Portugal é um país com forte tradição na emigração, com os portugueses a fazerem as malas e a rumarem para os mais variados destinos, em busca de melhores condições de vida, porque o país que os viu nascer não lhes consegue oferecer oportunidades e dar condições de vida condignas. Como já aqui escrevi em outra ocasião, o problema demográfico não é novo e os especialistas têm lançados constantes alertas aos sucessivos Governos, desde os anos 90 do século passado. Portugal sempre foi um país de emigrantes, mas o fenómeno disparou no período pós COVID 19.

O problema da demografia é grave e, por isso, não fiquei – nem ninguém devia ficar – indiferente à notícia publicada este fim de semana no semanário Expresso sob o título “30% dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país”. Nesta Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração, que esta semana vai lançar o “Atlas da Emigração Portuguesa”, diz aquilo que já vamos testemunhando, ainda que sem dados oficiais: que são as populações mais jovens, entre os 15 e os 39 anos, quem mais abandona o país. Os dados que agora ficamos a conhecer deviam fazer soar todos os alarmes. Mas não.

As razões para a fuga são sabidas: a falta de perspectiva e de um futuro, a crise económica, os baixos salários, as condições precárias e o inconformismo diante do estado de coisas.

Mas vejamos alguns dados quantitativos que nos devem inquietar:

  • Na segunda década do século XXI (2010-2019) saíram de Portugal, grosso modo, um milhão e meio de pessoas.
  • No cômputo das duas primeiras décadas, saíram de Portugal, em média, 75 mil pessoas por ano.
  • A elevada emigração coloca Portugal no 1.º lugar na Europa e no 8.º a nível mundial.
  • Os jovens emigrantes representam cerca de 30% dos jovens portugueses. Destes 30% cerca de 1/3 são mulheres em idade fértil.
  • Os filhos de portuguesas nascidos no estrangeiro representam 20% do total de nascimentos em Portugal.
  • Os países escolhidos para emigrar são França, Suíça, Reino Unido, EUA e Canadá.
    Em suma são 2,3 milhões de portugueses a viver fora de Portugal, são muitos portugueses.

É verdade que para contrabalançar estes números temos os imigrantes, que nos últimos anos têm chegado ao nosso país e que de alguma forma permitiram um equilíbrio da balança entre os portugueses que saem e os estrangeiros que entram. Porém, esta é uma troca desigual e com desvantagem para Portugal, pois a maioria dos imigrantes tem qualificações inferiores às dos portugueses que saíram. Estamos, pois, a perder quadros qualificados, com competências e saberes, que são fundamentais para o desenvolvimento de um país.

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A elevada emigração cruzada com outros problemas demográficos como seja a baixa natalidade e o aumento da esperança média de vida coloca Portugal diante aquilo que pode chamar de uma tragédia. Portugal é um país envelhecido e estes números vêm comprometem seriamente o nosso futuro.

Não se compreende por que razão o problema da emigração não constitui uma preocupação central do governo – seja ele de que partido for – porque, entenda-se, sem pessoas não há país. Ainda, e considerando que estamos em período eleitoral, gostávamos de conhecer que propostas têm os senhores candidatos a Primeiro-Ministro para contrariar este problema? Que medidas para tornar apelativo o regresso dos jovens e impedir que mais continuem a sair? Nada. Até agora nada foi dito. Nem uma palavra. Este tem sido, e continua a ser, um assunto tabu para os governantes.

Portugal precisa dos jovens, são eles que trazem valor ao país, que fazem mexer a economia, que constituem famílias, que trazem conhecimento e inovação e que promovem o desenvolvimento. Sem eles o que será de Portugal? É difícil imaginar, mas podemos antever que, caso o Governo não tome medidas, ficaremos diante um cenário desastroso.

Aí Portugal, precisamos trazer os portugueses que estão no estrangeiro, por isso não faças como a avestruz, que mete a cabeça debaixo da areia, para fingir que nada se passa porque, já diz o ditado, o pior cego é aquele que não quer ver.