Nos anos ’70 foram divulgados estudos científicos que alertavam para uma tendência de arrefecimento global. Para além de outras observações relevantes, a temperatura média mundial tinha descido entre 1940 e 1970 e discutiu-se a possibilidade de estarmos à porta de uma nova era glacial.

Para além das publicações científicas, encontramos artigos na Newsweek e na National Geographic que deram alguma atenção e credibilidade a essas previsões. Mas nesse tempo não tínhamos internet, nem redes sociais, nem NGO’s ambientais, nem o James Hansen da NASA, nem o Al Gore, nem o alarmismo global. Em parte por causa disto, a discussão sobre a tendência de arrefecimento não entrou em histeria e não durou muito tempo. Não se concretizaram os seus receios e o mundo adaptou-se serenamente.

Trinta anos depois surgem as teorias do aquecimento global. Para quem tinha estado atento aos estudos sobre o arrefecimento dos anos ’70 deve ter parecido um pouco estranho. Para quem não tinha prestado atenção ou simplesmente não conhecia a matéria, foi o despertar para uma ameaça sobre o futuro.

Em termos de divulgação de uma tese científica, o que é absolutamente novo é a utilização massiva da internet e das redes sociais. Concertada entre cientistas ligados a instituições credíveis, ONG’s ambientalistas de diversas origens, políticos à procura de agenda. Após um período inicial de implantação e reconhecimento, as teorias ambientalistas converteram-se em políticas ambientalistas, adoptadas por governos e instituições internacionais.

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Sem entrar na discussão sobre as causas e os efeitos do aquecimento global, nem sobre os reais perigos que o mesmo representa, é importante tentar perceber e analisar os mecanismos de política ambiental que se foram criando nos últimos trinta anos.

Primeiro criou-se a ideia que estes problemas tinham de ser resolvidos à escala global. As soluções científicas propostas pelas ONG’s e pelos cientistas mais ruidosos transformaram-se em projectos legislativos indiscutíveis destinados a resolver o aquecimento global, assim eleito como problema número um do planeta.

As leis, como leis que são, seriam aprovadas pelos governos de todos os países, voluntariamente ou através de tratados internacionais. E por essa via, impostas de cima para baixo.

A implementação destas leis prioritárias implica o derrame de toneladas de dinheiro para cima dos seus executores. Essencialmente, burocratas de organizações internacionais.

Com a prioridade atribuída ao aquecimento global são redistribuídos a favor da causa os fundos existentes nos orçamentos nacionais e internacionais, descapitalizando outros problemas igualmente globais e também o incentivo à inovação que seria necessário para atacar a questão. Compromete-se assim a resolução de outros problemas ambientais, económicos, alimentares, migratórios. Em suma, outros problemas em geral. Bjorn Lomborg e Roger Scruton escrevem sobre o tema com muita clareza, abrindo o caminho a linhas de pensamento completamente diferentes.

Na verdade, esta ideia de defender soluções políticas globais que resolvem tudo e criam sociedades perfeitas, pensadas por iluminados e impostas às massas tem dado muito maus resultados nos últimos séculos.

Deitar tudo abaixo, a favor de um mundo novo contra um mundo velho, arrasando tudo o que existe, mesmo que exista com alguma imperfeição, mas também com muita força e tranquilidade. O ideal nunca é alcançado e pelo caminho destrói-se tudo o que mexe contra os seus defensores. O velho conflito Revolucionários vs Conservadores.

É curioso ver como no seio das instituições internacionais, como a ONU, estas novas teses ambientais, verdades absolutas, que apontam para um futuro radioso, têm vindo a ganhar palco.

Foi também uma surpesa ver a nova Comissão Europeia adoptar a causa como “O ASSUNTO” do futuro, fabricando rapidamente um European Green Deal para impor aos governos e cidadãos. Mas talvez não seja assim tão estranho.

Depois do contorcionismo da presidente da Comissão, a democrata-cristã Ursula von der Leyen, para obter a aprovação de todas as tendências eleitas em Junho de 2019, havia que pensar em algo novo que fizesse esquecer os problemas que há para resolver em Bruxelas, sem consensos a 27. Problemas como o Euro, que já não tem mais países candidatos à sua adopção, o Mecanismo Europeu de Estabilidade, a supervisão bancária do BCE, a imigração, os desequilíbrios da PAC, a distribuição dos fundos de coesão, a irrelevância na política externa e na defesa ou o pós-Brexit…

A nomenclatura e os eurocratas puseram-se a pensar e concluíram que havia que impor uma nova política, com um toque de modernidade até, um novo objectivo, tão importante que nos vai consumir nos próximos 30 anos, deixando por tratar os problemas difíceis que existem actualmente que comprometem não só o futuro, como a própria subsistência da União Europeia.

Com o European Green Deal entram toneladas de euros, verbas desviadas de outros fins, com mais alguns impostos certamente, impostos de cima para baixo.

É que as instituições não são como as pessoas: não nascem e morrem. Quando perdem a sua utilidade, quando não conseguem atingir os seus fins, os burocratas tomam conta e fazem o que for preciso para prolongar a sua existência e os seus empregos.

A este respeito, há um exemplo clássico de Milton Friedman sobre o FMI. Depois de Richard Nixon ter retirado o dólar do padrão ouro em 1971, o sistema fixo de taxa de câmbios deixou de funcionar e foi substituído por um sistema de câmbios flutuante. As funções do FMI, desenhadas em Bretton Woods, tinham deixado de existir com a decisão da administração norte-americana. No entanto, em vez de se caminhar para a sua extinção, o FMI, após um breve período em ponto morto, alterou os seus próprios fins e iniciou uma actividade de financiamento a Estados em dificuldades, com vista à promoção do desenvolvimento, actividade essa que já era exercida pelo Banco Mundial. Passámos assim a ter duas entidades internacionais com as mesmas funções. Friedman ainda acrescenta, num desabafo, que “(…) agora temos duas instituições para promover o desenvolvimento, ambas fazendo mais mal do que bem (…)”. Mas isso é outra história.

Para acompanhar a leitura: “Apeman”, Kinks