Em Portugal, os maus hábitos alimentares, têm um impacto significativo na mortalidade e na perda de anos de vida saudável.

As projeções nacionais para 2030 revelam que as mortes devido à alimentação inadequada pode ultrapassar as provocadas pelo tabaco, pelo que uma aposta mais forte em políticas públicas que promovam boas escolhas alimentares revela-se urgente.

É um facto que muito se tem trabalhado o tema da alimentação adequada, no entanto, e por muito que se aborde publicamente esta temática, é preciso aumentar as estratégias que capacitem a população, mas que, simultaneamente, criem ferramentas de apoio na tomada de decisão aquando das escolhas alimentares.

Assim, e pensando num exercício simples do dia-a-dia, será que as famílias portuguesas fazem as suas compras tendo em conta a informação sobre a composição nutricional dos alimentos? E se não o fazem, será pela dificuldade da sua interpretação?

Bem sabemos que o preço influencia a aquisição de alimentos, mas não nos podemos esquecer que a falta de literacia interfere, muitas vezes, em escolhas que poderiam ser mais acertadas. Um estudo nacional de 2016, constatou que 40% da população referia dificuldades na interpretação da informação nutricional presente no rótulo. Este resultado demonstra a incapacidade de muitos portugueses em descodificar a informação nutricional.

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Se questionássemos os portugueses entre escolher um produto um pouco mais caro, mas mais saudável ou um produto mais barato, mas menos saudável, provavelmente, a escolha de muitos seria a primeira.

Assim, parece claro que a estratégia para se melhorar o retrato da saúde dos portugueses passa por aumentar a literacia, mas também por adotar um modelo de rotulagem nutricional simplificado que ajude as famílias a fazer escolhas mais saudáveis.

A utilização deste modelo  – conhecido como Front-of-Pack Nutrition Labelling (FOP-NL) – é considerado uma das melhores opções para a promoção de escolhas alimentares saudáveis. De facto, o estudo NUTR-HIA, da Direção-Geral da Saúde, de 2019, comprovou que esta rotulagem aumenta, entre 3 a 5 vezes, a compreensão e facilita na escolha de um produto mais saudável.

Na Europa, diversos países têm vindo a adotar modelos de FOP-NL reforçando a importância do que a evidência científica já concluiu: sistemas simples e únicos de interpretação da rotulagem nutricional são, de facto, uma forma de melhorar a qualidade nutricional das escolhas dos consumidores.

Por cá, não existe ainda qualquer determinação do Governo neste sentido, o que leva a que exista no mercado português uma panóplia de rotulagem nutricional de caráter interpretativo com diferentes formatos que, apesar de terem sido adotados para ajudar o consumidor na escolha, acabam, muitas vezes, ser um elemento “perturbador”.

Infelizmente, e apesar da Ordem dos Nutricionistas o assumir como tema de intervenção é preciso que se implemente um esquema único de rotulagem nutricional simplificada.

Acresce a isto, que a adoção de um modelo interpretativo único, para além de contribuir para melhorar a saúde dos portugueses, porque potencia melhores escolhas alimentares, poderá levar a que os fabricantes melhorem o perfil nutricional dos produtos, potenciando uma oferta mais saudável.

Recorde-se que, em 2018, a Assembleia da República recomendou ao Governo a implementação de um esquema complementar à declaração nutricional obrigatória, pelo que é hora de avançar. Bem sabemos que este deve ser um processo conduzido com envolvência das diferentes partes: consumidores, produtores, indústrias, distribuidores, nutricionistas e Governo, mas URGE – cada vez mais – a sua concretização.

A forma como nos alimentamos é um processo com diferentes variáveis, onde a literacia assume um papel fundamental, podendo a rotulagem nutricional simplificada, enquanto medida de saúde pública, representar ganhos muito importantes para a saúde da população.