Foi no âmbito da discussão sobre União Europeia — que é uma divergência notória entre PCP e Livre — que o líder comunista declarou que o Estado português só foi autorizado por Bruxelas a injetar dinheiro na TAP porque no final a venderia.

“A União Europeia é a União Europeia que disse assim ao Estado português: o Estado português pode meter dinheiro na TAP, desde que o fim seja o caminho da privatização”, declarou, no debate com Rui Tavares, o secretário-geral comunista, Paulo Raimundo. No debate, Rui Tavares replicou logo: “Não há nada no Direito Europeu que diga que a TAP tem que ser privatizada”.

Mas será que a autorização de Bruxelas para o Estado resgatar a companhia aérea só foi dada com o compromisso de que no final da reestruturação a empresa seria privatizada?

No plano de reestruturação assinado entre o Estado português e a Comissão Europeia para que fosse injetado dinheiro para capitalizar a TAP, assinado no final de 2021, não ficou qualquer compromisso de venda da transportadora no final do plano. Ainda que António Costa, primeiro-ministro, o tenha dito num debate parlamentar. Essas declarações de Costa acabaram por ser reformuladas, num debate posterior, pelo próprio.

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Na primeira afirmação, feita no decurso da moção de censura do Chega (em setembro de 2023), António Costa declarou que no plano de reestruturação que apresentámos e negociámos com a Comissão Europeia, e que autorizou a intervenção do Estado na TAP, desde o início previu que fossemos proceder à privatização da companhia”. Uma afirmação que foi, posteriormente, desmentida por Pedro Nuno Santos que era ministro das Infraestruturas quando o plano de reestruturação da TAP esteve a ser negociado em Bruxelas.

Pedro Nuno Santos, já no papel de comentador televisivo (depois de ter saído do Governo e ter assumido o assento como deputado socialista), rebateu a informação de que Bruxelas tinha imposto a privatização e disse, ainda, que o Estado “não está obrigado a vender a totalidade” da companhia, sendo essa “uma opção política”.

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Depois desse comentário de Pedro Nuno, António Costa voltou a ser confrontado com as suas palavras num debate quinzenal no Parlamento. E aí faz mea culpa: “Efetivamente não é obrigatório no plano. Eu expressei-me mal. O que devia ter dito é que era sempre um pressuposto, no momento da nacionalização, que ela seria parcialmente ou totalmente privatizada”.

Assim, António Costa confirma o que já Pedro Nuno Santos tinha dito de que não foi Bruxelas a impor a privatização da TAP.

Já na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, que decorreu em 2023, no seguimento da indemnização de meio milhão de euros à administradora Alexandra Reis, tinha sido garantido que a venda da TAP não era imposição de Bruxelas.  “Não fazia parte das condições estabelecidas no plano de reestruturação”, garantiu, então, Miguel Cruz, que foi o negociador do Estado (era à época secretário de Estado do Tesouro) do plano de reestruturação em Bruxelas.

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O plano de reestruturação da TAP permitiu ao Estado português injetar capital público na transportadora, que determinou que ficasse com a totalidade da empresa. No total foram injetados na TAP 3,2 mil milhões de euros (incluindo dinheiro devido à crise na aviação provocada pela Covid-19).

O processo de privatização ainda foi lançado, mas Marcelo Rebelo de Sousa vetou o diploma que acabou por não ser retomado depois da queda do Governo.

Conclusão

De acordo com quem negociou em Bruxelas e com o Governo a Comissão Europeia não impôs a venda da TAP. O Governo é que tinha essa ideia desde o início. Mas não por imposição, daí que as declarações de Paulo Raimundo não sejam verdadeiras.

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