Abaladas as convicções (pandemia com grande mortalidade é coisa do século passado!), provado que, na 3ª vaga, o país foi o pior da Europa em número de infetados por 100 000 habitantes (Portugal não aguenta sob o ponto de vista económico um segundo confinamento, dizia-se em dezembro), há certezas para o futuro?

A certeza única é a da necessidade urgente e inadiável de uma estratégia coordenada, organizada e concertada neste tempo terrível de incerteza.  E os militares são os estrategas por profissão, estudo e treino, atentos ao sinal que pode significar vidas perdidas, ao que não se vê mas se adivinha, prontos a modificar e adaptar conforme as circunstâncias e antes de acontecer.

Mas há certezas que são informar, vacinar, testar, identificar os contactos, controlar os infetados e equipar os serviços.

Começar pelas pessoas – informar, informar, informar, campanhas adequadas, por criativos e especialistas do comportamento (as redes sociais são uma mais-valia) evitando a culpabilização gerada pelo estilo se não tivesse abraçado o avô não teria acontecido e vê-se alguém supostamente a morrer nos cuidados intensivos.

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Vacinar, vacinar, vacinar, com critérios bem definidos, coordenado a nível central mas com envolvimento local das autarquias e instituições de saúde, alargamento dos locais às farmácias e pavilhões desportivos e outros locais, com profissionais de saúde que podem incluir reformados e voluntários. Libertando os médicos e enfermeiros dos Centros de Saúde para consultas e urgências de doentes COVID e não COVID.

Testar, testar, testar todos os sintomáticos mesmo que os sintomas sejam pouco sugestivos e todos os contactos. Os testes devem ser gratuitos e sem necessidade de prescrição, com regras definidas e em locais variados na comunidade como as farmácias mas também muitos outros.

Identificar os contactos, através de inquéritos epidemiológicos a todos os positivos, identificação dos contactos e acompanhamento telefónico dos períodos de isolamento, actividades que podem ser efetuadas por profissionais de saúde voluntários e reformados de modo a libertar os médicos dos Centro de Saúde e de Saúde Pública para outras tarefas.

Controlar e seguir os doentes COVID com doença ligeira no domicilio evitando idas à urgência hospitalar não justificadas com equipas que podem integrar profissionais de saúde voluntários e reformados, de modo a libertar os profissionais dos hospitais para os cuidados aos doentes internados. E ainda prevenir a decisão tardia de recorrer aos hospitais nos casos de agravamento de modo a evitar a sobrecarga nos cuidados intensivos.

E finalmente, equipar, equipar, equipar os hospitais que têm de estar preparados com recursos humanos, equipamento e camas suficientes e flexíveis permitindo aumentar hoje e diminuir amanhã, prevenindo exaustão e burnout.

As certezas para o futuro são que todos temos um papel a desempenhar e todos precisamos uns dos outros, mais novos ou mais velhos, activos ou reformados activados.

Maria do Céu Soares Machado, MD, PhD, é Professora Catedrática Jubilada da Faculdade de Medicina (Universidade de Lisboa) e Presidente do Conselho Disciplinar Sul da Ordem dos Médicos. Maria Isabel Santos é Especialista de Medicina Geral e Familiar, membro do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos e Professora da Nova Medical School aposentada