Depois do banho de água fria que o MPLA deu aos principais concorrentes nas últimas eleições gerais de Agosto de 2023, ouvimos pouco sobre as lideranças políticas diante dos últimos acontecimentos. Por onde andam ?

Bom, começaremos pelo tubarão que domina o espaço de oposição ao regime, a UNITA. O partido do Galo Negro está nessa altura a fazer contas da fatura do último pleito eleitoral, olhando para os erros da campanha, as decisões menos acertadas e a fazer manutenção da sua máquina partidária. Ainda em Dezembro, o Presidente Adalberto Costa Jr. viu a necessidade de fazer mudanças pontuais no seu staff, movendo até peças fundamentais para a sua gestão partidária, no caso dos secretários nacionais e provinciais.

Um dos grandes capitães da sua performance eleitoral foi de facto o deputado Nelito Ekuikui, que decidiu abrir mão de Luanda para concorrer à liderança do braço juvenil da UNITA, que deverá ter o seu desfecho no V Congresso Ordinário da JURA, realizado em Março.

A UNITA, que foi ao combate eleitoral com uma coligação ad hoc, uniu forças com outro peso pesado da política nacional, Abel Chivukuvuku que, por força da máquina sorrateira do MPLA, acabou sem um partido político legalizado e habilitado para a corrida. O líder do PRA-JA tem estado na Assembleia da República enquanto deputado, mas já deu às caras numa passeata de auscultação pública com os membros da sua força política.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O outro aliado da UNITA na FPU é o Bloco Democrático, liderado pelo economista Filomeno Viera Lopes. Esse partido de quadros terá de fazer cálculos bem assertivos para evitar a extinção, pois nas duas últimas eleições não concorreu em legenda própria, o que poderá ser um problema vital se em 2027 assim o fazer.

E esse não é um problema isolado do Bloco Democrático, pois terá de envidar esforços financeiros para manter a sua estrutura partidária, alargar a sua base de influência e de mobilização política, sem esquecer a manutenção dos seus quadros no parlamento. Em sede do último ponto, o Bloco Democrático corre risco de ser engolido pela UNITA, onde nomes e deputados indicados por eles na lista da FPU já começaram a se incorporar nas fileiras da UNITA.

A FNLA conseguiu manter a sua cota de participação representativa, mantendo apenas um deputado e por sinal o seu Presidente, Nimi ya Nsimbi. A FNLA tem mantido uma posição neutra sobre os grandes temas de fratura entre o MPLA e a UNITA, mas tem-se inclinado mais numa posição de mediador entre os seus concorrentes.

A FNLA e o PRS decidiram unificar a sua representação parlamentar, fazendo uma bancada conjunta, e, de certa forma, vão fazendo uma maior intervenção na assembleia legislativa. Tecnicamente é uma boa estratégia para se contrapor às duas gigantes bancadas parlamentares que os asfixiam, mas será um problema político quando forem concorrer de forma separada no próximo pleito, pois vão rachar literalmente a base de apoio eleitoral.

Quanto aos novos partidos políticos, estreantes ao jogo eleitoral angolano, temos o PHA, que está no parlamento com dois deputados, sendo o único partido a ser presidido por uma mulher, a Sra. Bela Malaquias. Desde o resultado das eleições que não vimos nem ouvimos nada sobre o PHA. Me parece que estão em adaptação ao novo palco de atuação política e que já começaram a encontrar obstáculos na sua abordagem pública.

Quanto ao partido APN, do Quintino Moreira, acabou extinto por não atingir os resultados mínimos exigidos pela lei, o que o afasta do campo eleitoral, pelos menos até a sua próxima reinvenção. Já o P-NJANGO seguiu o mesmo caminho, mas com uma nota curiosa: como conseguiu as assinaturas necessárias para legalização, sendo que não recebeu mais de 600 votos sequer?

O ano de 2023 começou com a discussão sobre o OGE, com fortes intervenções dos parlamentares da UNITA-FPU e do MPLA. A dinâmica e o combate político na casa das leis deverão ser acesos e com os mesmos antagonistas.

Vamos esperar a ressaca das eleições passarem, para que os atores políticos possam se impor dentro das suas zonas de influência.