A desconstrução da família tradicional, tendo como fim último a sua destruição, tem estado, nos últimos anos, na ordem do dia de grandes organizações e fundações internacionais, inspiradas no marxismo e no comunismo.

A agenda é bastante ampla. O “empoderamento” da mulher, patrocinando os activismos feministas mais radicais, que, reproduzindo o pior do machismo e da misoginia, mais não pretendem do que aniquilar o homem e renegar a maternidade. A liberalização do aborto e da eutanásia, que, negando o valor da inviolabilidade da vida, resulta na quebra do vínculo sagrado entre gerações. A implementação da ideologia de género, que promove uma nova revolução cultural e social, retirando aos pais o direito de decidir que valores devem presidir à educação dos filhos.

Deste modo, pretendem estas organizações, através da intervenção do Estado, subverter o modelo natural de família, cuja existência é inegavelmente anterior à do próprio conceito de Estado, desconstruindo-a, desvalorizando-a, substituindo-a ou promovendo a formação ou redução a micro-agregados familiares, sem particular compromisso, ou mesmo a vida a sós, como meio egocêntrico para atingir a prosperidade material.

Ora, numa altura de crise sanitária, social e económica mundial, assistimos a infames ofensivas, de quem começa a perceber o falhanço de todo o investimento aplicado ao longo de décadas.

De forma provocatória, no momento em que o mundo luta literalmente pela vida e em que as famílias em confinamento procuram proteger-se e cuidar-se, de modo especial, assistimos à proclamação do “fim da família tradicional” ou da necessidade da defesa do “aborto como uma prioridade durante a pandemia”.

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É evidente que tentam desesperadamente desvalorizar e iludir a inegável força indestrutível da Família.

Milhões de pessoas confinadas nos seus lares, com tempo, preocupações e deveres que ultrapassaram os rotineiros assuntos profissionais. Pela primeira vez, muitos têm a oportunidade de parar, afastar-se de quase tudo e todos, fazer silêncio, reflectir e compreender o que realmente os move, os motiva, e fixar-se no que é essencial.

Mães e pais passaram a cuidar dos filhos a tempo inteiro. Muitos filhos passaram a olhar pelos pais fragilizados, pela idade ou pela doença, e tantos outros passaram a desempenhar ambos os papéis.

Tempos altamente desafiantes. Em coabitação continuada e forçada, pais ouvem os filhos chamar por si “mil vezes ao dia”; há cantos da casa que, arrumados e limpos, ao segundo olhar já não estão; móveis ou madeiras cuidadas que conhecem as primeiras mossas; as refeições e as roupas que não dão descanso; são os pequenos irmãos em corridas ruidosas entre divisões, entrando em repetidos conflitos; as desobediências; os adolescentes que se isolam nos quartos, em mundos virtuais, evitando as aproximações forçadas aos pais; os pais que insistem em atribuir tarefas domésticas aos filhos que pretendem estar quietos e sossegados. E os cônjuges, que passando a partilhar mais tempo, enfrentam também adversidades, esperando atenções mútuas que não se concretizam. São os idosos e doentes que, sentindo-se sozinhos na dor e desconforto, apelam insistentemente, e os filhos e cônjuges cuidadores que enfrentam por vezes o desespero, dado o pouco tempo de descanso e as noites mal dormidas, que os levam à exaustão.

Alguns não aguentarão o pesado fardo: ou nunca amaram ou não perceberam que amar é acção, compromisso para a vida, que exige doação, sacrifício e altruísmo, sem prazo de validade. Mas os que o perceberem sairão mais fortes desta crise.

Os sorrisos e risos, os abraços, as cumplicidades, as gentilezas, as doçuras, as partilhas, os olhares que dizem “gosto de ti” ou “fazes-me falta”, a confiança de que o outro não abandona – a essência da Família – mostram que ultrapassam todas as dificuldades.

É por isso que se sente o desespero de quem tanto tem investido na senda de destruição dos valores cristãos, que incluem a Família como célula da sociedade, onde se aprende a solidariedade, a entreajuda e a caridade.

Não há ideologia que derrube estes valores, nem Estado que os substitua, pois as grandes dificuldades, o sofrimento e o medo só se vencem numa estrutura, antes de qualquer outra: a Família.

A autora não reconhece o AO 1990.