Sou professor há quase duas décadas, com experiência na educação em diversos contextos, IPSS, Ensino Privado e Ensino Público. Neste artigo quero abordar um tema de primeira importância para o futuro do nosso país: a educação pública. Mais especificamente, quero abordar a responsabilidade que o PSD, enquanto o maior partido da oposição, tem para com a educação pública em Portugal.

Recuando ao ano de 2005, muitos consideram esse período como o início do declínio da escola pública enquanto meio eficaz de ascensão social. Quase 18 anos se passaram desde então, e podemos afirmar, com confiança, que enfrentamos desafios significativos. Esses desafios são o resultado das políticas adotadas ao longo das últimas décadas, políticas que negligenciaram a qualidade da educação e, em vez disso, promoveram a função assistencial das escolas.

Hoje, não importa tanto se os professores são competentes académica e pedagogicamente. Como é exemplo disso o novo diploma que rege o acesso à profissão. Mesmo contra as críticas de todo o sector, o governo avançou. Bem sei que há falta de professores, mas também sabemos todos que não é este o caminho a seguir.

A falta de professores qualificados, os baixos salários, a falta de perspetiva de progressão na carreira e uma cultura de desvalorização da profissão têm contribuído para uma crise sistémica na educação pública, tornando-se cada vez mais difícil atrair e reter bons professores, bem como encorajar jovens talentosos a escolherem o ensino como profissão.

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Por esse motivo, é responsabilidade do PSD, como o maior partido da oposição, abordar esses problemas de frente e propor soluções concretas. Isso começa por dignificar a profissão de professor. Foi isso que foi feito quando se deu conta da intenção de reconhecer o tempo de serviço efetivamente trabalhado para a progressão na carreira ou subsidiar os professores deslocados. Mas das medidas urgentes para a educação, essas são as únicas aceitáveis. As outras, caros leitores, são um sinal fortíssimo de que o PSD continua a pensar a educação com os pés.

Criar um modelo de aferição sistemática da aprendizagem dos alunos, para monitorizar, acompanhar e divulgar publicamente a evolução do plano de recuperação das aprendizagens? Mas alguém acredita que passados estes anos o principal problema é a recuperação das aprendizagens pós-pandemia? Quem é professor sabe bem que o que atrasa as aprendizagens são a indisciplina, as turmas numerosas e de multinível e a falta de recursos humanos de apoio aos alunos necessitados. Coisa que acontece desde sempre, antes, durante e após a pandemia.

Alteração do modelo de colocação de docentes, de modo a permitir ter em consideração os fatores, residência e avaliação? Avaliação? Por acaso sabe o PSD como funciona a avaliação nas escolas? Fazer depender a colocação da avaliação é degradar o já ruinoso sistema.

Onde ficou o incentivo à formação académica? Onde ficou a revisão do modelo de gestão, que tanta autocracia tem trazido às escolas? Onde ficou a eliminação das quotas? Onde ficou a mobilidade por doença? Onde ficou a estratégia para recuperar os mais de 20 mil professores que abandonaram a profissão? Onde ficou a proposta de aumentos salariais, sabendo que o valor remuneratório de entrada deveria estar, aos dias de hoje, em pelo menos mais 300€?

Onde ficou a revisão do Decreto-Lei referente à inclusão? Onde ficou a revisão dos currículos que são hoje miseráveis?

O tempo é curto e quis apenas elucidar-vos sobre o desfasamento das nossas propostas, relativamente àquilo que são as prioridades reais, aferidas através de inquérito a mais de 11 mil professores.

O PSD deve liderar a luta por uma educação de qualidade em Portugal, apoiando os professores e a sociedade civil na busca de soluções que promovam o conhecimento, o desenvolvimento intelectual e a equidade na educação pública. A revolta dos professores é uma chamada de atenção para todos nós e é hora de nos unirmos em prol de uma educação de qualidade, custe o que custar.

Portanto, insto o PSD a assumir a responsabilidade que lhe cabe como o maior partido de oposição a liderar o caminho para uma educação pública que prepare os nossos jovens para um futuro melhor e mais promissor. O futuro de Portugal depende disso, e é um desafio que não podemos ignorar.

Deixo por isso duas perguntas para que possamos todos refletir:

  • O PSD reconhece a importância da educação pública e assume o compromisso de a defender e de a fortalecer?
  • O PSD acredita que a educação pública é um direito de todos os cidadãos e que é um investimento no futuro do país?

Se sim, então que saia da bolha em que vive e ouça os professores, aqueles que todos os dias estão nas escolas e contactam com a realidade e não apenas com a estatística.