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A edição deste ano da Web Summit está marcada para arrancar a 13 de novembro
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A edição deste ano da Web Summit está marcada para arrancar a 13 de novembro

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A edição deste ano da Web Summit está marcada para arrancar a 13 de novembro

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Web Summit tenta sobreviver a uma reputação “manchada” enquanto procura o seu próprio unicórnio

Paddy Cosgrave demitiu-se para evitar que “distrações” roubassem atenções à Web Summit, mas a turbulência ainda não terminou. Como se gere a crise enquanto se procura o substituto do CEO?

Um líder carismático, um evento de milhões e um tweet que, de repente, vira tudo do avesso. Os preparativos da edição de 2023 da Web Summit estavam praticamente fechados quando Paddy Cosgrave, em 280 caracteres, fez com que todas as polémicas suscitadas no passado em torno da cimeira (e não foram poucas) parecessem menores. Nunca uma crise tinha culminado com o vislumbre de uma demissão daquele que foi sempre o único rosto do evento que Lisboa vai acolher até 2028. Até à última semana. O “cancelamento” de Paddy Cosgrave por uma opinião sobre o conflito entre Israel e o Hamas deixou no ar a questão: conseguirá a criatura sobreviver à queda do criador?

Paddy Cosgrave demite-se da liderança da Web Summit

Paddy Cosgrave é conhecido por partilhar opiniões nas redes sociais, mas a situação que levou à sua demissão é diferente de outras polémicas a que já esteve associado, reconhece Tatiana Nunes, coordenadora do curso de Relações Públicas e Comunicação Empresarial (RPCE) da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS). “Foi uma afirmação infeliz que se transformou numa crise”, resume.

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A afirmação? “Os crimes de guerra são crimes de guerra mesmo que sejam cometidos por aliados”, escreveu no antigo Twitter, a 13 de outubro, quando estava no Qatar, que vai receber em 2024 a primeira Web Summit no Médio Oriente.

Rapidamente a posição do líder da Web Summit foi considerada como “pouco informada” em relação ao conflito entre Israel e o Hamas e começaram a circular os apelos ao cancelamento do evento. Sucederam-se também as desistências de oradores. O embaixador de Israel em Portugal disse, três dias depois do tweet de Cosgrave, que as afirmações do CEO eram “ultrajantes” e que Israel não iria participar na cimeira. A polémica instalou-se e não tinha nada que ver com as anteriores.

Da crise com Israel ao jantar no Panteão. Todas as polémicas que a Web Summit protagonizou em Lisboa

“A questão é que agora estamos a falar de uma emergência humanitária, em que temos crianças a morrer – é uma dimensão completamente diferente”, contextualiza a docente. “Sempre que está em causa a segurança, a saúde, a integridade de pessoas, as crises ganham uma dimensão muito maior.”

Com este tweet, feito na conta pessoal de Paddy Cosgrave, houve uma “confusão” entre os papéis do irlandês. “Quando o CEO, alguém que está à frente de uma organização, dá uma opinião, inevitavelmente fica ligada à organização e deixa de ser a opinião dele e passa a ser a posição” da empresa. Neste caso, a confusão era “inevitável”, diz Tatiana Nunes, “porque ele está a dar a cara pela Web Summit”.

Paddy Cosgrave diz que Web Summit vendeu “mais bilhetes do que em qualquer outra segunda-feira de 2023” após boicote de Israel

O pedido de desculpas surgiu, pouco depois. “Condeno, sem reservas, o repugnante e monstruoso ataque do Hamas de 7 de outubro. Apelo também à libertação incondicional de todos os reféns. Como pai, simpatizo profundamente com as famílias das vítimas deste ato terrível e lamento por todas as vidas inocentes perdidas neste e noutros conflitos”, escreveu no site da Web Summit. Mas de pouco valeu.

As desistências de participantes de peso da cimeira surgiram em catadupa. Google, Meta, Siemens, Intel, Amazon ou IBM declararam que a edição de 2023 da Web Summit não contaria com as suas presenças. No último sábado, 21 de outubro, Paddy Cosgrave demitiu-se do cargo de CEO, com efeitos imediatos. Com o fim de uma era, a cimeira perdia uma parte da identidade.

