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A senhora corria pela rua com um cão ao colo. João Porfírio interpelou-a, queria saber o que se passava. “Estão a assaltar um autocarro… ali em baixo”, atirou a mulher assustada. O editor de Fotografia do Observador correu no sentido inverso e chegou a tempo de registar o momento em que a viatura da Carris Metropolitana foi incendiada, no bairro do Zambujal. |
O ato de vandalismo foi o ponto inicial de uma semana de tumultos na Grande Lisboa. Violência justificada por alguns como revolta perante a morte de Odair Moniz, de 43 anos, atingido a tiro pela PSP na Cova da Moura. Uma semana em que mobilizámos a redação durante o dia, noite e madrugada para acompanhar uma situação pouco comum por cá. |
As incongruências do caso alimentam a desconfiança. Fomos à Cova da Moura, à procura de respostas. João Porfírio e Rita Pereira de Carvalho, jornalista da secção de Sociedade, entraram naquele bairro da Amadora à procura do local onde Odair Moniz tombou por volta das 5h30 na madrugada de segunda-feira. Foram recebidos com uma oferta de milho assado e guiados até ao local fatídico. Ali, na Rua Principal da Cova da Moura, encontraram um casal à janela. Pediram para subir e foi da varanda que registaram o testemunho de quem ouviu o homem de 43 anos dizer à polícia “não me toquem, não me toquem, não me toquem”. |
O que começou, na terça-feira, como uma vigília pacífica para chorar alguém que morreu cedo demais, degenerou em cenas de violência que se alastraram a outras zonas da Grande Lisboa. Bairros que a maioria dos cidadãos só ouviu falar, ou não conhece e nem sabe onde ficam. Foi no Zambujal que alguns jornalistas do Observador e da Rádio Observador estiveram todas as noites desta semana. Na terça-feira, depois de horas de tensão e sem nada no estômago, uma das nossas jornalistas sentiu-se a desfalecer. Foi ajudada pelos camaradas de profissão e pelos habitantes do bairro, muito perto da casa de Odair Moniz. Quem ali estava veio em seu auxílio com água, açúcar e guloseimas. Pode sentir nessa noite que os bairros não são feitos de pedra, mas sim de carne e osso. E isso ficaria bem claro na noite seguinte. |
O autocarro carbonizado já não estava no cruzamento da Rua do Cerrado do Zambujal e a Rua das Galegas. A normalidade parecia ter voltado na noite de quarta-feira. Mas os jornalistas continuavam lá. Dezenas de microfones, câmeras e carros. Uma presença robusta à espera de que algo pudesse acontecer depois da experiência da noite anterior. Nós também estávamos, como estivemos todas as noite desta semana. Seria impensável não estar. Logo depois de começar a segunda parte do Benfica 1 – Feyenoord 3, voaram petardos contra os jornalistas, garrafas com um conteúdo desconhecido e até pedras. Uma garrafa atingiu um carro de um órgão de comunicação social. Os pneus de um outro foram furados. Os jornalistas foram chamados de “mentirosos”, acusados de disseminar narrativas perniciosas. Já não eram bem-vindos e tiveram de sair dali. Os bairros não são de pedra, são de carne e osso, mas isso só se percebe estando lá. E este fim de semana vamos continuar “lá” onde é preciso estar. É essa a nossa missão e compromisso com os leitores e ouvintes. |
PS: fica ainda um desafio para este fim de semana, soltar o ministro das Finanças que há em cada um nós e experimentar o novo jogo do Observador “O Meu Orçamento do Estado 2025”. |
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Talvez lhe tenha escapado
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Amadora
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Depois dos distúrbios desta semana, PSP reforça policiamento no centro de Lisboa com duas manifestações a acontecer ao mesmo tempo: uma contra a violência policial e outra de apoio aos polícias.
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Cova da Moura
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Moradores da Rua Principal da Cova da Moura acordaram com carro de Odair a embater noutro. Da janela, dizem ter assistido ao momento em que foi baleado por um agente da PSP. "Foi muito perto."
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Sociedade
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Quantos disparos foram feitos e onde atingiram Odair Moniz? O homem de 43 anos estava realmente armado? As versões em confronto e os poucos pontos em comum sobre o que se passou.
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Eleições Presidenciais
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Santana não exclui candidatura, especialmente se houver "golpe de asa" que o coloque mais bem posicionado nas sondagens. Mantém, no entanto, corrida autárquica à Figueira (ou a Sintra) em aberto.
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PS
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Depois de semanas de tensão (também interna), socialistas reuniram-se e concordaram com abstenção proposta pelo líder. Mas com mais argumentos e muitas dúvidas sobre o ciclo que se segue.
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Vichyssoise
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Em entrevista, Tiago Barbosa Ribeiro, deputado socialista, garante que o líder do partido não teve medo de enfrentar eleições e recorda ganhos de causa do PS. Militantes-comentadores "fragilizaram".
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Eleições EUA
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O que propõe Donald Trump e Kamala Harris para a economia? E o que serão capazes de cumprir, conforme tenham ou não o controlo do Congresso? Só há uma certeza: nenhum parece querer baixar a dívida.
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Guerra na Ucrânia
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Primeira-dama ucraniana trouxe "lições valiosas" a Lisboa sobre os quase mil dias do conflito. Zelenska lamenta "inação" das organizações internacionais e avisa que ameaças russas não são "retórica".
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Igreja Católica
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Na quarta encíclica do seu pontificado, o Papa Francisco faz um apelo para dentro e para fora da Igreja: no centro da fé cristã está o amor, que não pode ser trocado por "estruturas ultrapassadas".
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Música
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Foi editada há 46 anos e é hoje uma das mais emblemáticas gravações de Marco Paulo. Mas o que explica o sucesso desta correria nervosa em busca da paixão, que encanta gerações e festas distintas?
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Música
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Uma conversa de 2021, sobre o início de uma carreira de 55 anos, do serviço militar aos primeiros sucessos. Após a morte do maior cantor popular português, publicamos a entrevista na íntegra.
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Obituário
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Os caracóis e o jeito com o microfone ficaram famosos mas foi a voz que garantiu a Marco Paulo um lugar na história da música portuguesa. O cantor e apresentador morreu aos 79 anos.
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Humor
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É uma das mais populares humoristas da nova geração e tem, finalmente, um solo. Antes de percorrer o país com "Crente", acompanhamo-la na estreia em Viseu, em palco e fora dele.
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Opinião
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A primeira vítima dos gangs é sempre a população dos bairros onde os gangs prevalecem. A polícia não é a solução, mas sem a polícia não há soluções.
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Afastados do centro, distantes dos símbolos nacionais, os imigrantes vivem, trabalham e pagam impostos num país que não sentem exactamente seu, nas franjas de uma cidade que não reconhecem.
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O que pode matar a Comunicação Social é interferir demais, instrumentalizá-la ou manietá-la, estabelecer relações privilegiadas com grupos dominantes ou produzir legislação paternalista e burocrática.
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Será uma manifestação de respeito pelo direito internacional o SG da ONU encontrar-se com um líder sob mandato de prisão do Tribunal Penal Internacional? Ou Guterres não reconhece legitimidade ao TPI?
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O poder fez Montenegro colocar as causas direitistas no fundo do cacifo, mas agora é útil recuperá-las para firmar as diferenças para o PS e não deixar o Chega sozinho à direita do centro.
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