«Não há futuro, tudo o que tens é o teu passado» – Joe Strummer

Não sei se é possível precisar o nascimento da estratégia F.U.D. (Fear, Uncertainty and Doubt – Medo, Incerteza e Dúvida) mas não deve ser alheia à teoria da Psicologia Comportamental. Há décadas que é usada pelos governos e outras instituições para “encaminhar” as populações no sentido que lhes é mais conveniente, quase nunca por bons motivos e sempre incutindo medo, tanto medo quanto forem capazes.

Até há poucos dias ninguém nascido após 1980 acreditaria que a ameaça de uma guerra nuclear já foi uma crise existencial. Não sei como as pessoas reagiram à crise dos mísseis de Cuba em 1962, mas em 1983 o filme The Day After teve um impacto sério no dia-a-dia de todos nós. O medo era patente e real, recordo-me de em Sintra haver cartazes nas árvores com os dizeres: “Zona Livre de Armas Nucleares”. Na Alemanha havia manifestações enormes onde o grito de ordem era “Antes Vermelho que morto”. Até há pouco mais de uma semana este pânico vivido há várias décadas parecia uma anedota, que não era.

Após a queda da URSS e o desmantelamento do Pacto de Varsóvia, imediatamente nasceu uma outra crise existencial, o chamado Aquecimento Global Antropogénico ou AGW, que entretanto evoluiu para Alterações Climáticas, Crise Climática até chegar à expressão actual Emergência Climática que, dizem, vai acabar com o planeta. Não só a espécie humana será exterminada, mas o planeta em si próprio acabará desabitado de seres vivos.

Estava a Emergência Climática descansada como fonte de todos os medos, outra vez um medo real ainda mais destrutivo que a dita Emergência, eis que surge nova ameaça existencial, o SARS-Cov-2. Mais uma vez uma ameaça que iria dizimar a espécie e a que governos e instituições reagiram atirando ao lixo o bom senso, a ciência e décadas de conhecimento de epidemiologia. Não cabe aqui fazer a história destes dois anos, algum dia alguém a fará, sem esquecer as unidades de psicologia comportamental criadas por vários governos com o intuito de incutir medo na população, com a prestimosa colaboração dos media, gigantes tecnológicos e farmacêuticos, num conluio conveniente embora descentralizado e não planeado. “Façamos com que esta crise não seja desperdiçada” afirmou Emanuel Rahm, ex Mayor de Chicago e mais tarde membro da Administração Obama, quanto à crise financeira de 2007-2012. Mais uma vez em 2020-2022.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda o medo do SARS-Cov-2 subsistia e eis que, comprovando que a História não acaba nunca, a Rússia invade a Ucrânia. De novo a propaganda, o incutir do medo regressa com nova crise existencial, similar à dos anos 80 do século passado. A possibilidade da utilização de armas nucleares ou da destruição dos cabos de comunicação marítimos, por onde passam mais de 95% de todas as comunicações entre a América e Europa e entre a primeira e o Continente asiático, com consequências terríveis para o modo de vida Ocidental. Medo, sempre o medo.

Estas são o que chamaria crises existenciais à custa das quais o medo é exponenciado, às vezes a níveis insuportáveis. Pelo meio destas quatro décadas houve muito outros medos, desde o vírus informático Y2K que ia fazer parar todos os computadores do mundo a 31 de Dezembro de 1999, as armas de destruição maciça no Iraque, o terrorismo e o controlo nos aeroportos, o fim do sistema financeiro em 2008, o fim do Euro e a expulsão dos chamados PIGS da União Europeia, a invasão muçulmana da Europa. Medo, medo, medo sempre medo.

Todos estes medos, a que o Poder não é alheio, não podem deixar de destruir nas populações qualquer ideia de futuro e vontade de fazer e criar coisas. Diria Aristóteles que alguém com medo de tudo não pode deixar de ser pessimista e sem esperança. Neste sentido o mundo que se avizinha é pouco simpático, mas é o que é e, de certa forma, deliberadamente criado. Se por um lado esta sucessão de medos me deixa essencialmente cansado, cansadíssimo, íssimo, como escreveu Pessoa, por outro cabe-me perceber que são quase só e apenas resultado da procura de poder por uns, de ganhos financeiros ou de outro tipo por outros. E se conseguir, reagir, coisa de que não tenho a certeza seja capaz. É que na vida de cada um de nós há muita coisa bem real e palpável a temer neste vale de lágrimas, nenhuma está neste texto.