Para Gonçalo Carvalho, gestor de public affairs da agência de comunicação Guess What, o agora ex-líder da conferência é uma “figura de CEO de tal forma forte que se diluía na posição corporativa da empresa”. Nesta situação, “um caso com conotação negativa afetou a empresa, apesar da apresentação de desculpas”.

A colagem óbvia entre Paddy Cosgrave e a Web Summit deveria ter artilhado o CEO de outras cautelas. É isso que defende Fernando Pinto Santos, professor-coordenador e diretor do mestrado em Marketing e Tecnologia do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM). “Executivos com a visibilidade de Paddy Cosgrave têm naturalmente que ser cuidadosos quando expressam as suas opiniões, mesmo que o façam a título pessoal.” O professor lembra que, na realidade, o âmbito da esfera pessoal pode confundir-se com as responsabilidades empresariais – ainda mais neste caso. “Sendo co-fundador da Web Summit e tendo sido a face pública da marca ao longo dos anos, a associação de Paddy Cosgrave à Web Summit é natural.”

O legado de Paddy Cosgrave na Web Summit e os desafios que deixa ao próximo CEO

Pinto Santos nota que as opiniões, “mesmo a título individual, podem ganhar tanta visibilidade, sobretudo com as redes sociais, que surgem consequências difíceis de antecipar.” O cuidado online deve, assim, ser sempre uma prioridade. “As redes sociais têm uma lógica própria que amplifica estes problemáticas”, contextualiza, falando num local “onde falta espaço para as opiniões terem contexto” e com consequências que “podem levar a impactos reais”. E, lembra, “especialmente em assuntos políticos”, o cuidado com aquilo que se diz online “tem de ser ainda mais redobrado”.

Paddy Cosgrave até pode “não ter tido a intenção de posicionar a Web Summit politicamente”, crê Tatiana Nunes, mas, no fim, foi “um evento que não é político a assumir uma posição que é política”. A coordenadora da licenciatura de RCPE defende que tudo o que implica uma “tomada de posição é de evitar ao máximo”.

“As redes sociais têm uma lógica própria que amplifica estes problemáticas”, contextualiza Fernando Santos Pinto, do IPAM, falando num local “onde falta espaço para as opiniões terem contexto” e com consequências que “podem levar a impactos reais”.

A experiência de Cosgrave, sublinha Fernando Pinto, pode “com certeza” servir de lição a outros executivos para serem mais cuidadosos com aquilo “que mostram nas redes sociais”. “Paddy Cosgrave aprendeu esta lição da pior forma. O que é irónico, sendo ele uma pessoa que tanto beneficiou da tecnologia e do poder das redes sociais ao longo dos anos, e que agora cai em desgraça por causa de uma opinião expressa no X.”

Ouça aqui “A História do Dia” sobre a Web Summit

Web Summit #vaicorrertudobem?

Edição deste ano dará “pistas para o futuro”

“À data de hoje, a reputação [da Web Summit] está fortemente manchada”, reconhece Gonçalo Carvalho.  Só “com o decorrer desta edição”, acredita, é que será possível perceber se o evento vai sobreviver à turbulência causada pela publicação do seu co-fundador e ex-CEO. “Vai dar pistas para o futuro. Não quero ditar já sentença de morte, mas que as coisas ficam complicadas face a esta situação, sim.”

Na opinião de Gonçalo Carvalho, o “boicote do estado de Israel, de certa forma, sentenciou o futuro do evento tecnológico”. A desistência de gigantes a poucas semanas do evento também terá complicado a situação e, no entendimento deste especialista, poderá levar alguns participantes a analisar a ida a próximas edições do evento, se não houver o chamariz de tentar conquistar a atenção de gigantes. “Se o certame tinha como objetivo o networking entre startups, capitais e investidores de risco e grandes empresas que podiam ver potencial de startups e investir nelas, se já estamos a ver que há alguma reticência de alguns dos players mais importantes a participar, acho que é lícita a pergunta sobre qual é o futuro” do evento.

