queixas (2019). Primeiro com Vento Alecrim, depois com Cores e Nomes. Segue-se Índia, tema gravado com Júlia Mestre, menina arrepiada dos Bala Desejo. Observo o fundo do palco, onde ora aparece um screen saver de céu azul com nuvens brancas, ora um vídeo curto, em loop, em que os três Gilsons se mostram como se fossem modelos de um anúncio da Zara. Ou então protagonistas de uma qualquer novela da Globo, com banda sonora da Deborah Blando e dos Jota Quest.

Os Gilsons

Diogo Pereira

23h20: Foi quando os Gilsons decidiram “esquentar” a sala, que eu me pus a andar. A versão da Swing do Campo Grande, dos Novos Baianos, foi tudo o que os Novos Baianos não são: papa mastigada. Após o final, hora de migrar para o Cinema São Jorge.

23h25: Reparo que um dos padrões da calçada portuguesa da Avenida da Liberdade se assemelha a uma folha de Plátano. A tal que aparece na bandeira do Canadá, país de onde vem o próximo convidado da noite.

23h28: Há um turista a fazer xixi contra uma árvore da Avenida da Liberdade. Deliberada e descaradamente. Ignora o reparo que lhe faço, limitando-se a fazer scroll no telemóvel depois de terminar o seu monólogo triste. Será que está a marcar com uma coordenada GPS o sítio onde mictou? Pergunto-me quantas pessoas terão sido multadas por urinar no espaço público no último ano (sim, em Lisboa a lei prevê multas que vão dos €150 aos €1500). Duvido que cheguem aos dedos de uma mão.

23h33: Chego ao São Jorge, peço uma cerveja para recuperar da caminhada e sou barrada pela segunda vez à entrada de uma sala. Neste caso, não me irrito. Cerveja não é água e, se é para matar a sede, já se sabe que não é com uma nem com outra, mas sim com Vinho Verde, como diria Chico da Tina.

23h45: Entro finalmente na sala Manoel de Oliveira, pouco depois do início do concerto de Will Butler com os seus Sisters Squares. Mal ponho um pé lá dentro, tenho uma assistente de sala a vir desembestada na minha direção, exigindo-me que me vá sentar imediatamente num lugar. “Tem que escolher rápido, tem que escolher rápido”. Ela mal respira, como se a humanidade dependesse daquela missão. E eu lá vou aflita, ocupando a primeira clareia que vejo, para que a senhora não tenha nenhum piripaque.

23h52: Tirando os fãs mais atentos, percebemos que muita gente deve ter ido ver Will Butler pensando que ele era o outro. Ou seja, o seu irmão Win, vocalista dos Arcade Fire. Will fez parte da banda canadiana até 2022, momento em que decidiu “começar algo novo”. Já com três álbuns em nome próprio editados – Policy (2015), Friday Night (2016) e Generations (2020) – foi, contudo, o disco Will Butler + Sisters Squares, lançado este ano, o verdadeiro motivo da sua vinda ao Super Bock em Stock e o verdadeiro virar de página para uma nova fase da carreira.

Will Butler

Geraldo Ferreira / World Academy

00h: Enérgico em palco, como é apanágio seu, Butler entusiasma a plateia ao ponto de pôr toda a gente a dançar. Já ninguém quer saber do seu lugar. A assistente de sala deve estar inconsolável.

00h02: Constato que o caminho novo de Will Butler não é propriamente uma grande novidade. Baralhando e voltando a dar, tudo se resume a um revivalismo do post-punk britânico dos anos 70, misturado com a febre do indie nova iorquino do início dos anos 2000 e uma pastiche um pouco tosca dos Arcade Fire. Não admira que muitos ali naquela sala pensassem que ele era o outro.

00h05: Abandonei o Cinema São Jorge, pouco eufórica, esperando que no Capitólio O Ghettão me abanasse os ossos, como o corpo já pedia há muito.

00h15: O concerto já tinha começado há 15 minutos, mas o Capitólio estava desoladamente vazio. No palco, Nigga Fox, Danifox e Firmeza sentavam-se à volta de uma mesa comprida como se cada um estivesse na sua estação de gaming. A assistir, estavam, ao que parece, os amigos dos três DJs e outras almas perdidas que, tal como eu, pensavam que iam entrar num grande festão.

