O principal desafio económico para os próximos dez, mas também vinte ou trinta anos, é o crescimento da produtividade. Nas palavras de Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, “Productivity isn’t everything, but in the long run it is almost everything”.

Que haja tão pouca discussão sobre este tema é surpreendente. Há frequentemente a tentação de resolver o problema através de apoios públicos a sectores de atividade, ou mesmo a empresas selecionadas. A escolha de sectores estratégicos, ou de empresas estratégicas, é sempre mais arriscada em pequenos países, que pela sua dimensão não podem apostar em tudo ao mesmo tempo. É preferível estabelecer infraestruturas gerais de grande qualidade e depois serem as tentativas (e erros) empresariais a encontrar os nichos de elevado valor (produtividade) que serão a base de salários — e níveis de vida — elevados.

A escolha de áreas ou de empresas como “campeões nacionais” tem limites à sua eficácia. Nesses limites temos o conseguir-se “adivinhar” o sucesso futuro (feito em concorrência com muitas outras empresas de muitos outros países), a influência das empresas presentes no sector e a dificuldade em alterar medidas e iniciativas públicas depois de introduzidas.

Um segundo elemento, crucial, é reconhecer as diferentes formas de aumentar a produtividade média num país. A primeira forma, e provavelmente a mais facilmente identificada, é as empresas aumentarem a sua produtividade em valor. Pode suceder por se tornarem mais produtivas, no sentido de obter mais para os mesmos recursos usados e/ou conseguirem preços mais elevados para o que produzem.

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A segunda forma de crescimento da produtividade média surge ao nível do sector de atividade, pelo crescimento e desenvolvimento das empresas com maior produtividade. Esta forma de aumento da produtividade média é promovida por medidas que facilitem a entrada e a saída de empresas, e por evitar intervenções públicas que reduzam ou mesmo eliminem a concorrência entre empresas. Medidas que diminuem os custos de entrar numa atividade, e medidas que tornem mais simples a reutilização produtiva dos ativos das empresas em processo de falência são mais importantes do que medidas que tentem evitar a falência de empresas. Medidas que ajudem à transição dos trabalhadores para outras atividades ou para outras empresas são mais relevantes do que tentar sucessivos planos de recuperação. Seria muito útil ter um roteiro de insolvência que envolvesse explicitamente como um dos primeiros passos a reutilização produtiva, por outros, dos ativos dessas empresas.

A terceira forma de crescimento de produtividade média numa economia é a expansão dos sectores com produtividade elevada. Aqui, é essencial a capacidade dos trabalhadores (e dos ativos produtivos) conseguirem mudar de um sector de atividade para outro. Iniciativas de treino e de desenvolvimento de novas competências dos trabalhadores são centrais.

Tendo de selecionar uma prioridade, o desenvolvimento da infraestrutura digital deverá estar no topo das prioridades. Portugal, não estando mal posicionado quando comparado com a maioria dos países da União Europeia, tem ainda espaço para fazer muito melhor, seja na utilização dessa infraestrutura digital seja no desenvolvimento de produtos e serviços que possa exportar. É mais fácil aproveitar o mercado interno da União Europeia nas tecnologias digitais do que na produção de bens físicos, onde o custo de transporte será sempre uma barreira. O desenvolvimento da digitalização como infraestrutura, mais do que apoio a empresas que criem serviços digitais, tem o potencial de aumentar a produtividade mesmo em sectores mais tradicionais. A digitalização funcionará como uma forma de aumentar a sua produtividade – melhorando processos internos, reduzindo custos, facilitando o contacto com os clientes.

Sobre o que fazer, deixo cinco ideias:

  1. Desenvolvimento das infraestruturas digitais, com uma intervenção pública que promova a investigação e desenvolvimento nesse campo, que facilite a adoção de inovações por parte dos agentes económicos, que promova o encontro entre necessidades identificadas pelas empresas e as linhas de investigação seguidas pelo sistema científico.
  2. É necessário rever ou criar plataformas de colaboração entre pequenas e médias empresas que lhes permitam ganhar dimensão critica para operarem no espaço europeu, pelo menos, e assim aumentarem a sua produtividade.
  3. Alterar os processos de insolvência e de revitalização para incluir como objetivo a (re)utilização produtiva dos ativos das empresas no mais curto espaço de tempo.
  4. Apoio transversal às atividades de investigação e desenvolvimento, que se reforcem nos casos de maior sucesso (maior crescimento da produtividade), dando previsibilidade a essa estratégia.
  5. Rever ou criar os mecanismos de proteção social e de fluidez do mercado de trabalho que facilitem a mobilidade laboral, dentro de sectores e entre sectores de atividade.

Pedro Pita Barros, especialista em economia da saúde, é membro do Clube dos 52, uma iniciativa no âmbito do décimo aniversário do Observador, na qual desafiamos 52 personalidades da sociedade portuguesa a refletir sobre o futuro de Portugal e o país que podemos ambicionar na próxima década.