Já Fernando Pimenta, do IPAM, tem uma perspetiva diferente sobre os próximos tempos. “A Web Summit não era só o Paddy Cosgrave e vai com certeza continuar a ter muito sucesso”, acredita o docente. “Daqui a uns anos já quase ninguém se vai lembrar desta crise porque, entretanto, vão surgir muitas outras.”

epa09558150 CEO and co-founder of Web Summit, Paddy Cosgrave, speaks during the first day of the 2021 Web Summit in Lisbon, Portugal, 01 November 2021. More than 40,000 people participate in the 2021 Web Summit, considered the largest event of startups and technological entrepreneurship in the world, that takes place from 01 to 04 November.  EPA/ANTONIO COTRIM

Paddy Cosgrave demitiu-se da liderança no sábado. A ligação à empresa mantém-se, já que é o principal acionista

ANTONIO COTRIM/EPA

“É importantíssimo ter um rosto” novo na Web Summit

As movimentações desta polémica não têm passado despercebidas aos especialistas. Tatiana Nunes reconhece que a reação das empresas que “não querem estar presentes é perfeitamente expectável”, falando numa “posição de defesa” por parte das companhias.

IBM desiste de participar na Web Summit. Organização garante que há empresas que voltaram atrás na decisão (mas não se sabe quais)

A análise da docente é a de que houve uma “atitude boa, que foi pedir desculpa”, mas que agora terá de haver uma estratégia para perceber como posicionar e distanciar o evento das declarações do anterior CEO.

Também Fernando Pinto Santos fala no pedido de desculpas públicas como uma das etapas a seguir para “resolver a crise”. Porém, “por mais sinceras que tenham sido, o mal já estava feito”. “Há pouco a fazer, na realidade, com o grau de visibilidade que se criou”, reconhece. Aquilo que se seguiu, a demissão de Cosgrave, foi o “mais alto dos preços a pagar numa situação destas”.

Gonçalo Carvalho destaca que, agora, é “importantíssimo do ponto de vista da comunicação da marca ter um rosto” para suceder a Paddy Cosgrave. “Creio que a organização tem de ser rápida a atuar e a apresentar” uma nova figura.

A poucas semanas do evento, com início marcado para 13 de novembro, a organização da Web Summit explicou que, enquanto não é nomeado um novo CEO, haverá uma equipa de gestão, composta por executivos que já trabalham na empresa há vários anos, para assegurar as operações da edição 2023. São esperadas 70 mil pessoas ao longo dos quatro dias de evento.

Risco reputacional está cada vez mais no radar dos executivos

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A multinacional Aon, que atua na área de gestão de risco, tem-se dedicado ao estudo dos factores que mais preocupam os líderes de empresas, publicando de dois em dois anos os resultados de um inquérito global sobre o tema.

“Temos verificado que o risco reputacional é um dos riscos com que cada vez mais os decisores se preocupam”, explica ao Observador Paulo Freitas, diretor executivo e líder de clientes empresariais para a região EMEA da Aon. O próximo inquérito deverá confirmar a tendência.

Neste caso da Web Summit, tudo começou por algo que foi dito num “tweet”. Paddy Cosgrave “viu-se na obrigação de fazer aquela demissão porque estava ali um risco reputacional que podia afetar a organização”, da qual é o principal acionista. Paulo Freitas lembra que o irlandês era “o principal interessado em proteger” a marca.

Se antes o valor de uma empresa “se media pelos ativos tangíveis, agora mede-se cada vez por ativos intangíveis”, como a propriedade intelectual ou o valor da marca. “Se uma marca fica afetada por um risco desta natureza, aquilo que é o valor da empresa pode diluir-se muito mais rapidamente”, exemplifica Paulo Freitas.

Próximo CEO precisará de ser “alguém muito neutro” nas declarações políticas

Com o lugar de Paddy Cosgrave em aberto, o sucessor é uma incógnita mas, dada a especificidade do cargo, há quem já aponte algumas características que poderão ir ao encontro das necessidades da cimeira.

