Como parecem diferentes as espécies animais na Suécia. Os alunos falam todos sueco: exprimem-se com naturalidade, mentem em sueco com astúcia, falam inglês com uma pronúncia sueca perfeita. Os seus hamsters, coelhos e cobras falam também sempre sueco. O gato de um aluno sueco comunica-lhe em sueco fluente que quer sair à estepe; e o cão de um aluno sueco observa de modo inteligível que prefere certo granulado a outro.

Naturalmente o factor relevante é as línguas que os donos falam; os cães falam sempre a língua dos seus donos. É nessa língua que lhes comunicam quanto os estimam; e embora não seja surpresa que os estimem, é sempre motivo de satisfação para os donos que o digam de modo compreensível. E dizem-no tão bem que os donos, estando eles na sala ao lado, acreditam ao ouvi-los que se trata de outros donos a falar.

Um alvoroço recente foi causado pelo rumor de que uma tecnologia poderosa permitiria a alunos numa sala ao lado fazer-se passar por professores, e fazê-lo com êxito junto de professores; dizer-lhes aquilo que eles reconhecem, e, exactamente como na Suécia, na sua própria língua; satisfazer as curiosidades de um curso inteiro de medicina, escrever poemas indiferentes, ou referir as causas do declínio da Idade Média, sem que quem o faz tivesse a menor ideia sobre aquilo que está a fazer. Temeu-se assim que se possa instilar manha na escola; e que a verdade das coisas seja afectada.

Deite-se no entanto uma certa quantidade de água fria no alvoroço; os perigos que os professores correm são pequenos. Um cão ou uma máquina, como um cientista social, ou tantas outras condições, só é capaz de comunicar a alguém aquilo que essa pessoa já espera que lhe seja comunicado. Nenhum consegue espantar-se a si próprio; ou ofender as suas sensibilidades íntimas, ou políticas. Para tal seria preciso conseguir acreditar, duvidar, desejar, formular planos, ter esperanças ou poder fazer troça de frases; e essas são habilidades que nas escolas não vêm quase nunca ao caso. Conseguir enumerar as causas do declínio da Idade Média ou estudar medicina não requer nenhuma atitude especial sobre aquilo que fazemos: só que o consigamos fazer durante algum tempo.

É improvável que a vasta maioria dos professores espere dos seus alunos coisas que cães ou máquinas não consigam satisfazer; ou que espere ser espantada das suas convicções por membros tão pequenos da espécie. A sua educação consistiu em aprender a fazerem-se passar pelos seus próprios professores; a sua profissão, em temer que os seus alunos se possam fazer passar por eles, quando lhes aconteça estar na sala ao lado. A tecnologia poderosa, entretanto, faz-se passar satisfatoriamente por um aluno médio, isto é, por um cão sueco; mas um aluno médio só poderá causar apreensões a quem seja um dono iludido, isto é, a um professor mau.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR