As eleições legislativas portuguesas vão criar uma paisagem política onde não existirá estabilidade, como aliás acontece em muitos estados-membros da União Europeia, em consequência direta do voto nos chamados partidos de extrema-direita. As considerações sobre a natureza destas forças partidárias, que vão variando, de caso para caso, são datadas dos anos 90, encontrando-se hoje muitas vezes desatualizadas.

Em 2007, o candidato do centro-direita às eleições presidenciais francesas, Nicolas Sarkozy, teve uma vitória estrondosa, vencendo a todos os níveis aos opositores políticos, desde os socialistas ao partido de Marine Le Pen.

As razões dessa vitória foram diversas, destacando-se duas que estavam ligadas aos temas típicos da direita: a segurança e a NATO. No primeiro tema, as políticas que assumiu como ministro de Jacques Chirac deram-lhe algum brilho. Em relação à Aliança Atlântica, as palavras proferidas numa conferência – “quando se precisa, pede-se, mas quando se deve ajudar, não se quer estar” – anunciavam o regresso da França à estrutura militar da organização do Atlântico Norte. Em suma, Sarkozy ganhou as eleições presidenciais com um discurso de direita e de forma transversal.

A fórmula sarkozyana, que tanto sucesso trouxe ao centro-direita, foi poucas vezes utilizada na Europa Ocidental. Na verdade, o centro-direita tem sido perito em dar a mão aos socialistas e em ostracizar os grupos à sua direita. São vários os exemplos, um pouco por essa Europa fora, mas vou citar apenas dois. O VVD holandês, embora liberal, é considerado de centro-direita e tem governado com todos os partidos à sua esquerda e com os conservadores holandeses. Neste mesmo sentido, o Governo do VVD escolheu sempre um socialista para comissário europeu, mais precisamente Frans Timmermans, o pai da agenda climática europeia que tantas dores de cabeça está a dar.

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Um outro exemplo paradigmático é o dos mandatos seguidos do socialista Martin Schulz como presidente do Parlamento Europeu. O Partido Popular Europeu e o grupo dos Socialistas tinham sempre um acordo de presidência rotativa no Parlamento Europeu. Schulz, a saborear 2 anos e meio de mandato, negociou com o PPE a repetição por mais 2 anos e meio, prometendo em troca outros dois mandatos seguidos ao grupo europeu do PSD e do CDS. Tudo isto seria perfeito se, no momento de eleger António Tajani, da Forza Itália, como candidato apoiado pelo PPE a presidente do Parlamento, o mesmo não viesse a ter como opositor um socialista.

A quebra do acordo por parte dos socialistas com a apresentação da candidatura de Gianni Pitella, dos democratas italianos, foi um bom exemplo da verdadeira natureza do “compromisso europeu”.

São estes exemplos que levam muitos dos eleitores do centro-direita a transferir o seu voto para outros partidos mais à direita. Em suma, estes casos desacreditam o centro-direita.

Em 2024, na realidade portuguesa, a fórmula Sarkozy não foi uma vez mais aplicada. A direita “moderada” não conseguiu até agora abordar os problemas que muitos eleitores de direita querem ver debatidos. Por exemplo, todos dizem que Portugal precisa de imigrantes em razão da falta de mão de obra, mas ninguém discute políticas de incentivo à natalidade. Diz-se que os dados não atribuem nenhuma relação entre a criminalidade e a insegurança, mas ninguém consegue explicar as causas do sentimento de insegurança dos cidadãos, num dos países supostamente mais seguros da Europa.

Um outro tema a ter em conta, que a direita moderada se recusa a debater, é a questão da Europa. Num artigo do jornal francês, Le Figaro, Mathieu Bock-Côté escreve sobre Ursula Von der Leyen (VDL) e a nomenclatura europeísta, dizendo que esta se “transformou ao longo dos tempos numa tecno-estrutura continental que pretende regulamentar todos os domínios da existência.” Mais, na revista francesa Marianne, esta de esquerda, diz-se que Bruxelas está a criar um problema, pasme-se, aos vitrais franceses, sendo que o mais antigo vitral é do século XIII. São estes pormenores que também ajudam ao crescimento do sentimento negativo contra a União Europeia.

A postura da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leiden, ao longo do seu mandato, tem sido dúbia em termos de agenda de centro-direita. Se, por um lado, tem apoiado Timmermans no desenvolvimento da agenda verde, que suspendeu agora por suposto respeito pelos eleitores, por outro, defendeu o espanhol Pedro Sanchez e atacou a italiana Giorgia Meloni pouco antes das eleições que os levaram ao poder. Mais, na primeira visita que Meloni fez a Bruxelas como presidente do Conselho, Von der Leiden deixou-a esperar meia-hora para a receber, apenas porque a primeira-ministra italiana se tinha reunido primeiro com Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, antes de se deslocar ao Berlaymont.

Não tenhamos dúvidas que a política ambiental da Comissão tem sido nefasta a vários níveis para o cidadão europeu e é uma causa directa do descontentamento generalizado dos agricultores da União Europeia, o que não invalida outros problemas locais que, também resultam das regras comunitárias, como é o caso da política agrícola comum.

As posições de Ursula Von der Leiden como líder da Comissão têm suscitado duras críticas devido ao que muitos chamam de gestão de cariz soviético, numa comparação com os comissariados comunistas. O centralismo de Von der Leiden deveria ser substituído por um conservadorismo-liberal que muitas vezes lhe falta no final do dia.

O centro-direita, aproveitando o congresso do PPE desta semana em Bucareste, na Roménia, deveria ter mais em consideração as preocupações dos seus eleitores. Em França, o centro-direita está a pender mais para a direita, porque já percebeu que o seu eleitor não o quer ver a apoiar as políticas centristas.

O centro-direita moderado português nunca debateu a Europa nesta campanha eleitoral a não ser para atacar quem o fizesse, chamando-o imediatamente de antieuropeísta. Sejamos claros, muitos dos problemas que vivemos hoje resultam do facto deste centro-direita ter abdicado das políticas conservadoras-liberais em prol do compromisso e do sistema imperial, pós-moderno ou pós-democrático.

Chegou a altura de o centro-direita ouvir os seus eleitores, tentar respeitá-los na Europa e em Portugal, obrigando o “socialismo democrático” a ser realmente democrático. O célebre “compromisso europeu” só faz sentido quando é assumido por ambas as partes. Caso contrário, os eleitores de direita continuarão a sentir-se defraudados.