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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Uma manif como brunch, a promessa de processos e o tabu do treinador: a conferência de Bruno de Carvalho, nas entrelinhas

Bruno de Carvalho recuperou o discurso mais duro com opositores e mais agressivo na sua defesa, deixando ameaças de processos, definindo novos alvos além do "principal" e criando um tabu.

Bruno de Carvalho voltou ao auditório Artur Agostinho, cinco dias depois. Provavelmente, e com notícias de mais buscas no Benfica, no dia menos provável que isso acontecesse. Garantidamente, e depois do que aconteceu no universo Sporting nas últimas 24 horas, no momento mais provável que isso acontecesse. E surgiu, ao contrário das últimas aparições públicas, numa versão mais próxima do que costuma ser a regra (confirmando que a postura mais “calma” foi mesmo uma exceção): mais solto, mais direto na mensagem, mais agressivo nas palavras. Em resumo, o que disse? O que muitos, ou quase todos, já tinham percebido: por mais pedidos que façam, não se demite nem vai conter disparos contra quem o visar.

Durante cerca de 40 minutos, com uma breve interrupção para que Fernando Correia, porta-voz do presidente, pudesse ler alguns artigos de opinião ou comentários para demonstrar que quatro dos cinco elementos nomeados para a Comissão de Fiscalização (“que não existe”) “não são isentos”, o líder verde e branco abordou todos os assuntos do momento, da posição da Mesa da Assembleia Geral e de Jaime Marta Soares à demissão de Guilherme Pinheiro da SAD, passando pela saída de Jorge Jesus e pelas eventuais rescisões de jogadores, “fugindo” apenas às características que procura no novo treinador.

As declarações de Bruno de Carvalho estão a itálico e a interpretação e o comentário estão a amarelo:

“Começo por saudar os sportinguistas. Era bom que não tivéssemos de fazer esta conferência quando rebenta mais um escândalo no nosso rival, mas tem de ser a bem da verdade e do Sporting”

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Uma frase, uma assunção: Bruno de Carvalho sabe que, do ponto de vista institucional e comunicacional, o timing da conferência é mau. Aliás, provavelmente terá escolhido mesmo o dia que tinha tudo para ser dos mais calmos a nível de clube dos últimos tempos, por ter como "guarda-chuva" a questão das buscas na Luz e da consequente constituição de seis elementos num caso onde existem suspeitas de fraude fiscal e branqueamento, para responder. Não aguentou. E pelo que se percebe, fez isso mesmo de forma consciente. Ou seja, considerou que seria mais importante reagir e recolocar holofotes no Sporting do que deixá-los apenas concentrados no rival.

"Somos um órgão que foi eleito pelos sportinguistas e nós é que não cumprimos a parte da democracia?" JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“De repente, ao ouvir uma série de sportinguistas naquele brunch em Alvalade, como Daniel Oliveira, fiquei com sensação que as pessoas não sabem o que se está a passar. Rescisões? Quando nos sentámos com os órgãos sociais, foram propostos 60 dias até às eleições. Ou seja, julho. O período de rescisão acaba a 14 de junho, logo é um argumento falso. Somos um órgão que foi eleito pelos sportinguistas e nós é que não cumprimos a parte da democracia? Se eles se demitiram, se não acreditam mais no projeto, adeus. Quem afastou a Mesa e o Conselho Fiscal foram os próprios. O Manuel Moura dos Santos a pedir ao Governo para tirar a utilidade pública ao Sporting, têm noção das barbaridades que dizem? Mas está toda a gente maluca?”

A primeira intervenção de Bruno de Carvalho funcionou como uma rajada com três objetivos muito precisos: 1) relativizar, ou mesmo minimizar, a manifestação com cerca de 500 pessoas que foi realizada à porta do Edifício Visconde de Alvalade na passada segunda-feira, que apelidou de "brunch"; 2) apontar armas a uma das personalidades que mais apoio demonstrou até determinada altura, o jornalista e comentador Daniel Oliveira, que se juntou também ao protesto e que tem escrito vários artigos a criticar a postura do presidente – sendo que, mesmo utilizando expressões como “pessoa muito intelectual”, “pseudo-intelectual” e “arauto do pseudo-intelectualismo”, prova também que é alguém a quem reconhece um relevo diferente entre as dezenas de vozes que se levantaram contra si nas últimas semanas; 3) reforçar a ideia que tem vindo a defender sempre de que não existe falta de democracia no clube (continuando, ainda assim, sem explicar o que são e para que servem as oito alterações estatutárias previstas na Assembleia Geral Ordinária de dia 17).

