Quando comecei a dar aulas há 26 anos, segui o método de ensino mais usado na área das ciências. O professor faz uma apresentação teórica dos assuntos com palavras, imagens ou vídeos. Os alunos tiram, eventualmente, algumas notas e fazem exercícios do livro. Por vezes, a turma realiza uma atividade prática indicada no livro ou uma experiência com determinado protocolo. Aparentemente, as aulas correram bem e os resultados dos meus alunos foram bastante positivos.

No entanto, certa vez, numa turma excelente que tive do 11º ano, fiz uma experiência muito simples. Os alunos realizaram um teste de avaliação e na aula seguinte fiz a entrega e correção do teste. Na semana seguinte, de surpresa, dei o mesmo teste de avaliação. Os resultados desceram 20%. Fiz isso novamente e os resultados continuaram a descer. Ou seja, com o tempo, o que os alunos tinham “aprendido” estava a desaparecer. O sucesso dos meus alunos era apenas aparente. Os alunos estudavam, absorviam a informação para depois “despejar” o seu “conhecimento” no teste de avaliação. Afinal, o conhecimento que adquiriam era apenas superficial. Como na altura andava a fazer investigação sobre o funcionamento do cérebro, tentei compreender este fenómeno. Concluí que os alunos tinham razão. O nosso cérebro não desperdiça energia. Por que motivo tinham de memorizar informação de forma permanente se achavam que não iriam precisar dela no futuro?

Esse momento marcou-me. Tomei a decisão de mudar de estratégia. Para que os alunos construíssem um conhecimento mais profundo e duradouro, deveriam utilizar a memória de longa duração. Foi aí que criei o método de ensino-aprendizagem, que tenho aplicado nos últimos 16 anos, e ao qual chamei de método investigativo. É uma estratégia inovadora, mas com raízes profundas no método socrático e na teoria construtivista de Piaget. Sócrates, o antigo filósofo grego, fazia perguntas ingénuas que levavam o aluno a refletir e a descobrir os próprios valores. Piaget sugeria que o aluno apenas constrói ativamente o seu próprio conhecimento através da relação experimental com o objeto.

O método investigativo impulsiona o aluno para construir o seu próprio conhecimento, através da experiência, mas com questões certas feitas no momento certo. Há um conhecimento individual que vai crescendo no aluno graças a uma prática investigativa com interrogações permanentes feitas pelo professor ou pelo próprio aluno. Este conhecimento individual vai sendo confrontado com o conhecimento coletivo, o estado da arte. Do “Só sei que nada sei” passa-se para “Uma experiência vale mais que mil palavras” e mais tarde “O que aprendi pela minha experiência está de acordo com o que está escrito na teoria?”. O aluno pode ouvir ou ler, ver esquemas ou vídeos, ou estudar centenas de horas sobre o que é uma célula, mas ele só compreende o que é realmente uma célula depois de a investigar com experiências. É semelhante às relações humanas: podemos conhecer muitas pessoas, mas só as conhecemos verdadeiramente quando temos experiências profundas de vida com elas.

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Qual o papel do professor neste método de ensino?

O professor deve fazer questões muito simples. Por exemplo, no estudo da atmosfera: por que razão o céu é azul de dia e de noite é escuro? No estudo do ciclo da água: o que acontece ao nível da água num copo quando um cubo de gelo no seu interior derrete? Qual a água que evapora mais rápido, a água doce ou a salgada? Na fotossíntese: será que os pigmentos das plantas produzem energia elétrica quando expostos à luz? Na fisiologia vegetal: será que as plantas também sentem dor? No estudo da célula: Será que é possível imortalizar seres vivos? Ou seja, em cada conteúdo programático, o professor estimula e desafia os alunos a investigarem através de experiências simples e desenhadas por eles sobre determinados temas do programa da disciplina. Propõe aos alunos que desenhem ou façam uma experiência para testar determinada hipótese, tentem explicar determinado fenómeno ou que apresentem uma solução para determinado problema na sociedade: cura de uma doença, desenvolvimento de uma tecnologia, construção de um dispositivo médico, etc.

O professor compreende as dificuldades do aluno, pois irá tentar raciocinar como ele para construir o conhecimento, seguindo o seu ritmo de aprendizagem. Muitas vezes, é uma descoberta partilhada entre o professor e os alunos.

Com o método investigativo, os alunos sentem o prazer de descobrir algo de novo através da pesquisa prática, pois são experiências inéditas e desenhadas por eles. Neste sentido, o método investigativo estimula a curiosidade, a criatividade, a imaginação, o pensamento crítico e desenvolve a capacidade de adaptação a novas situações, promovendo no aluno o gosto pela aquisição de conhecimento, uma vez que ele aprende como o pode construir.

O conhecimento construído pela experiência é um conhecimento vivido, cheio de emoções e raciocínio, muito próximo daquilo que entendemos por sabedoria. É um conhecimento profundo e duradouro.

O método investigativo promove efetivamente o verdadeiro sucesso escolar e origina, muitas vezes, descobertas científicas reconhecidas. Tenho antigos alunos que registam patentes, publicam trabalhos científicos em congressos nacionais e internacionais. Alunos que propõem novas teorias e desenvolvem tecnologias avançadas. Este ano, uma antiga aluna submeteu um artigo a uma revista científica de grande prestígio, apresentando uma abordagem inovadora e mais completa no diagnóstico e tratamento do cancro colorretal. Também, no presente ano letivo, na disciplina de Ciências Naturais e no conteúdo programático “Alimentação e Saúde”, uma turma do sexto ano já publicou um artigo de revisão sobre os nutrientes, a prevenção, tratamento e gestão da Covid-19 e, com base nessa descoberta, dois alunos do nosso Clube de Ciências criaram o primeiro protótipo de um difusor anti-Covid.

Caderno de Apontamentos é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.