Para mim, a notícia da semana são quatro. E ninguém reparou em nenhuma. A primeira é a de que um partido chamado Chega não consegue legalizar uma coligação chamada Chega por causa da existência de um partido chamado Chega, que por acaso integra a coligação chamada Chega, a qual aliás já não se chama Chega pelos motivos acima expostos. Os responsáveis por este enredo já submeteram ao Tribunal Constitucional várias hipóteses, da referida Chega a Coligação Chega, passando por Europa Chega. Todas foram rejeitadas. Da última vez que vi, tinham submetido o nome Basta, que ameaça tornar-se profético: o chefe daquilo, um sujeito que discute penáltis em programas de variedades, garante que, se Basta “for chumbado por ser equivalente de Chega”, ele desiste destas vidas. Não convém dramatizar. Ainda restam alternativas capazes de descrever as intenções desta força política, logo que se apure se a dita força pretende mostrar satisfação ou impaciência. Num caso ocorre-me É Suficiente. Ou Já Está Bom. Ou Se Melhorar, Estraga. No outro caso, sugiro Rais Parta Isto. Ou Chiça Que É Demais. Ou Europa Chiça Que É Demais. Não têm nada que agradecer.

A segunda notícia dá conta dos desabafos de Rui Tavares, que jura que “todos os partidos instalados na política portuguesa têm medo do Livre”. É a velha síndrome do Estrela da Amadora, evidente quando uma pessoa ou instituição quase inexistentes afirmam uma importância que manifestamente não possuem. O exemplo clássico é o do treinador da bola que garante que “O Estrela da Amadora está a incomodar muita gente”, ainda que perca cada jogo por mais de 5-0. O Livre obteve 2% nas anteriores “europeias” e 0,7% nas “legislativas”. As únicas criaturas com genuíno medo deste partido são os os seus próprios candidatos, que não vêem maneira de conseguir um emprego por via eleitoral. O dr. Tavares, então, andará aterrorizado. Quem perde? O país, a UE e a humanidade, claro, que ao desprezarem o Livre desprezam propostas decerto espectaculares em matéria de, cito, “rendas controladas, transportes públicos e carros elétricos”, além de um “novo plano verde”, que não sei o que é mas promete. Palpita-me que não irá cumprir.

A terceira notícia da semana prende-se com as reacções a um artigo de Adolfo Mesquita Nunes na “Visão”. Fiquei espantadíssimo: não fazia ideia de que a “Visão” ainda era viva. O artigo e as tais reacções, geralmente entusiásticas, espantaram-me menos. A nossa direita não perde uma oportunidade de se mostrar moderna, tão moderna que às vezes parece querer desfilar com uma esquerda essencialmente fossilizada em 1960. O dr. Mesquita Nunes identifica bem a “direita musculada, cheia de testosterona”, que pelos vistos promove “ataques à liberdade de expressão, à liberdade académica, à liberdade religiosa, à liberdade política”, além do “desrespeito” pelas “minorias”. Infelizmente, identifica mal a dimensão dessa perigosa espécie, no pressuposto, um tanto apressado, de que todos os eleitores dos “ditadores” e “torcionários” Trump, Bolsonaro e Orbán querem o mesmo, e que o mesmo consiste em devolver o mundo às trevas. Sobretudo o dr. Mesquita Nunes acredita que a parlapatice em volta das “minorias” está de alguma maneira ligada ao “respeito” pelas ditas, e não a um pretexto descartável de influência e poder. À força de esconjurar a intolerância de certa direita, que é real, acaba por presumir a tolerância de certa esquerda, que não é. Ao não prescindir da “liberdade como valor primeiro da dignidade da pessoa humana” [sic], o dr. Mesquita Nunes está correcto. A chatice é que a liberdade não se alcança a combater exclusivamente os inimigos definidos pelos “telejornais”, o site esquerda.net, o ISCTE e demais albergues de laparotos. Por uma vez, esta semana um político português disse o fundamental sobre o assunto. Em sessão no Reddit, perante a pergunta: “Qual a opinião da Iniciativa Liberal acerca da liberdade de expressão, especialmente no contexto de expressões que podem ser consideradas ofensivas, mas não sejam difamatórias, caluniosas e/ou incitem à violência?”, Carlos Guimarães Pinto respondeu assim: “Eu quero que quem pretende limitar a minha liberdade de expressão se foda”. E, ao contrário do dr. Mesquita Nunes, disse tudo.

A quarta notícia da semana é a de que uma escola de Barcelona retirou cerca de 200 livros – um terço do acervo, entre eles “O Capuchinho Vermelho” e a “Bela Adormecida” – por achar que transmitem valores “tóxicos” às crianças. Começo por notar que tóxico é o uso da palavra “tóxico” fora do contexto clínico original, e que a ignorância daqui decorrente explica em boa parte o resto. Pelos vistos, um grupo de mães desocupadas decidiu formar uma comissão de censura e desatar a sugerir a proibição de obras perigosas: “Na primeira infância, as crianças são esponjas e absorvem tudo à sua volta, pelo que acabam por assumir como normais os padrões sexistas.”, diz uma das senhoras. Também há adultos que são esponjas, inclusive em matéria de alucinações. Alguns, por exemplo, acreditam ser intolerável que um lobo (macho) engula o Capuchinho (fêmea), e que um príncipe beije uma senhora a ressonar sem a autorização desta. Por mim, podem deixar que o lobo coabite com a catraia numa relação interespécies com partilha de tarefas. E podem prender o monarca abusador, deixar que a moça continue em coma profundo e organizar manifestações à porta do castelo a exigir a eutanásia. Aliás, podem fazer o que quiserem: esta não é apenas a geração mais informada de sempre, mas a mais ridícula. Se este é que é o tal “mundo melhor” das lengalengas, fiquem com ele.

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