Atualmente vivemos incertezas quanto ao nosso futuro como sociedade. Muitas das nossas atividades, do dia a dia, foram suspensas e os contactos sociais foram condicionados. Sem dúvida que o ser humano atravessa um período difícil. No entanto, nem por isso se está a perder o espírito solidário, comunitário e cultural. Aliás, uma nova geração, envolta em globalização e tecnologia, terá tendência a reforçar este espírito.

Em Portugal, desde 2012, temos assistido a um aumento do número de espetadores em eventos culturais constituindo um alicerce económico para todo o setor. Atualmente não sendo possível encher salas de espetáculos, dar concertos ao ar livre e tudo o que envolva o ajuntamento de pessoas a componente económica deste setor está gravemente abalada, tornando-o um dos mais afetados com a pandemia.

Como é que cultura vai mexer nos novos tempos?

Sem perder a identidade coletiva enquanto povo e a artística de cada um, esta é uma pergunta que carece de respostas rápidas, precisas, mas acima de tudo financeiramente rentáveis para os agentes económicos culturais. Sendo este um setor com elevada taxa de trabalhadores precários, o aumento de casos de dificuldades financeiras de agentes culturais é cada vez mais acentuado. Artistas, produtores, técnicos, entre muitos outros vêem-se assim obrigados a reinventar a forma de fazer chegar as suas histórias e emoções ao seu público de uma forma rentável.

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Na, já referida, precariedade enquadra-se uma elevada taxa de jovens, que, com todo este cenário estão a ver o seu futuro hipotecado. Exemplos de estudantes que pagam a sua formação com os rendimentos obtidos através de rendimentos culturais e que deixam de o conseguir fazer; os estágios que são interrompidos que colocam um travão no início das carreiras dos recém-licenciados, são uma realidade em constante crescimento.

Depois de vários episódios protagonizados pelo Ministério da Cultura, como por exemplo a iniciativa TV Fest que foi cancelada ainda antes de começar, este acaba por nos fazer lembrar aquelas histórias de navios à deriva em alto mar, sem capitão, sem uma rota definida e com falta de criatividade para conseguir chegar à costa onde haverá mantimentos para toda a tripulação. Pese embora todo o suporte governativo dado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda, que inclusivamente tem uma líder com categoria profissional no setor, fica assim demonstrado que certamente não será o Governo a encontrar a desejada rota da retoma.

Portugal, rico em tradições e ditados populares ensinou-nos que “a necessidade aguça o engenho” e por isso caberá a iniciativas autárquicas, associativas e privadas de cariz individual ou coletivo a capacidade de se reinventar. Felizmente vamos assistindo cada vez mais a bons exemplos destas novas formas de fazer mexer a cultura nestes novos tempos com a criação de múltiplos projetos assentes essencialmente nas redes sociais. O mais recente projeto de Bruno Nogueira é o exemplo mais mediático de uma nova abordagem cultural, no entanto, projetos de menor abrangência multiplicam-se. Ainda que sem a rentabilidade necessária para a sustentabilidade financeira desejada, também devido ao facto de as plataformas de social media mais populares não estarem programadas nesse sentido, estes projetos devem servir de alavanca, inspiração e suporte para uma nova abordagem cultural a considerar ter daqui para a frente.

Estamos assim, por tudo isto, pela inovação cultural e pela retoma económica de um setor tão importante para a nossa identidade enquanto povo, naturalmente Unidos pelo Presente e Futuro da Cultura em Portugal!