Antes de os filhos nascerem, o tempo e o espaço da relação amorosa desenhavam-se, no dia a dia, a dois. Não era necessário muito planeamento para o romance. O nascimento de um filho transforma as rotinas, os cuidados, as preocupações e as alegrias, e a família tem que redesenhar o dia a dia e reinventar o amor que os une.

A habitual rotina diária dos pais com os filhos é, hoje, muito acelerada, entre a escola, o trabalho, e casa. É preciso acordar os filhos, vesti-los, preparar-lhes o pequeno almoço, levá-los à escola, ir trabalhar, ir buscar à escola e, depois regressar a casa, ir a alguma atividade extraescolar ou brincar um pouco no jardim e em casa, dar banho, acompanhar os trabalhos de casa, fazer o jantar, contar uma história de boa noite, acordar a meio da noite quando um filho chora, tem fome, ou está doente.

Alguns pais e mães vivem para os filhos de forma profundamente dedicada, com um amor exclusivo, relegando a relação amorosa do casal para um lugar de segundo plano. Existem momentos em que é necessário, tempo e momentos de envolvimento afetivo entre pais e filhos, de proximidade física, carinho, ternura, partilha do cuidado. Mas têm que existir momentos em os pais precisam de estar em conjunto, só a dois. Também têm que existir momentos para cada um, em que cada pai e mãe tenha tempo para si, para as suas atividades pessoais. Existem momentos em que é preciso tempo para estar com família alargada e tempo para os amigos. E existem períodos em que é preciso tempo para cada um descansar, relaxar e não fazer nada por um tempo.

Os pais vivem numa rotina acelerada, e quando dão por isso, o dia anterior foi igual ao de hoje e os dias vão se repetindo, de igual forma. Essas rotinas afetam e alteram a vida a dois, numa presença quase mecanizada e previsível. Por isso, nesta acelerada rotina, os pais tendem a acomodar-se numa relação conjugal onde, muitas vezes é difícil encontrarem tempo um para o outro. E assim, descuidam a construção do amor, o que pode gerar desencontros relacionais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Desacelerar a vivência destas rotinas é uma escolha necessária, que deve ser consciente. É preciso que os pais criem o tempo necessário para namorar, para viver o romance entre si, como quem agenda uma reunião de trabalho, à qual, mesmo cansado, não se pode faltar ou cancelar, ao contrário do que, muitas vezes, acontece nas atividades que são combinadas entre os dois.

Os pais precisam obrigatoriamente de um tempo para se observarem mutuamente e procurarem sentir o que outro está a sentir. Os pais precisam de tempo para cuidar do amor que os une, devem aprender a viver e valorizar os bons momentos da relação, aprender a lidar com a preocupação, frustração e cansaço, com a despreocupação e alegria, para evitar crises relacionais e, em extremo, a separação ou divórcio, que pode bem acontecer durante o casamento, enquanto vivem na mesma casa, sem que disso deem conta.

A relação a dois é uma construção recíproca constante, uma dança a dois. Uma dança dinâmica. Mas não se pode dançar sempre ao som da mesma música, com a mesma dança. O amor e as relações afetivas constroem-se e atualizam-se de acordo com as mudanças e ajustes que acontecem na vida, expressando-se de diferentes formas, de acordo com as novas realidades.

É necessário que os pais tenham a iniciativa de realizar movimentos de aproximação entre si, ter iniciativa de convidar o outro para um jantar, uma viagem, um fim de semana, um passeio. Para isso é necessário que possam passar tempo os dois juntos, para conversarem e partilharem o(s) seu(s) dia a dia. É preciso planear este tempo a dois, reservando-o nas agendas, fazendo com que o outro se sinta especial num tempo a dois, afetuoso onde ambos estejam efetivamente “presentes”. Uma relação amorosa construída com partilha, dá segurança e tranquilidade.

Uma relação amorosa entre os pais, com um beijo, um carinho, um abraço, um sorriso, é também fundamental para a construção dos modelos de amor dos filhos. É preciso passar uma mensagem de amor para o futuro dos filhos. Quando os filhos que crescem a ver os pais a gostarem um do outro, a partilhar afeto, ternura, numa cumplicidade cruzada, de respeito mútuo, de amor recíproco, os filhos sentem-se no presente e no futuro mais seguros e tranquilos nas suas próprias vivências afetivas, com um sentimento de satisfação, e com facilidade em darem e receberem amor, estando assim mais preparados para os desafios que vão percorrer ao longo da sua vida, transportando consigo um modelo de amor e de harmonia para a sua vida.