A aprovação da Diretiva relativa ao Dever de Diligência das Empresas em matéria de Sustentabilidade (CSDDD) pelo Parlamento Europeu, no passado dia 15 de março, assinala um momento decisivo na trajetória das políticas europeias de sustentabilidade e direitos humanos. Este marco legislativo impõe uma responsabilidade acrescida às empresas, obrigando-as a realizarem uma due diligence abrangente que garanta o cumprimento de normas ambientais e de direitos humanos em toda a sua cadeia de valor. Esta iniciativa visa assegurar que as atividades empresariais não contribuam para violações de direitos humanos ou degradação ambiental, promovendo, assim, uma economia mais ética e sustentável. Para enfrentar este desafio, o papel do analytics será fundamental, auxiliando as empresas na adaptação às novas exigências.

O principal objetivo da diretiva é garantir que as empresas europeias implementem práticas rigorosas de due diligence que identifiquem, previnam, mitiguem e respondam aos impactos adversos nas pessoas e no ambiente resultantes das suas operações e das operações dos seus parceiros comerciais. Esta abordagem de gestão de risco exige uma análise minuciosa das cadeias de abastecimento, assegurando que nenhum produto ou componente seja associado a práticas de exploração laboral ou ambientalmente nocivas. O analytics desempenha um papel crucial neste processo, aumentando a acessibilidade à informação sobre todos os stakeholders envolvidos na operação e permitindo uma gestão caracterizada pela transparência.

O processo de aprovação desta diretiva foi complexo e repleto de negociações intensas. Inicialmente, a proposta enfrentou resistência significativa, especialmente por parte da Alemanha e da França. Em fevereiro, a proposta foi rejeitada devido à abstenção alemã e à contestação francesa sobre o limiar de empresas afetadas, que inicialmente incluía todas as empresas com mais de 500 funcionários. Após ajustes significativos, a diretiva foi finalmente aprovada a 15 de março de 2024, estabelecendo prazos diferenciados para a entrada em vigor conforme a dimensão das empresas. Esta flexibilização foi crucial para alcançar um consenso e garantir a viabilidade da aplicação das novas regras.

Para as empresas, a CSDDD implicará uma transformação profunda na forma como gerem as suas operações e relações comerciais. As empresas terão de reavaliar e, muitas vezes, reestruturar as suas cadeias de abastecimento para assegurar que todos os produtos e processos estão em conformidade com os novos padrões de sustentabilidade e direitos humanos. Isso significará garantir que não há trabalho infantil, trabalho forçado ou outras violações de direitos humanos em qualquer ponto da cadeia de valor, bem como que os processos produtivos não causem danos ambientais significativos. É aqui que a vertente de analytics se torna essencial para mapear, monitorizar e gerir estas transformações de forma eficaz.

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Mas o impacto desta diretiva não se restringirá apenas às grandes empresas diretamente afetadas, mas estender-se-á também às pequenas e médias empresas (PMEs) que fazem parte das suas cadeias de abastecimento. Estas PMEs terão de adaptar-se às novas exigências, sob pena de perderem contratos com as grandes empresas. Assim, toda a rede de stakeholders será influenciada, promovendo uma cultura de responsabilidade e sustentabilidade a todos os níveis da cadeia de valor. Também neste ponto, a análise avançada de dados ajudará estas empresas a identificar rapidamente áreas de risco e a desenvolver estratégias para mitigar esses riscos.

Numa análise mais detalhada, a utilização de analytics é um elemento fundamental para as empresas que pretendem adaptar-se às novas exigências de forma eficiente e eficaz. O analytics desempenha um papel crucial no redesign da cadeia de abastecimento, permitindo um diagnóstico detalhado da situação atual e a criação de diferentes cenários de adaptação. Através da análise de dados, as empresas podem identificar áreas de risco, prevendo possíveis não conformidades e desenvolvendo estratégias proativas para mitigá-las. Por exemplo, os modelos de simulação e digital twins permitem criar representações virtuais da cadeia de abastecimento, onde diferentes estratégias e mudanças podem ser testadas sem riscos, proporcionando insights valiosos sobre o potencial impacto de cada decisão.

Um outro exemplo passa pela utilização de analytics no desenvolvimento de uma plataforma de controlo de toda a cadeia de abastecimento. Tal solução facilitará a monitorização contínua e permitirá avaliar se todos os parceiros comerciais estão em conformidade ou em risco de infringir os padrões exigidos pela diretiva – através da análise de key performance indicators, tais como taxa de conformidade com normas laborais, número de horas de trabalho, e cumprimento de regulamentações ambientais. Esta centralização da informação e inteligência na análise da mesma assegurarão uma gestão mais eficaz e uma resposta rápida a qualquer problema identificado, promovendo uma cadeia de abastecimento mais transparente e responsável.

Como referido anteriormente, a nova Diretiva de Sustentabilidade e Dever de Diligência terá um impacto significativo em todo o mercado europeu. A regulação do comércio não afetará apenas as empresas na primeira linha, mas todas as que são abrangidas pelas suas cadeias de abastecimento. As empresas terão de antecipar estas mudanças e adaptar as suas estratégias de forma a cumprirem os novos requisitos, garantindo que contribuem para uma economia mais justa e sustentável. Com o recurso a modelos de previsão e técnicas de simulação proporcionados pelo analytics, utilizando os dados disponíveis, é possível preparar a Europa para esta grande revolução, promovendo um futuro mais ético e sustentável para todos.