Uma fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa a tirar uma selfie com duas pessoas — uma delas, o suspeito de ligações ao Daesh detido em Portugal no início de setembro — foi usada para base de uma montagem que circula nas redes sociais. À imagem, foram acrescentados os logótipos do canal televisão com sede no Médio Oriente, o Al Jazeera, e uma frase escrita em inglês: “Portugal supports Daesh” (“Portugal apoia o Daesh”, em português). O utilizador que partilha a montagem pretende assim mostrar que o canal Al Jazeera emitiu uma notícia a dizer que Portugal apoiava esta organização jihadista. Mas não é verdade: o canal nunca publicou uma notícia deste género nem é verdade que assim seja.

A publicação em causa com o logótipo da Al Jazeera

A fotografia é verdadeira e foi tirada em junho de 2018 no âmbito de uma visita do chefe de Estado no restaurante Mezze, em Arroios, em Lisboa, reconhecido pelo trabalho na integração dos refugiados em Portugal. A seu lado está Yasser, um refugiado que era um dos empregados que estavam presentes na visita e que agora, três anos mais tarde, foi detido por suspeitas de integrar uma organização terrorista.

À data, ele e o irmão já estavam a ser monitorizados pela Polícia Judiciária, mas Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que não teve informação sobre a eventual presença de um suspeito de terrorismo no restaurante. “Não, não havia informação. E não sei mesmo até que ponto é que não faz parte da estratégia da fiscalização dar espaço de liberdade a quem pode ser uma pista para encontrar outras estruturas para efeitos posteriores”, disse aos jornalistas, à margem do festival IndieLisboa. Além do Presidente da República, também o primeiro-ministro e Jorge Sampaio foram fotografados à data numa visita que fizeram ao restaurante na mesma altura.

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Embora a fotografia seja verdadeira, não é verdade que o Al Jazeera tenha noticiado algo deste género. Uma pesquisa no site permite concluir que não existe nenhuma notícia a dar conta de que “Portugal apoia o Daesh”. Até porque essa conclusão não está correta.

Entraram como refugiados e preparavam-se para sair do país. Irmãos terroristas viviam em Portugal há quatro anos

Ao Observador, a diretora da Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ) explicou que os dois irmãos iraquianos entraram em Portugal em 2017, no âmbito do programa da União Europeia para a recolocação de refugiados. E, à data, “não havia suspeita” de ligações ao Daesh pelo que foram acolhidos como tantos outros refugiados, garantiu Manuela dos Santos. Só meses depois de chegarem é que a PJ recebeu informações que “apontavam para a eventual pertença destes indivíduos ao Estado Islâmico”, disse ainda a responsável. Portanto, não é correto concluir que Portugal apoia o Daesh porque, em 2017, os dois irmãos foram acolhidos como tantos outros refugiados, sem que fossem conhecidas as possíveis ligações ao ISIS: à data não havia suspeitas de que tivessem ligação ao grupo terroristas

Agora, a investigação da PJ concluiu que os dois irmãos integraram as estruturas do Estado Islâmico em 2015, nomeadamente em Mossul. Em Portugal, eram vigiados há quatro anos pela PJ. Foram detidos no início de setembro porque os investigadores descobriram que os suspeitos planeavam sair de Portugal. Agora, estão ambos em prisão preventiva.

Conclusão

Circula nas redes sociais uma montagem de uma fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa a tirar uma selfie com o suspeito de ligações ao Daesh detido em Portugal no início de setembro. À imagem, foram acrescentados os logótipos do Al Jazeera e uma frase onde se lê: “Portugal apoia o Daesh.” O utilizador alerta que o canal emitiu uma notícia a dizer que Portugal apoiava esta organização jihadista.

Mas não é verdade. Embora a fotografia seja verdadeira — foi tirada em 2018 no âmbito de uma visita a um restaurante reconhecido pelo trabalho na integração dos refugiados —, uma pesquisa no site do Al Jazeera permite concluir que não existe nenhuma notícia do género. Ainda disso não é correto concluir que Portugal apoia o Daesh: em 2017, Portugal acolheu os dois irmãos como tantos outros refugiados, sem saber das possíveis ligações ao ISIS já que, à data, não havia suspeitas de que tivessem ligação ao grupo terroristas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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