Confesso que a cada dia que passa, vejo o comentário político por parte de jornalistas, comentadores e politólogos e fico cada vez mais desiludido, com a sua total parcialidade, face àquilo que é facilmente entendível por qualquer cidadão.

Importa explicar que há politólogos que são pessoas que tiveram formação superior em ciência política e/ou investigam ciência política (o meu caso no passado em ambas as situações) e aqueles que não são nada disto, mas catalogados como tal, porque “comentam política”. Como referi, deixei de investigar e comentar ciência política precisamente por este motivo. No entanto, resolvi escrever este artigo pois fiquei indignado com o que foi dito por estes comentadores e jornalistas a propósito da intervenção de Passos Coelho na passada 2.ª feira no Algarve.

O primeiro a atirar-se a Passos Coelho, acusando-o de ser irresponsável e de ter um discurso perigoso, foi o jornalista Ricardo Costa, dizendo que há estudos que demonstram que a imigração não está associada ao crime. Deixo nota que Ricardo Costa é irmão do Primeiro-Ministro, e pergunto o que se diria, e faria, se um Primeiro-Ministro de Centro-Direita tivesse um irmão director de um órgão de comunicação social a comentar directamente política e a dirigir jornalistas que o fazem?! Passos Coelho disse que temos de controlar a imigração descontrolada (algo com que concordo) e deu a entender que isso gera insegurança. Para quem não sabe, insegurança é sinónimo de falta dela, de perigo ou risco. Criminalidade significa infracção, delito, transgressão. Ou seja, Ricardo Costa colocou palavras na boca de Passos Coelho algo que ele não disse, ainda por cima palavras que não são sinónimos, bem pelo contrário.

De seguida, outros comentadores, logo no mesmo estúdio, à mesma hora, e depois em vários espaços informativos e de debate em todos os canais de televisão foram atrás. Acho isto inqualificável, devia ser assunto na Procuradoria da República e não devia ser permitido este tipo de situação. Tem de haver limites. Cada vez que há eleições mais disputadas e a vitória do PS está em risco, mais se nota a aflição da maioria destes protagonistas, numa tentativa desesperada de tentar “lavar o cérebro” a quem os vê e ouve em casa.

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Exemplos? Margarida Alvim, na 3.ª feira dia 27, na CNN, repetia as afirmações de Ricardo Costa, e recordo-me de no Congresso do PS ouvi-la afirmar que Pedro Nuno Santos deixou obra no Governo (agradeço que me envie por email qual, pois não conheço nenhuma! apenas falta dela e incompetência). Anabela Neves, também da CNN, saltou da cobertura jornalística no Parlamento, para comentário televisivo e é a muito custo que se consegue ouvir tal personagem, pois não tem conhecimentos nenhuns e apenas louva o PS e o resto é tudo mau. Sebastião Bugalho que era um óptimo comentador, agora virou vedeta, provavelmente deslumbrou-se e permite-se dizer os maiores disparates; isso e/ou tem de agradar a alguém. Luís Paixão Martins, na CNN, fala como se tudo soubesse, que o PS é bom, Pedro Nuno o maior e o resto está sempre tudo mal.

O Fact Check devia ser verificado, pois quem o faz mente descaradamente em muitas situações — sobre algumas delas domino a informação e nem preciso de verificar, salta à vista desarmada. O Bloco de Esquerda, que sempre mentiu e manipulou sem escrutínio, agora foi escrutinado a propósito da avó de Mortágua, porque a vitória do PS está em risco e precisam do voto útil da esquerda. Depois de 10 de Março vai deixar de ser escrutinado novamente, decerto. Ventura nos debates valeu sempre zero, ou perto disso e perdeu sempre. A esquerda esteve sempre bem. Em geral, a Comunicação Social nunca desmentiu o PS em relação à austeridade da Troika,  culpa clara do PS e de José Sócrates, e não do PSD/CDS e de Passos Coelho (são factos não opiniões).

Raros são aqueles, que são independentes e mais técnicos na análise, e que não se deixam levar pelo momento como António Costa Pinto ou Maria João Avilez. Até alguns jornalistas do Observador que teciam bons comentários, quando de repetente vão à televisão, começam a pensar “diferente”, tal deve ser a pressão e influência dos restantes jornalistas e comentadores (sei do que falo pois já senti essa pressão no passado e confesso que me influenciou no início).

Por fim, temos debates em que cada candidato apenas dispõe de 15 minutos para apresentar as suas propostas e depois centenas de horas de tentativa de lavagem cerebral, para nos dizerem que a esquerda é boa, o PS é fantástico e o centro-direita não presta e tem todos os defeitos. E é incrível como são os media que decidem isto, quando devia haver legislação para regular estes debates de forma a não permitir este tipo de situação.

É importante realçar que, finalmente o tema do sistema eleitoral foi introduzido na campanha, sendo que este é dos mais desproporcionais do mundo e impede centenas de milhares de pessoas que vão votar, a não ficarem representadas pelos partidos nos quais votam. Os distritos (círculos) do interior perdem cada vez mais eleitores (logo deputados) para os distritos do litoral, sobretudo para as grandes zonas metropolitanas como Lisboa, Porto, Braga e Setúbal. Razão pela qual os Governos tentam manipular estes eleitores (como o PS fez com os passes sociais) esquecendo os restantes que vivem em zonas menos povoadas.

Fui o primeiro, há 17 anos, a chamar a atenção para isto em estudos que fiz; bem como para o facto de nos círculos pequenos (e alguns médios) se alterar uma “espécie de lei” na ciência política, em que as pessoas votam mais nas eleições de 1.ª ordem (mais importantes, as legislativas) do que nas de 2.ª ordem (menos importantes, autárquicas). Nestes círculos, é exactamente o oposto devido a esta situação em que não existe incentivo para votar em partidos mais pequenos. Quem quiser pode ver aqui e aqui ; bem como na minha tese de mestrado sobre voto estratégico (“voto útil” que é a expressão mais usada nos dias de hoje). Haja vontade política para resolver isto e façam como na Madeira (círculo único) ou Açores (círculo de compensação), mas acabe-se com esta injustiça.