Web Summit 2022 Opening Night in Lisbon, Portugal, 01 November 2022. Web Summit is considered the largest event of startups and technological entrepreneur ship in the world, takes place from 1 to 4 of November in Lisbon. MIGUEL A. LOPES/LUSA

Paddy Cosgrave costuma ser o responsável pela cerimónia de abertura, apresentações diárias e pelo encerramento da conferência

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Maria da Glória Ribeiro, managing partner da Amrop Portugal, tem experiência em recrutar pessoas para cargos de liderança em empresas. Por isso, o anúncio de demissão de Paddy Cosgrave chamou-lhe automaticamente à atenção, confessa ao Observador. “Compreendi que a situação tinha chegado a um ponto insuportável – para ele próprio [Paddy Cosgrave], como acionista, que não nos podemos esquecer de que é maioritário, mas também porque admito que tenha consciência de que tem responsabilidade perante as pessoas que já compraram bilhete para este ano.”

Por força do ofício, começaram a surgir na sua cabeça algumas ideias sobre o que faria se lhe fosse apresentado um desafio do género. “Iria imediatamente para um CEO interino, só para a realização do evento, o que não quer dizer que não possa ser um candidato definitivo”, realça. “Procurar já quem vai ficar [o CEO definitivo] é um risco tremendo.”

Do ponto de vista reputacional, explica, um líder interino “teria de ser alguém muito neutro no conhecimento sobre qualquer afiliação ou simpatia por partes do conflito e questões do Médio Oriente”. Já para o CEO definitivo, além de recato nas redes sociais, apontaria para um “perfil genérico: uma pessoa com interesse, conhecimento e experiência, naturalmente, a nível de tudo o que tenha a ver com ideias e prática de futurologia”, explica. “Imediatamente penso em Silicon Valley e Singularity University, toda a gente que orbita neste microssistema, pessoas com pensamento e investigação sistemática.” Esta especialista também refere que poderá ser procurado alguém que tenha um perfil de “indivíduo de palco”.

A busca por um “novo” Paddy promete não ser fácil, até pelas características que o irlandês tem. É quase como um “três-em-um”, que até aqui concentrava as funções de acionista, CEO e mestre de cerimónias da Web Summit. Maria da Glória Ribeiro admite que a empresa possa “decidir não ter outro ‘Paddy’”, separando o que são as funções de CEO das funções de apresentação do evento.

Cosgrave pode ter saído do cargo de CEO, mas continua como acionista maioritário. “É sempre muito difícil quando têm de substituir-se a si próprios”, reconhece Maria da Glória Ribeiro.  “Têm tendência a querer um clone, um bocadinho mais fraco, para ser dominado.”

“‘Seduzir’ um potencial candidato a quem tem de se explicar desde o ‘a’ até ao ‘z’ o que é a empresa é mais difícil do que ‘seduzir’ um potencial candidato para algo que toda a gente sabe o que é.”
Maria da Glória Ribeiro, managing partner da Amrop Portugal

E o facto de a Web Summit estar a atravessar um momento mais agitado poderá complicar o trabalho a quem vai ter de procurar um CEO? Estar na berlinda “não é obrigatoriamente mau”, diz a especialista. “‘Seduzir’ um potencial candidato a quem tem de se explicar desde o ‘a’ até ao ‘z’ o que é a empresa é mais difícil do que ‘seduzir’ um potencial candidato para algo que toda a gente sabe o que é.”

Maria da Glória Ribeiro acredita que esta busca por um CEO vai ser “mundial”, mas que é uma procura que terá de ser “aprofundada mas célere”, um equilíbrio difícil de gerir. Nos casos em que já foi mandatada para procurar um presidente executivo, apontou para um “prazo de oito semanas para ter uma ‘shortlist’.” Num processo que começa agora, “a probabilidade é de, algures no final de janeiro, sabermos” sobre quem vai recair a escolha.

 
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