O Ghettão

Marta Bao / World Academy

00h20: Mas não. A festa estava morna, embora a culpa nem fosse dos DJs que estrearam o projeto Ghettão em 2022, no Lux Frágil. A batida estava boa, mas a sala vazia matou o clima. Ainda não era desta que o festival me ia proporcionar um momento apoteótico.

00h30: Decido apostar as fichas todas em Batida + Bonga e regresso ao Coliseu. A fórmula não tem por onde errar.

01h: É então que se dá a terceira interpelação da noite. Desta vez não posso entrar na sala, porque estou na fila errada. “Como assim, se ainda há pouco entrei por aqui?”. Tentei fazer ver a assistente de que, uma vez ali, não valia a pena mandar-me dar meia volta, até porque ambos os acessos iam dar ao mesmo sítio. Nada feito, ordens são ordens e o seu cumprimento é cego.

01h02: Agora é a pessoa que está comigo que não pode entrar, porque embora a tenham recambiado para a entrada de imprensa, afinal a pulseira dela era de público geral. Talvez fazer duas pulseiras praticamente iguais, com a diferença de um pormenor cor laranja e vermelho, respetivamente, não seja uma grande ideia. Como também não é grande ideia mandarem pessoas de um lado para o outro com um exagerado tom militarista, como se elas fossem sacos de batatas. Não é um drama de fim de mundo, já sei, tudo se resolve, mas lá que mói, mói.

01h12: Devido à tamanha confusão, entrei no Coliseu já com o concerto a decorrer. Bonga e Batida estavam sentados numa mesa, tal como Nigga Fox, Danifox e Firmeza. Será que viemos parar ao Festival Para Gente Sentada?

Pedro Coquenão (Batida) e Bonga

Geraldo Ferreira / World Academy

01h16: A sala estava boa, as pessoas dançavam com vontade, tentando salvar uma morna noite de concertos, mas algo ali não fazia muito sentido.

(01h18h: Aquele momento em que Batida explica que aquilo que Bonga tem na mão não é um reco reco, mas sim uma Dikanza, instrumento da cultura angolana.) 

01h19: Estava eu a dizer que, embora o pessoal dançasse com vontade, algo ali não fazia muito sentido. Bonga – neste caso, o “DJ cota”, como Batida carinhosamente o chamava – comandava as operações e ia introduzindo no set vários êxitos seus. Porém, há algo de insólito em ouvir uma gravação de Bonga com o próprio Bonga, em carne e osso, em palco, a fazer karaoke com a sua Dikanza na mão. Batida, por seu lado, brincava com sons e ritmos como uma criança a brincar com o seu primeiro teclado didático. Ele lá nos pedia para mantermos o balanço, mas faltou algum entrosamento entre os dois músicos, denotando talvez a ausência de uma verdadeira reflexão sobre o que poderia ter sido aquele DJ Set

02h00: Os sucessos foram desfilando até à derradeira Tenho uma lágrima no canto do olho. Não fui embora da primeira noite do Super Bock em Stock a chorar, mas poucos motivos tive para sorrir.

Sábado, 25 de novembro

20h50: Jehnny Beth começava às 20h40, mas só consegui entrar no Coliseu às nove em ponto. Para trás ficara uma viagem de táxi que pareceu uma corrida de obstáculos e um café num dos poucos sítios daquela zona não destinado exclusivamente a turistas. Aí, ouvimos um empregado a dizer a outro que o seu primeiro concerto no Coliseu tinha sido o dos Sitiados. Paguei o café a cantarolar mentalmente Esta vida de marinheiro.

20h55: Uma amiga mandava-me a seguinte mensagem: “Estava pouca gente quando começou, mas agora está mais composto”.

21h00: O mais composto a que ela se referia era, percebi quando entrei, algo à volta das 100 pessoas. Portanto, quando Jehnny Beth subiu a palco, não deve ter visto mais de duas dezenas de pessoas a olhar para si. Quão desolador será para um artista tocar para uma sala vazia?

