Na manhã do dia 7 de Outubro, umas centenas de assassinos oriundos da faixa de Gaza, inebriados com a missão de ir matar judeus, entram em Israel, assaltam as aldeias vizinhas, introduzem-se em casas de famílias e assassinam todos quantos encontram – avós, pais, filhos, netos e grávidas que barbaramente esquartejam – não poupando pelo caminho uma multidão de jovens que celebravam a vida num festival de música, onde chacinam cerca de 300. Deixam perto de 1.400 corpos sem vida e regressam ao covil com mais de uma centena de reféns.

A barbárie é de tal modo alucinante que, num mundo como o nosso onde nos orgulhamos do nível de civilização alcançado, não se consegue expressar por palavras aquilo que aconteceu.

É necessário repetir:

Na manhã do dia 7 de Outubro, umas centenas de assassinos oriundos da faixa de Gaza, inebriados com a missão de ir matar judeus, entram em Israel, assaltam as aldeias vizinhas, introduzem-se em casas de famílias e assassinam todos quantos encontram – avós, pais, filhos, netos e grávidas que barbaramente esquartejam – não poupando pelo caminho uma multidão de jovens que celebravam a vida num festival de música, onde chacinam cerca de 300. Deixam perto de 1.400 corpos sem vida e regressam ao covil com mais de uma centena de reféns.

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Houve, com certeza, na História da Humanidade situações como a que aconteceu em Israel a 7 de Outubro. Momentos de barbárie sem limite, originados por bandos de animais tribais em fúria demencial, ou mesmo organizados por Estados estabelecidos, como os nazis fizeram há cerca de 80 anos. Mas são buracos de história incompreensíveis para humanos civilizados e impossíveis de avaliar ou justificar numa escala humana. Não que não tenham sido produzidas nesses momentos, explicações justificativas. Para os nazis, eliminar os judeus tinha um racional social, económico e, já agora, étnico. E não foram os únicos à face da terra que na altura assim pensavam. Por simpatia e cegueira ideológica, muitos outros animais partilharam desses pressupostos em vários países para além da Alemanha. Nada de novo aqui, portanto. Mas sem sombra de dúvida, completamente fora do mundo a que reclamamos pertencer.

Não é possível enquadrar o que aconteceu no dia 7 de Outubro, com avaliações sobre a História de Israel e as suas relações com as nações à sua volta. Quem o faz, não merece, pura e simplesmente contraditório. Porque ao fazê-lo, já se afundou numa corrente que não tem qualificativo humano. Pobre Guterres que, após uns anos a sentir a inutilidade da sua função, tenta levantar a cabeça e proclamar solidariedade com os animais que o rodeiam. Da inutilidade pessoal à cumplicidade com os assassinos, um percurso desnecessário. A acrescentar, no seu caso, à infelicidade em não ter percebido logo em Fevereiro de 2022, qual era o papel do guardião da Carta das Nações Unidas, quando a Rússia invadiu um país soberano vizinho, com total desrespeito pelas obrigações internacionais e, também neste caso, com uma inusitada barbárie.

Voltando ao Médio Oriente, claro que se deve tentar perceber o que se passou, e o que se passa, pelo menos desde 1948, no drama existencial à volta de Jerusalém, num espaço que as Nações Unidas então atribuíram para o estabelecimento de um porto seguro para um povo que fora dizimado pelos nazis. Só que os árabes não aceitaram a partilha e devotaram-se desde então à causa da destruição desse Estado que consideraram ilegítimo. Terra de ocupações, conquistas, reconquistas e de movimentações de povos ao longo de milénios, os habitantes desse bocado de deserto, consideraram em 1948 que estavam na posse divina de um direito eterno a essa terra. Mas não correram bem as tentativas de aniquilação de Israel. Várias foram as iniciativas militares por parte dos árabes, que, no final, tiveram sempre o mesmo resultado: o seu aniquilamento militar e a consequente ocupação por Israel de parte dos seus territórios.

Estas guerras, como tantas outras, provocaram a deslocação de populações civis, que fugiam para territórios considerados mais amigáveis. Foi assim que nasceram os campos de refugiados no Líbano, na Jordânia, na Cisjordânia e em Gaza. Os movimentos de refugiados acontecem frequentemente em resultado de derrotas militares. Que o digam os alemães que, a seguir à Primeira Guerra Mundial, perderam imenso território para uma nova recomposição do mapa da Europa; e também quando, a seguir à Segunda Guerra, tiveram de abandonar os países onde viviam – inclusive do leste alemão que ficou sob o controlo da Rússia – para ingressar em campos de refugiados na Alemanha, sob os escombros de cidades destruídas, mas que os refugiados ajudaram a transformar em centros vibrantes de actividade e democracia, num contexto de potência económica exportadora. Pelo contrário, os campos de refugiados criados no Médio Oriente a seguir às guerras de 1948, 1967 e 1973 ainda hoje existem como tal, e ainda por cima, mantidos pela assistência humanitária da União Europeia e dos Estados Unidos, assistência em parte reconvertida em esforço militar para perpetuar a guerra. Direitos do povo palestino? Certo, mas esses direitos deveriam ser dirigidos para a construção de uma economia que retirasse as pessoas da indigência e da dependência.

Gaza não é uma colónia de Israel. Foi, sim, um território ocupado a seguir à guerra de 1967, que, uma vez mais, visava a destruição de Israel. Quando do acordo de paz de 1979, Israel devolveu ao Egipto a península do Sinai que havia ocupado, mas não a faixa Gaza.

Em 2005, Israel decide dar por terminada a ocupação de Gaza, deixando aos residentes a possibilidade de construírem uma nova economia para o mediterrâneo. Apoios não faltaram e a Europa, entusiasmada, ajudou a organizar eleições para este futuro Estado democrático. O resultado é conhecido: o movimento religioso Hamas, cuja razão de ser é a destruição de Israel e a imposição ao mundo da lei islâmica, saiu vitorioso, eliminando fisicamente os opositores e impondo aos palestinos de Gaza o seu governo fanático.

Direitos do povo de Gaza? Sem dúvida, mas para construir uma sociedade de progresso económico e de bem-estar social, com respeito pelos direitos humanos, em especial das mulheres, ou afinal, como aconteceu até agora, para manter um exército de kamikazes e assassinos?