“OCDE baixa a previsão de crescimento em 2018 e 2019”. “INE confirma abrandamento da economia até Março”. “Número de pessoas empregadas cai há três meses”. “Europa pede nova ‘onda de reformas’”. “Subida dos preços acelera em maio para 1%”. Estes títulos são todos de artigos do Observador (desculpem, mas tenho de puxar pelas coisas da ‘casa’) de quarta-feira à tarde. Estavam arrumadinhos em duas linhas consecutivas. Olhando para eles pareciam aquelas trovoadas que se vêem ao longe no horizonte, ameaçadoras. Esperamos sempre que se dissipem, mas, pelo sim pelo não, corremos a apanhar a roupa e a pensar onde pusemos o guarda-chuva ou a gabardine.
Um pouco mais abaixo no nosso site estava outro título preocupante. Vou continuar na alegoria e falar num trovão. Dizia que os especialistas temem uma bolha imobiliária a curto prazo. Não sei se já conseguem ouvir o barulho lá ao longe?
E se a chuva de previsões e números pode ser tida como passageira e conjuntural, coisas próprias da Primavera económica do país, da Europa e do Mundo vêm raios que prometem prolongar a invernia. Depois do temporal das bolsas causado pela instabilidade italiana e pela incerteza espanhola, que fez estragos e causou prejuízos avultados nos juros e nos mercados, paira no ar aquela tensão pesada que antecipa a verdadeira borrasca.
É verdade que em Itália o La Liga e o Movimento 5 Estrelas chegaram novamente a acordo para formar Governo evitando para já novas eleições. Mas é impossível prever o que virá dali e que consequências terá para a Europa. Numa união entre populistas e eurocépticos, pouco importa que o escolhido para primeiro-ministro seja Giuseppe Conte, um professor universitário sem experiência política e a contas com falsidades no currículo. E também pouco vale que os partidos tenham deixado cair a proposta de Paolo Savona para a Economia e Finanças que o presidente Mattarella chumbou ao ver o quanto assustava a UE, até porque aceitou agora, para tentar impedir males maiores, que ele ocupe precisamente a pasta dos Assuntos Europeus.
Agora, depois de Itália, o tufão aterrou em Espanha. A moção de censura do PSOE que será votada ao fim desta manhã fará (a não ser que haja uma mudança de ventos de última hora) cair o Governo. Rajoy sucumbirá assim aos casos de corrupção que têm minado o PP depois da demissão da presidente da comunidade de Madrid e da sentença que condenou o tesoureiro do partido. Mas também ao oportunismo político do PSOE, que viu a hipótese de chegar ao poder, mesmo tendo de aceitar o apoio dos nacionalistas bascos, que umas eleições imediatas podiam entregar ao Ciudadanos de Rivera. Só que, além da questão catalã estar longe de estar resolvida, a política e a economia espanhola vão mergulhar num longo período de trevas entre as mudanças e até que a nova liderança seja legitimada nas urnas.
Como se não bastasse, Trump criou mais um tornado comercial. Em pleno conflito com a China, suspendeu a isenção de taxas à importação de aço e alumínio da União Europeia, Canadá e México e abriu uma nova frente de batalha de consequências imprevisíveis.
Sabendo como depois de Itália, a Espanha pode devastar os mercados e as bolsas, e juntando-lhe os efeitos do ciclone Trump que já faz Soros falar em nova crise mundial, parece estar novamente a criar-se uma tempestade perfeita que pode arrastar Portugal para o olho do furacão. Entre a subida dos juros, a provável queda da economia europeia, a guerra comercial dos EUA com o mundo, o problema concreto do peso das exportações portuguesas para Espanha, e ainda os alertas sobre as bolhas que se vivem no país, sente-se um cheiro de terra molhada cada vez mais intenso. Só Costa e Centeno parecem não dar, ou não querer dar, por ele.
O Governo da ‘geringonça’ entrou em funções durante a maior bonança dos últimos tempos. Com a força do turismo interno, o fim da recessão europeia e os estímulos monetários do BCE a ajudar, bastou navegar à bolina e aproveitar as brisas de feição. Mas não houve investimento, nem reformas para aumentar a competitividade ou a produtividade, nem esforços para resolver o problema da dívida pública. Interessou apenas viver o presente, sem pensar no futuro. É tudo florzinhas, passarinhos a chilrear e um Sol esplendoroso. Ninguém quer ver as nuvens, que continuam cor de chumbo, no céu.
Os alertas são continuamente ignorados. Os críticos imediatamente trucidados. A oposição à esquerda anulada e à direita metida debaixo do braço. Ao CDS enfiadas umas orelhas de rato para criar a ideia de que tudo o que diz é uma brincadeira de crianças. Os ‘casos’ varridos para debaixo do tapete ou silenciados com promessas de novos códigos de conduta ou leis da transparência. O Congresso socialista encenado ao pormenor. Vende-se cá para dentro um país resolvido económica e financeiramente, quando estamos longe de o estar. Prometem-se lá fora reformas eternamente adiadas e estabelecem-se compromissos desconhecidos para que o Ronaldo do Eurogrupo continue, sem sujar os calções, a fazer as suas jogadas futuras.
A comparação com uma Disneylândia peca por isso por defeito. Walt Disney criou magia. Costa apenas tem para oferecer fábulas de ‘La Centaine’. E sem moral nenhuma.
Só mais duas ou três coisas
- Não sei se serei a cliente 5.001 milhões do mercado liberalizado da energia. Mas ajudarei certamente a que suba os seus utilizadores. Queria dizer directamente a quem de direito porque me fartei de vez da EDP, mas com a OPA em curso e os casos que se conhecem, não sei se escreva ao Governo chinês, a António Mexia, a Siza Vieira ou até a Manuel Pinho. Mas não aceito 1) pagar a luz mais cara que na Endesa; 2) mudar de contador continuamente e ele ir sucessivamente perdendo força e começando a ir abaixo apesar de eu não aumentar o consumo, nem as ligações; 3) ser obrigada compulsivamente a mudar esse contador mas ter de perder várias horas de trabalho, porque as mudanças só se fazem das 9h00 às 18h00 e com um tempo de intervalo de 3 horas (fora os atrasos); 4) ainda ter de suportar chamadas de valor acrescentado sempre que ligo para (não) tirar dúvidas. Por mim chega. Xi Jinping que fique com a coisa. Pena que não tenha alternativa e não possa fazer o mesmo com a água pública pela qual a chuvosa Sintra me faz pagar o segundo valor mais caro do país.
- As viagens à conta de empresas para ir ver o futebol obrigou o Governo a criar um código de conduta. A empresa criada por Siza Vieira em vésperas de ser ministro, cargo com o qual repartiu a gestão da dita, levou o Governo a anunciar mudanças na lei das incompatibilidades e a anunciar um guia com check list das obrigações legais para futuros governantes. Parece que os nossos políticos sabem tudo sobre offshores, sobre fundos, sobre cash flow de empresas, sobre pagamentos paralelos, sobre imobiliário, sobre cimeiras pagas por tecnológicas do outro lado do mundo e, claro, sobre bola. Apenas nada sabem sobre as regras que têm de seguir quando aceitam governar-nos. O problema é que a seriedade e a ética não precisam de manuais de procedimentos administrativos. Ou se têm ou não.