21h02: Porém, o que a ex-vocalista das Savages fez só engrandeceu ainda mais a sua já de si eletrizante performance. Ela deu-se ao público como se o Coliseu estivesse a abarrotar, não poupando nem no suor, nem na garra ou na tensão sexual.

Jenny Beth

Mafalda Jacob / World Academy

21h15: Surge uma versão do tema Closer, dos Nine Inch Nails, e é o devaneio total. Fossemos menos púdicos, poder-se-ia ter escrito naquele momento um lado B do Kamasutra.

21h30: Agora Jehnny Beth, de cabelo completamente encharcado, calças de licra pretas apertadas, pede-nos para a ajudarmos em inglês More Adrenaline, manda-nos gritar. Nós obedecemos e ela atira-se para o meio do público, que lhe abre uma roda, cantando olhos nos olhos com cada um de nós. No final diria que o nosso inglês é muito melhor do que o do público de Paris. No shit?

21h35: Despede-se com I’m the Man, do álbum To Love is To Live (2020), naquele que foi o último concerto desta digressão. “Adoro tocar aqui” e nós adoramo-la ouvir. Merecia ter enchido a sala. Até agora, de longe o melhor concerto do Super Bock em Stock.

21h45: Saio meia atordoada do Coliseu, duvidando da capacidade de ir até ao Capitólio para ver Valete. Preciso de uma cerveja para digerir Beth, a Casa do Alentejo é aqui ao lado e, ainda para mais, tem Tagua Tagua a começar dentro de instantes. O tempo certo para me recompor até voltar ao Coliseu para ver Anna Calvi. Desculpa Valete, terá de ficar para a próxima.

22h10: Tagua Tagua veio apresentar o seu último álbum, Tanto (2023), sucessor do muito elogiado Inteiro Metade (2020). Acontece que no caso de Inteiro Metade, Felipe Puperi (de seu nome próprio) ficou a ganhar ao vivo com a presença de uma secção de sopros, que deu corpo ao seu rock brasileiro com tiques de funk e r&b. Hoje mostrou-se com uma formação reduzida, numa onda muito mais psicadélica e sonhadora que, no meio do ruído da Casa do Alentejo, se perdeu por completo. O som – mais uma vez – não ajudou o músico brasileiro e o público foi, a pouco e pouco, desistindo dele. “É o Tame Impala do Rio Grande do Sul”, disse uma rapariga ao meu lado, virando a cara para ir buscar uma cerveja. Infelizmente, não iríamos ter muito mais daqui.

Tagua Tagua

Mafalda Jacob / World Academy

22h20: Recebo uma mensagem de uma amiga a dizer que está uma “valente enchente” em Valete. Aparentemente, faltei à única enchente deste festival.

22h30: Outra mensagem: “ele está a homenagear a Sara Tavares”. Pronto, se calhar deveria ter ido lá. Tarde demais. Anna Calvi está quase a começar.

22h40: É verdade que a cantautora britânica não está propriamente no seu auge da carreira, mas não são precisos muitos pretextos para ver Calvi ao vivo. Um EP (Tommy) (2022), com temas escritos para a série Peaky Blinders é razão suficiente para lhe prestarmos atenção.

22h43: Ao segundo tema, dá-nos Suzanne & I. Mais de 10 anos depois, a malha do seu álbum homónimo de estreia continua a ser uma belíssima canção. O tempo passa bem por Calvi.

Anna Calvi

Marta Bao / World Academy

22h50: Passeando-se por One Breath (2013) e Hunter (2018), Anna Calvi mostra que continua imaculada na guitarra e no seu fato noir de diva do rock. Domínio total das cordas, da voz, da postura, nada a apontar. Em Desire os telemóveis erguem-se e os coros também. Claramente, essa será sempre a “toca aquela” de qualquer alinhamento de Calvi.

23h20: Está tudo tão certo nesta atuação, tão demasiado certo que o meu entusiasmo começa a esmorecer. Calvi limita-se a atirar-nos canções como se fosse uma cassete, uma gravação de estúdio de si mesma, esquecendo-se de nos dar um pouco de calor humano, uma falha, uma greta qualquer palpável que torne este momento “memorável”. Saiu inexpressiva com Ghost Rider, tema dos Suicide, fechando um concerto imaculadamente robótico.

