O debate lógico é – ou deveria ser – assente ele mesmo na discussão de ideias, mais do que na discussão de pessoas ou de momentos. Nesse sentido, diria que vivemos à demasiado tempo obcecados com ataques vãos em que predomina o vazio de propostas em benefício da gritaria silenciosa onde se medem virtudes e pecados que só o egocentrismo de alguns atores políticos permite ver. Na política não podemos reduzir a discussão ao maniqueísmo simplista e, talvez por isso, errático.

Com o aproximar das eleições, que entendo que ninguém desejava, começo a notar os graves sinais de que voltaremos a ver mais uma vez aqueles que deveriam ser debates sérios e de discussão de propostas para os problemas reais do país serem reduzidos à discussão do passado longínquo da troika, com a adenda de que agora existe o Chega para servir de arma de arremesso contra um PSD que já disse que não quer nem vai se aliar à extrema-direita racista, misógina e homofóbica. Desta forma, o que é dado como certo é que veremos é uma espécie de combate entre o bem e o mal onde ninguém sabe bem quem é o que, dado que os grandes cavaleiros do zodíaco dizem o mesmo sobre o si e o seu oponente, esquecendo que pelo caminho abandonaram as propostas que têm para um país, país esse onde temos famílias inteiras que lutam todos os dias para sobreviver sem os meios para subsistir porque vivem precárias e com um Estado Social que, hoje, está em falha, algo lamentável aquando dos 50 anos da conquista dessa providência que foi negada ao povo durante a ditadura.

O que é para mim certo, é que o vazio das palavras dos principais agentes políticos deriva principalmente da ausência de propostas de ação para o país. Olhemos para os dois maiores partidos da República como grande exemplo disso. O PS, agora liderado por Pedro Nuno Santos, promete resolver os problemas que as suas próprias escolhas políticas criaram. Uma crise na habitação sem precedentes, uma crise na saúde fora do normal e mais pobreza no país. Mas quando o PSD é chamado a dizer o que faria diferente, limita-se a breves remendos que não resolvem o problema de fundo, ou então a viver na ambiguidade sobre se avançará com o investimento no Aeroporto — acordado com o PS — e no TGV, a par da nova ponte sobre o Tejo, projetos estes essenciais para o país mas que Luís Montenegro não demonstra entender como essenciais, o que só reflete a mentalidade algo parada no tempo do líder da oposição.

Por isso, a propósito destas eleições, permitam-me aqui refletir a inquietação em que me encontro por saber que ninguém sabe o que irá acontecer após 10 de março. Mais do que a troca de acusações, temos de ser sério na discussão de propostas.

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Notoriamente o mote para os próximos anos deve ser o foco no Social. Revitalizar o nosso Estado Social e, continuando a aumentar o financiamento das áreas fundamentais como a saúde, educação, ciência e ensino superior, segurança, cultura, entre outros, saber como garantir uma melhor gestão destas pastas… afinal, segundo Fernando Medina, o problema não é o dinheiro, pelo que resta a gestão como causa dos males que causam o suspiro da classe média e trabalhadora.

Naturalmente, devemos ter um foco particular na habitação e, permitam-me a ousadia da clareza neste aspecto — temos de ter um parque habitacional público muito maior do que o que temos hoje e este será a principal forma de ajudar a combater os problemas de hoje, sem dogmas ideológicos. Praticidade também faz falta à política. O Estado pode e deve agarrar nos seus imóveis devolutos e dar o exemplo, reabilitando essas propriedades e dando a vida essencial que hoje falta aos prédios cujos tijolos que os erguem vivem deprimidos por não cumprirem o propósito de abrigar nas noites frias as famílias que menos têm.

Ao mesmo tempo, devemos sim investir no Aeroporto, no TGV como desígnios essenciais para ajudar ao desenvolvimento económico e social atrasadíssimo do país. Mas quem fala em TGV tem de falar naturalmente na requalificação das linhas férreas nacionais, na modernização dos nossos comboios e, sim, procurar que exista mais investimento (privado maioritariamente ) em matéria de construção de locomotivas. A grande indústria nacional não deve ser um desígnio solitário da extrema-esquerda.

E correndo o risco de me alongar, permitam-me ir a uma outra temática. O fomento de capital privado, nacional e estrangeiro, de forma a gerar mais e melhores postos de trabalho bem pagos, de forma a colocar os salários portugueses na média dos da Europa, mas também fomentando uma cultura de responsabilidade social das empresas. O salário justo é a base do trabalho, mas as empresas têm de saber que têm uma função social para com os seus funcionários e para com as comunidades em que operam, de forma a garantir que as relações laborais são justas e que existe uma vida melhor para todos – e isto não se limita a férias pagas ou aos 13º e 14º mês.

Por isto e muito mais, a propósito destas eleições, procuremos ir mais além do debate vazio e de atribuição de culpas e façamos para trazer à luz do dia propostas sérias para a resolução dos problemas de hoje. Quem está na política tem responsabilidades para com as suas gentes. Está na hora de honrar esse contrato e, para as pessoas, apresentar as nossas soluções para os problemas do povo que queremos representar e ajudar.