No momento em que escrevo estas linhas ainda não é possível saber qual a reação dos líderes do PSD e do CDS ao desafio que lhes foi recentemente lançado pelo líder da ALIANÇA no sentido de se constituir uma coligação eleitoral de centro-direita para concorrer ao próximo acto eleitoral.

Pedro Santana Lopes, em face das últimas sondagens tornadas públicas, alertou (e bem) para a necessidade de constituição de uma tal coligação como a única forma realista de enfrentar o PS e os restantes partidos de esquerda nas próximas eleições legislativas.

Com efeito, só uma grande união política à direita é que terá a capacidade para fazer despertar o país da “anestesia” dada pelo governo da geringonça, o qual se limitou a ir à boleia do ciclo económico positivo que atravessamos, criando assim na opinião pública a ideia (falsa) que o bom momento da economia portuguesa constitui mérito da actual solução governativa.

Contudo, muito honestamente, é pouco provável que quer Rui Rio quer Assunção Cristas se mostrem disponíveis para a realização de uma tal coligação.

Rui Rio e Assunção Cristas parece que ainda não compreenderam que  o seu “seguro de vida” político estaria na constituição da coligação proposta por Santana Lopes.

Santana Lopes nada tem a perder com a proposta que fez.

Mas Rui Rio e Assunção Cristas tudo terão a perder, inclusivamente as suas próprias carreiras políticas, se no dia 6 de Outubro as legislativas lhes correrem (muito) mal.

Assim, admitindo como sendo altamente provável que a direita se apresente desunida ao próximo acto eleitoral e admitindo ainda que tal desunião se vá traduzir numa pesada derrota eleitoral para os partidos que a representam, em especial o PSD, pode ser que, no meio da derrota, surja finalmente uma oportunidade política que permita clarificar a actuação da direita democrática Portuguesa na vida nacional.

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É cada vez mais imperioso, perante os extremismos e radicalimos que, à direita e à esquerda, abundam por esse mundo fora, que a direita democrática portuguesa “saia do armário” e assuma sem complexos perante o eleitorado o seu ideário político liberal e conservador.

Liberal, porque a direita democrática acredita no Estado de Direito, num Estado que sirva os seus cidadãos e que não se limite a servir-se deles, respeitando assim os seu direitos fundamentais.

Liberal, porque a direita democrática acredita na economia de mercado e na liberdade da sociedade civil, batendo-se pela criação de uma sociedade que só pode ser rica se assentar na educação dos seus cidadãos e na iniciativa das empresas, pois a única fonte geradora de riqueza e de emprego sempre foram as empresas privadas e não o Estado.

Por muito que a esquerda o queria negar, só o capitalismo é que gerou sociedades de riqueza e de bem estar.

Por isso, se o capitalismo gera injustiças, é sinal que temos de o aperfeiçoar, não persegui-lo.

Conservadora, porque a  direita democrática não aceita que se queira mudar repentinamente valores e instituições que se confundem com o nascimento da própria Humanidade.

Daí que a direita democrática se assuma neste momento como o único garante da liberdade perante a ofensiva cada vez mais agressiva das brigadas do politicamente correto que a esquerda radical largou no espaço público com o objectivo claro de nos impôr a mordaça totalitária do pensamento único.

Por conseguinte, esta definição político-ideológica da direita democrática portuguesa tem de passar, inevitavelmente, pelo rearrumar do espectro partidário à direita, a começar pelo PSD.

O PSD é, desde há muito, um verdadeiro equívoco ideológico.

Tendo inicalmente recebido a ala “liberal” do marcelismo, com o andar dos tempos o PSD tornou-se num grande albergue espanhol, coexistindo no seu seio sociais-democratas (hoje devem restar poucos), liberais, conservadores, nacionalistas, gente da direita, do centro-direita e do centro-esquerda.

O PSD, mesmo nos tempos em que era PPD, nunca assumiu publicamente ser um partido de direita, “pecado” este, aliás, extensível ao CDS, situação esta que se nos anos a seguir à revolução e aos ventos socialistas que dali sopraram era historicamente compreensível (mas não aceitável, pois a direita democrática nada tem a ver com o salazarismo), hoje, não faz qualquer sentido que a direita democrática não se assuma como tal perante o país.

O actual PSD dirigido por Rui Rio já veio dizer que não é de direita.

É provável que no PSD haja muitos que não pensem como ele, sendo também altamente provável que o eleitorado tradicional do PSD não se reveja nesta reorientação para o centro-esquerda de Rui Rio.

É tempo de o PSD se definir com quer estar e, sobretudo, quem quer ser?

Um partido social-democrata? (para isso já existe o PS)

Um partido democrata-cristão? (para isso já existe o CDS/PP)

Um grande partido da direita liberal e reformista? (que tem sido sempre a sua verdadeira vocação desde Cavaco Silva até Pedro Passos Coelho)

A política continua a assentar em ideologias. No dia em que a ideologia desaparecer da política, é a própria política que desaparece para dar lugar a outra coisa qualquer mas que não será certamente política.

A direita democrática portuguesa tem de dar a cara e, por isso, torna-se imprescindível que o PSD nos diga, de uma vez por todas, quem é e com quem é que quer estar.

Seria bom que o PSD nos dissesse isto sem ter que suportar uma pesada derrota eleitoral no dia 6 de Outubro.