23h50: Paragem no café Casulo para comer um rissol. Há quem peça uma empada de frango e se arrependa de imediato: tem mais ossos do que carne. Um concelho de amiga: se forem ao Casulo, não se enganem, peçam sempre o rissol.

00h10: Aproximo-me do Capitólio, pensando encontrar a “valente enchente” que há poucas horas saudava Valete e os seus convidados (Black Company, Moullinex e Papillon).

00h12: Aparentemente, foi-se toda a gente embora. Smoke DZA vinha diretamente de Nova Iorque “to rock in Lisbon”, mas não havia nenhuma multidão para o receber.

Smoke DZA

00h24: O rapper pega no telemóvel para fazer uma videochamada. “É o momento de ligar à mãe”, ouço ao meu lado. É o momento de abalar.

00h45: Casa composta para receber The Legendary Tigerman no Coliseu, o último concerto do Super Rock em Stock. Foi precisamente no festival irmão, o Super Bock Super Rock, que Paulo Furtado apresentou o seu último álbum, Zeitgeist (2023). Para essa ocasião levou uma série de convidados. Desta vez, iria ser mais comedido.

00h50: Ainda assim, tivemos direito a uma entrada com uma presença de peso: Everyone, trouxe novamente Jehnny Beth a palco. Já sem calças de licra, já sem a adrenalina do início da noite, mas com a gravidade que se impunha e entrega total ao momento. Tudo aquilo que faltou a Anna Calvi.

00h55: New Love, que em álbum tem a voz de Cat, dos Best Youth, desta feita foi interpretada por Sara Badalo. A cantora algarvia faz parte da nova formação do homem tigre e cabe-lhe a ela incorporar todas as vozes femininas que algum dia cantaram com Furtado. A tarefa não é fácil, mas Sara parece não ter medo.

01h05: Adorava perceber o que Paulo Furtado nos diz nos intervalos entre temas, mas o som está tão mau que tudo o que chega ao lado de cá é uma massa completamente impercetível de palavras. Estamos debaixo de água a jogar ao “decifra o que eu digo”.

Sara Badalo e Paulo Furtado (The Legendary Tigerman)

Marta Bao / World Academy

01h14: O rock de Tigerman, mesmo quando abre o flanco aos sintetizadores – como aconteceu em Zeitgeist – parece não ter prazo de validade. Em qualquer contexto, Furtado consegue ter o público na mão e levá-lo a entrar no ritual tântrico das suas canções lascivas, sujas, desenhadas entre o deserto americano e os clubes underground de Paris.

01h20: Há um senhor a dormir, sentado nas laterais. Ou será que está só de olhos fechados?

01h40: Ray entra, acelerado, para cantar Bright Light Big City. Não sei o que ele tomou, mas devia ser bom.

01h45: Sara Badalo está a dar tudo em These Boots Were Made For Walking, o tema de karaoke do concerto de Tigerman. Está a dar tanto que, intimamente, gostava que desse um pouquinho menos. Sou daquelas que prefere a contenção e a profundidade ao virtuosismo desmedido e, nesse sentido, fico um pouco desconcertada com Sara Badalo. Um caso típico de “o problema não és tu, sou eu”.

01h47: Há uma francesa na plateia que tem um apito irritante na boca. Quando vê Tigerman a descer para a plateia, tal e qual Jehnny Beth tinha feito no seu concerto anterior, corre qual comboio desgovernado em direção a ele, para ter o um momento íntimo com Paulo Furtado ao som de Losers. É o seu taste of glory.

01h53: Tigerman diz mais qualquer coisa ao microfone. Deve-se estar a despedir. Nunca saberemos quais foram as suas derradeiras palavras. Digo adeus ao Super Bock em Stock sem guardar saudade. Jehnny Beth salvou a honra do festival, mas esta edição – tal e qual a final da Liga dos Campeões deste ano – não ficará para a história.

 
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