“Ontem sentam-se umas pessoas numa mesa e não falam da Assembleia Geral do orçamento que é obrigatória! Eles demitiram-se e nós tomámos decisões. Não é com cartas labregas a ofender pessoas que se vai a algum lado. Se acham que a Comissão Transitória é ilegal, vão para os tribunais mas nunca mais usam o logo do Sporting para conferências e anúncios de assembleias gerais. Estão a subverter tudo. Querem uma assembleia geral destitutiva? Entreguem as assinaturas e os preceitos legais, o primeiro subscritor pode estar presente a verificar tudo e assim fazemos. Estamos a tirar a voz a quem? Somos os únicos em funções e legitimados, com 87% em eleições e 90% numa assembleia geral. Não mandámos ninguém embora, eles demitiram-se porque quiseram. A partir daí, justiça e deixem o Sporting em paz! Está marcada uma Assembleia Geral para dia 17 que é obrigatória, um dos pontos vai ser ouvir os sportinguistas, e uma outra eleitoral dia 21 de julho para quem se foi embora. Sócios do Sporting, aquela Assembleia Geral de dia 23 não vai haver! Não vai haver!”

Mais à frente na conferência, Bruno de Carvalho chegou mesmo a apelidar a conferência desta terça-feira, organizada num hotel em Lisboa pela Mesa da Assembleia Geral demissionária e pela Comissão de Fiscalização por si nomeada, de "ridícula". Neste momento, na ideia mais agressiva, fez menção a "cartas labregas a ofender pessoas". Em que pensou o presidente verde e branco? Sabendo que tem total razão na necessidade de fazer uma Assembleia Geral Ordinária até 30 de junho para aprovação do orçamento para a próxima temporada (a tal marcada para dia 17), conforme defendem os estatutos, ataca a legitimidade da Assembleia Geral Extraordinária marcada por Jaime Marta Soares, enquanto líder demissionário da Mesa, para dia 23 no Altice Arena e tenta fazer passar a ideia que tudo o que é feito do outro lado da "barricada" é ilegal. Assim, e nesse cenário, volta a inverter o desafio que lhe tem sido lançado: em vez de apresentar a demissão e haver eleições, lança o repto para que surja o dito pedido de Assembleia Geral Extraordinário destitutiva, pedida pelos sócios, à Comissão Transitória da Mesa. Com outra "nuance" – quem fizer isso acaba por legitimar as decisões tomadas pela Direção em relação à Mesa.

“Não estamos em guerra nenhuma, nós estamos a trabalhar e eles estão a incomodar. Vão para tribunal: dá razão ótimo, não dá excelente. Os anti democratas são todos aqueles que falaram até agora que não nós. Até a justiça falar, têm de acatar. Nós não concordamos com algumas coisas que o Governo faz mas acatamos! Não vale a pena manifestações pró nem contra, temos as Assembleias Gerais. Chega de andar a brincar, chega!”

Bruno de Carvalho utilizou como ponto de partida da comunicação uma ideia muito concreta: o "fantasma" das possíveis rescisões unilaterais de contrato de jogadores, que tem como prazo o dia de 14 de junho, não pode ser utilizado como ameaça para a sua saída porque, na última reunião dos órgãos sociais, Jaime Marta Soares tinha proposto um ato eleitoral no final de agosto ou no início de setembro assegurando que não haveria qualquer Comissão de Gestão e que a Direção poderia ficar com plenos poderes. Juntando a isso as Assembleias Gerais já convocadas pelo Conselho Diretivo, parte para outro ponto: deixar de forma assumida que os tribunais decidam as providências cautelares que já deram entrada e, enquanto não existe uma resposta, ir preparando as obrigações a nível de clube e SAD, a nível desportivo e financeiro. O líder leonino continua a crer que o tempo joga a seu favor em todo este processo, pensando no breve prazo e passando ao lado de quem pensa que essa ideia lhe vai condicionar o mandato a médio/longo prazo. Assim, o objetivo passa por esvaziar o "burburinho" diário em torno do Sporting.

"Não vale a pena manifestações pró nem contra, temos as Assembleias Gerais" JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Jaime Marta Soares, ex-presidente da MAG, quando ainda era presidente quis marcar uma Assembleia que não previa nenhuma assinatura. E disse que era por ele, porque queria preservar a identidade dos associados. Apanhou-nos em Faro e vinha reconhecer o quê? Queria afinal mudar o artigo? É um embuste! Utilizou uma alínea ilegal, não ia ouvir os sócios, até traiu os sócios. Já tinha dito várias vezes que tudo isto que estava a ser feito coloca em causa algo que também tinha a ver com questões de tesouraria. Isto que estão a fazer é um assalto! A responsabilidade da operação do empréstimo obrigacionista estar parada deve-se a Jaime Marta Soares, sendo que esta semana está numa notícia onde terá desviado dinheiro dos bombeiros… Era essa pessoa que estava à frente a Mesa? E é tão rápido a puxar do gatilho?”

