Viajei para o Algarve com o propósito de compreender melhor o desastre eleitoral para o PSD em sede de Eleições Legislativas. Falei maioritariamente com jovens, fundadores, simpatizantes e militantes do PSD. Ainda assim também conversei com militantes e eleitores da IL e do CH. Vinha a julgar que iria encontrar protesto. Não encontrei. Descobri uma reflexão muito mais desenvolvida do que sinceramente esperava. E o que aprendi politicamente com os algarvios:

  1. O PSD é um partido envelhecido que já não é visto como tradicional de poder. Os militantes estão desanimados, e sem perspetiva de futuro. O partido deixou de ser um meio onde querem fazer política. Há militantes (eleitos) que estão em reflexão e falam em desfiliação. O PSD está claramente numa fase descendente.
  2. A IL existe por oposição ao PSD. Aqui como no resto do país é um grupo menor, ainda assim com massa crítica, participado e numa fase ascendente. Não há ilusões em relação ao partido. E existe alguma crítica.
  3. O CH, sendo também um partido jovem, está claramente numa trajetória ascendente. Não compreendendo bem a estrutura, posso afirmar que os eleitos são vistos com total normalidade e são mesmo elogiados pelos demais simpatizantes e militantes de outros partidos. Elogiados enquanto pessoas e pelo trabalho que desenvolvem nos seus mandatos.
  4. A ala direita (CH, IL, PSD) está muito mais próxima do que esperava encontrar. Alguns estão dentro da mesma estrutura familiar, sejam apenas eleitores ou mesmo simpatizantes e/ou militantes.
  5. O eleitor que fala mais livremente de política e do voto é hoje mais atento ao perfil dos candidatos e a certos sinais. O militante não vota cegamente no seu partido. Tem um voto honesto e inteligente, e, pareceu-me, que vota de acordo com o seu melhor interesse, atendendo também ao dos seus familiares e dos mais próximos e o das regiões.
  6. A linha vermelha não é visível para os Algarvios. No momento das eleições é mesmo inexistente. Os Algarvios têm uma veia de protesto por razões legítimas. Não se cansam de a repetir, mas no momento das eleições votam com esperança. O PSD e o PS são claramente mais passado que futuro, e quando são mencionados são-no pelos problemas que trazem consigo – sendo a corrupção e os maus mandatos dois deles. Nunca são referidos pelas soluções ou pelas pessoas que se candidatam.
  7. O Algarve continua a sentir-se “isolado” do resto do país e muito afastado de Lisboa. Têm a noção clara de que não têm os serviços públicos desejados. Os problemas são os de sempre.
  8. O que esperam: “Estabilidade” e “Futuro”. Todas as pessoas com quem dialoguei (CH, IL e PSD) compreendem o “não e não” mas de certa forma vêm-no com um entrave ao diálogo e ao entendimento. Para os Algarvios, não pode ser não, ainda assim o que eles gostariam era ter os seus problemas resolvidos. Querem estabilidade (quando ouvi a palavra percebi que era real).
  9. O facto de haver uma “linha vermelha”, introduzida pela esquerda e por António Costa, percebi que era considerado um problema. Os Algarvios não compreendem (e acompanho-os em parte). Eu estou em crer que desta vez será de sul para norte. Alguma mudança começou aqui no Algarve. Falei com pessoas inteligentes, pacíficas, e críticas, que, e insisto, pensam no melhor para si, para os seus e para a sua Região. Estão a sobreviver e querem mais. É legítimo.
  10. Conversámos abertamente e sem preconceitos. Se compreendemos o que se passou e porquê. Se temos a inteligência que nos leva a concluir de forma similar sobre a situação do partido, porque é que alguns dos nossos eleitos não retiram as mesmas conclusões? É a pergunta que fica. Mais interessante: se disto depender a sobrevivência do PSD, então o PSD pode estar condenado à irrelevância.
  11. Negar o diálogo e o entendimento é negar a própria Democracia e a Liberdade. No Algarve neste momento isto percebe-se melhor. Seja como for acredito que o país está a mudar e o Algarve mudou.

João da Costa

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