A Ordem dos Enfermeiros, com um título muito feliz – “Todos pela Saúde” –, vai reunir-se em Congresso de quinta-feira a sábado, na linda cidade dos Arcebispos, Braga. Um congresso que conta com 1400 inscritos/participantes, com representações, comitivas e congressistas da Europa e dos PALOPs. Também representantes das várias Ordens dos Enfermeiros destes países.

A expectativa é de que seja um Congresso fabuloso, tocando inúmeras temáticas cruciais e indispensáveis, focadas no cuidar, no tratar, na investigação e na necessidade de investimento, quer em recursos humanos, quer em instrumentos, tecnologia, telemedicina, instalações e infraestruturas, face à necessidade de dar respostas certas, oportunas e com equidade e em tempo útil ao cidadão doente e à comunidade. Não faltará a dimensão religiosa e o cuidado espiritual. No fundo adequar ferramentas e conhecimentos para um Sistema de Saúde e para a promoção da literacia em saúde.

Os Enfermeiros são parceiros insubstituíveis com o seu saber, especialização, forma de ver holisticamente o Cidadão/Família/Comunidade, na composição das equipas multidisciplinares, cada vez mais necessárias e imprescindíveis, nas decisões de intervenção, tratamento, reinserção e alta.

Falar hoje em Saúde, para a Saúde e suas “latitudes”, deixou de ser propriedade única de uma profissão ou classe, seja ela qual for! A especificidade e o sentido da palavra “saúde” é hoje de tal forma amplo, abrangente, complexo e desafiador, que nenhuma classe profissional, só por si, consegue dar resposta às necessidades e exigências que se colocam aos profissionais de saúde. Se por um lado a “bio” do indivíduo sofre “anomalias” devido a disfunções, malformações, afectação por agentes químicos e/ou biológicos, é bem certo também que o ambiente, a natureza, o ADN, a origem geográfica do indivíduo têm influência no seu estado de saúde. As equipas de saúde têm que perceber e bem esta realidade global, mutante e de mobilidade, para intervir localmente, e em cada comunidade, acertadamente.

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No âmbito da gestão, a saúde tem recursos finitos. Estes são cada vez mais escassos e caros. Face ao aumento da esperança de vida, às comorbilidades e às exigências e necessidades do presente, e às que se adivinham para um futuro muito próximo, há que ter no horizonte a necessidade de recrutar, formar e fixar aos quadros das instituições mais profissionais de saúde, entre os quais enfermeiros, que hoje já são deficitários no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Há necessidade de criar e oferecer condições de carreira e remunerações atrativas para que estes não emigrem. O SNS não pode perder o seu know-how com a “sangria” de profissionais e o desinvestimento que se vem sentindo. O SNS robusto, faz falta aos cidadãos e a Portugal. Basta pensar como seria, com a Pandemia, se Portugal não tivesse o SNS? Na vacinação COVID, se não tivesse os enfermeiros que tem, como alcançaria a excelente taxa de cobertura e vacinação?

Os cidadãos têm o dever e o direito de exigir boas condições de tratamento, mas para isso, devem compreender, permitir e exigir bons e competentes profissionais que lhes prestem cuidados em condições condignas.

Hoje, com toda a experiência tida e vivida, sabemos da necessidade de reflectir sobre o futuro do sistema de saúde: O que temos, o que queremos e o que somos capazes de conseguir, construir e organizar. Que recursos terá este sistema de saúde e que orçamento lhe estará reservado? Os enfermeiros não ficarão arredados desta sadia, urgente e necessária discussão, com participação activa. Têm um manancial enorme de contributos, visão e opinião fundamentada que só engrandece esta discussão. Ficará provado neste Congresso, com a partilha de muito trabalho de investigação, com evidência científica, que são contributos a acolher, para conseguirmos uma boa saúde para todos”. Não pode haver, seja qual for o modelo, um sistema de saúde capaz, moderno, evolutivo e de resposta às necessidades em Saúde, se os seus profissionais não forem os melhores, mais motivados e remunerados.

Em Portugal precisamos de fazer, também na Saúde, uma profunda e séria reflexão sobre os seus recursos humanos. Não há dúvida de que os enfermeiros têm uma profissão de risco e de desgaste rápido. A idade da reforma tem de ser repensada. Com a Pandemia pudemos verificar que se acentuou o desgaste físico, psicológico e os altíssimos níveis de stress a que os enfermeiros estiveram sujeitos e expostos! Estas são evidências, não são especulações! O Governo tem que seriamente abrir o debate sobre estas questões, chamar os parceiros à mesa de efectivas negociações e resolver de uma vez alguns assuntos, que só por cegueira política e preconceitos ideológicos ainda não foram resolvidos.

Quanto ao Congresso dos Enfermeiros – “Todos pela Saúde” – vai escrever-se na história da Ordem, na cidade dos Arcebispos, com partilha com a Europa e com os PALOPs, mais uma página de ouro, de riqueza científica e de dinâmica de trabalho e de conhecimento.