Bruno de Carvalho vê em Jaime Marta Soares, figura em quem apostou em 2013 para a presidência da Mesa da Assembleia Geral (e novamente em 2017, na reeleição) mesmo sabendo que, enquanto conselheiro leonino, entre 2011 e 2013, teve várias intervenções críticas à sua postura depois da derrota nas urnas com Godinho Lopes, o principal alvo em relação ao que está a acontecer no Sporting. E volta a focar o nome do líder demissionário da Mesa em duas perspetivas diferentes: por um lado, aponta de novo o foco ao ponto que mais tem visado, e que diz respeito à marcação da Assembleia Geral de destituição não como uma reunião magna pedida pelos associados mas sim como uma vontade enquanto presidente da Mesa; por outro, levantou uma notícia que dava conta de um alegado desvio de verbas dos bombeiros sapadores.

“As pessoas vão ser responsabilizadas mas cá estaremos para resolver as coisas como sempre. Nunca pedi a demissão, como é que posso ser culpado? Eles estão fartos de ameaçar as pessoas que estão à minha volta mas não perceberam que vai dar processos cíveis contra eles. Nós havemos de resolver os problemas mas vão ter processos. Nunca apresentarei a demissão”

Não foi a primeira vez que ficou no ar essa possibilidade, mas, de forma taxativa, é a primeira vez que Bruno de Carvalho vai mais longe e diz que vai mover ações a todas as pessoas que, no seu entender, estão a originar o clima conturbado em Alvalade, sem especificar se as mesmas sairão do Sporting enquanto clube ou a título pessoal. Em paralelo, e neste caso num reforço de algo que tem dito nas últimas semanas, o líder leonino fala em pressões feitas aos outros elementos do Conselho Diretivo para que apresentem a demissão e façam com que o órgão ainda em funções possa cair por falta de quórum.

“Vou lembrar o que disse a comunicação: vai ser um drama, vai ter de pagar uma grande indemnização, depois porque Jesus ia apresentar rescisão etc. Entretanto, saiu, desejo o melhor, já combinei quando vier para Portugal irmos almoçar ao Ritz, ficam já a saber. Cada um seguiu o seu rumo, é isso (…) Perfil do novo treinador? Está definido o perfil, é homem!”

Bruno de Carvalho "matou" qualquer especulação que pudesse começasse a surgir a propósito dos motivos para a saída de Jorge Jesus quando tinha ainda mais um ano de contrato dando uma volta de 180º ao que estava em causa. Trocado por miúdos, o presidente do Sporting recordou as notícias que davam conta da falta de acordo para a revogação de contrato por acordo mútuo (como o técnico recusou na reunião após a derrota na Madeira frente ao Marítimo) e, posteriormente, da possibilidade de rescindir de forma unilateral como Rui Patrício e Podence fizeram para destacar o mérito que teve numa saída "limpa". Sobre o sucessor, pouco ou nada, mesmo sabendo-se, como o Observador, avançou que Luiz Felipe Scolari é uma hipótese muito forte, tendo já existido contactos exploratórios entre ambas as partes.

"Perfil do novo treinador? Está definido o perfil, é homem!" JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Guilherme Pinheiro? Era da SAD, não tem nada a ver com quóruns da Direção. Ponto 2: tinha três pelouros: ser o controller, o administrador que tinha a seu cargo a Academia e que tinha também a seu cargo as negociações com agentes e jogadores, engraçado… Não há nada no acordo que saindo o controller acaba, agora têm de mostrar mais nomes para escolhermos um. Escusam de andar muito contentes, uma coisa é o clube e outra a SAD”

A certa altura, Bruno de Carvalho quase que pediu para lhe perguntarem por Guilherme Pinheiro, administrador executivo da SAD que apresentou a renúncia ao cargo esta quarta-feira, como foi confirmado através de um comunicado enviado à CMVM. Para quê? Para poder deixar claro um ponto e "no ar" outro: 1) que, tratando-se de alguém que estava apenas na sociedade verde e branca, nada tem a ver com a questão do quórum que continua a manter o Conselho Diretivo em funções; 2) que o facto de ser o controller indicado pelos bancos não coloca nenhum acordo em causa, dependendo agora dos bancos apresentar uma lista de possíveis nomes para a substituição até o Sporting acatar um; 3) que era a pessoa que estava ligada à Academia e aos contratos dos jogadores, ou seja, aos dois grandes pilares de discussão em torno do Sporting... além da Direção.
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