Foi o último dos sete frente-a-frente organizados pela Rádio Observador e pôs em confronto visões de esquerda e de direita. Durante pouco mais de 20 minutos, Sebastião Bugalho (AD) e Francisco Paupério (Livre) falaram das posições opostas que defendem sobre a inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, de medidas para evitar a saída dos jovens do país, dos problemas da habitação e do reconhecimento do Estado da Palestina.

Quem esteve melhor? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador tem dado notas de 1 a 10 a cada um dos candidatos nos debates em que têm participado. A média surge a cada dia, no gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem tem estado melhor e quem lidera.

[Já saiu o terceiro episódio de “Matar o Papa”, o novo Podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio.]

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No que diz respeito aos cabeças de lista dos oito partidos com assento parlamentar, fica a faltar apenas o debate das rádios, que junta a Rádio Observador, a Renascença, a Antena 1 e a TSF e acontece no dia 3 de junho, às 9h30. De resto, se quiser ouvir todos os frente-a-frente do Observador, os únicos destas europeias, pode encontrá-los aqui e em todas as plataformas de podcast.

Quem ganhou o frente-a-frente da Rádio Observador: Sebastião Bugalho ou Francisco Paupério?

Alexandra Machado — Não foi um debate de picardias e os oponentes, nem sempre de acordo, conseguiram fazer-se ouvir sem atropelamentos desnecessários. E até estiveram algumas vezes de acordo, ao ponto de Sebastião Bugalho ter, a propósito da sua proposta de inscrever a habitação na Carta de Direitos Fundamentais Europeus e depois da anuência de Francisco Paupério, mostrado satisfação caso o cabeça de lista do Livre seja eleito, já que, pressionou, será mais um voto a favor. Ironia ou não, o debate não foi confrontacional. O cabeça de lista da AD terminou a agradecer, no último frente a frente, a Paupério por não ter desferido, durante os debates, confrontos pessoais. Uma vitimização que, ainda assim, se dispensava a Bugalho. A idade tem sido um tema que tem atingido o candidato da AD, bem mais do que o candidato do Livre, embora estejam na mesma faixa etária (Sebastião Bugalho tem 28 anos, Francisco Paupério 29). Não será a idade a contar com a ingenuidade de Paupério a acreditar que o fim da unanimidade no Conselho Europeu vai permitir os países do sul da Europa a juntarem-se a uma só voz para decidirem regras na fiscalidade. Mas também Bugalho acabou ingenuamente a ligar o reconhecimento do Estado da Palestina a um “cessar fogo que proteja os direitos humanos”. Para depois assumir a dificuldade da situação, nomeadamente pelo controlo de Gaza pelo Hamas. Ainda assim, ficou claro que defende o reconhecimento só quando houver 27 estados-membros a fazê-lo. Mesmo não concordando, as ideias de ambos foram passadas. A juventude não está perdida.

Ana Sanlez — Um debate “fofinho”, o dos quase geração Z. Sebastião Bugalho patinou no arranque e voltou a mostrar que não está confortável com perguntas sobre a interrupção voluntária da gravidez, apesar de, no final, ter conseguido deixar mais ou menos clara a sua posição. Mas foi notório que sentiu mais segurança nos outros temas. Ambos estiveram bem na questão da habitação, com propostas concretas e entendíveis (que é, muitas vezes, o que falha nos debates europeus, como se viu na questão seguinte sobre a retenção de jovens). Na discussão sobre o reconhecimento da Palestina, Sebastião Bugalho esteve melhor, ao optar pela prudência. Foi um último frente-a-frente esclarecedor e civilizado, apesar das posições opostas, o que é um bom sinal para a juventude.

Carlos Diogo Santos — Esperava-se um frente-a-frente forte e, até certo ponto, acabou por ser. Os dois candidatos mais novos (ambos sub-30) — que têm protagonizado bons debates nesta campanha com os cabeças de lista mais experientes — acabaram como começaram: um Sebastião Bugalho cordial e um Francisco Paupério aguerrido. O candidato da AD mostrou neste frente-a-frente uma postura muito menos agressiva do que a que teve em muitos outros debates, o que poderia inicialmente ser entendido como uma espécie de desvalorização do oponente, mas não foi isso que aconteceu. Sebastião Bugalho quis não atacar para não ser atacado — uma estratégia que nem sempre funcionou. Quando o tema foi o aborto, Sebastião Bugalho perdeu a oportunidade de esclarecer melhor a sua posição, ficando preso ao que havia dito noutros momentos — se acha que, em determinados meios, houve edições de entrevistas que o prejudicaram, tinha espaço e tempo para expor o que afinal pensa. Francisco Paupério esteve melhor neste ponto. Já na Habitação, ficou muito clara a posição da AD. Aí foi Paupério a ser menos claro sobre o que diferencia o Livre da AD: não basta atacar por atacar, como fez neste tema, é preciso falar de ideias. E as do Livre ficaram um pouco no ar. A cada ataque, Bugalho ia respondendo com cordialidade: até disse esperar que Paupério seja eleito, tendo em conta o que partilham em matéria de Habitação. Com tantos apartes, rapidamente se chegou à guerra no Médio Oriente, onde cada um, com a sua visão, conseguiu ser claro sobre o que os divide. Esteve mal (muito mal) Paupério quando o assunto foi a possibilidade de negociar com o Hamas. No final, o candidato da AD pediu um prolongamento para voltar a ser claro sobre o que os une, elogiando Paupério por ter sido o único a não lhe disferir ataques pessoais nesta campanha. Vou uni-los, por isso, também na nota.

Rui Pedro Antunes — São ambos jovens, assertivos e conhecedores dos temas europeus, mas Sebastião Bugalho mostrou ter um conhecimento mais profundo dos dossiês. E, no duelo, é sempre mais rápido a sacar da pistola, como se tivesse treinado as respostas em frente ao espelho. Fala-se em jovens, ele atira com o Livre querer acabar com a unanimidade na UE em matéria fiscal. Fala-se em PiS e de imediato lembra que foi Von der Leyen a sancionar o partido polaco e que até foi o PPE a vencê-los (numa coligação com os Verdes) na Polónia. Bugalho só comete erros quando ativa o modo queixinhas e começa a enfrentar a arbitragem e se queixa, por exemplo, dos moderadores. Isso não aconteceu neste debate, mas aproveitou para se queixar da edição de vídeo de um podcast, quando esse excerto divulgado pelo Expresso nas redes sociais (que se pode ver aqui) não desvirtua, de forma alguma, a sua opinião. Francisco Paupério também foi respondendo bem a Bugalho, mas conseguiu atacá-lo mais pela família europeia do que pelo próprio programa da AD. Paupério recebeu rasgados elogios de Bugalho, que o elogiou por ser o único que não fez ataques pessoais durante a campanha e até desejou que o adversário fosse eleito para, juntos, votarem a resolução que vai fazer pressão para que habitação. Paupério escorregou ainda quando disse que as negociações para o reconhecimento do Estado palestiniano devem envolver o Hamas.