“Primeiro Portugal, depois o partido; por fim, a circunstância pessoal de cada um de nós.”

A frase é do fundador do PSD, Sá Carneiro, e diz muito da postura que o antigo primeiro-ministro e líder dos sociais-democratas tinha perante a vida pública e a política. A mesma, em 2013, serviu de exemplo e pedra de toque a Paulo Portas, durante aquele momento difícil do “irrevogável”, como razão cimeira para a sua permanência no Governo de Passos Coelho, durante o período dificílimo que Portugal viveu ao tempo da Troika. Nunca é demais lembrar que também essa crise política foi da inteira responsabilidade do PS – ou já se esqueceram de que foi José Sócrates quem levou o país à bancarrota e quem negociou a vinda da Troika?

A mesma frase deveria, hoje, ser também aplicada ipsis litteris, pelos atores políticos que disputam as lideranças dos dois partidos de Centro-Direita. É que primeiro está mesmo Portugal, e os portugueses não podem nem vão entender que assim não seja.

A crise política, da exclusiva responsabilidade da esquerda, com o beneplácito de António Costa, que se fez de morto nesta negociação do Orçamento e ficou a ver o “circo pegar fogo” na expectativa de dar um novo elan ao PS – após o murro no estômago que foram as últimas eleições autárquicas – leva-nos agora a esta realidade chamada eleições antecipadas, e altera os planos políticos e pessoais de muita gente. Até já tivemos o primeiro-ministro a pedir uma maioria absoluta da tribuna da Assembleia da República, sinal de que o teatro do orçamento não passou disso mesmo, um golpe de teatro de Costa.

Aliás, desde 2019 que se adivinhava este desfecho, um governo minoritário e sem acordos escritos entre a esquerda nunca poderia dar a estabilidade governativa de que o país precisava. Isto foi algo que Cavaco Silva viu desde o primeiro dia, razão por que obrigou os parceiros da geringonça a porém preto no branco esse compromisso. Já o analista profissional Marcelo Rebelo de Sousa, agora Presidente da República, achou que a ideia de compromissos era coisa do passado. Correu mal, também muito por sua responsabilidade.

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Assim, a geringonça está oficialmente morta e entramos num novo ciclo político. É a este ciclo político que o CDS-PP tem a obrigação de dar a sua máxima atenção e prioridade, é em Portugal que se deve concentrar e encontrar o foco. O foco é o País e o programa que o CDS deve preparar e apresentar aos portugueses, e isso todos têm a obrigação de entender.

Se para Cavaco Silva a 7.ª avaliação da Troika foi, nas suas palavras: “uma influência de Nossa Senhora de Fátima”, para os militantes do CDS-PP não será o Congresso de per si, seja ele agora ou depois, que será o milagre divino e providencial, vindo de Nossa Senhora e que fará o partido reencontrar o seu caminho. É-me de todo indiferente participar no conclave neste momento ou depois, porque deixei de acreditar que o congresso, nas atuais circunstâncias, seja capaz de ser esclarecedor. Não me parece que seja mais do que um grande ruído e que aos olhos dos portugueses mais pareça uma luta quase mortal do poder pelo poder.

O que eu quero é discutir as ideias, preparar os melhores, angariar quem queira participar, motivar o eleitorado pelas bandeiras que defenderemos e ser capaz de ser uma força motriz para a mudança de ciclo.

Por isso, é neste momento obrigatório enterrar o machado de guerra e olhar para o essencial e não para o acessório. E o essencial é Portugal e a construção de uma alternativa de Direita que possa condicionar a governação dos destinos de Portugal.

O que eu e os eleitores queremos saber agora é qual será a estratégia. E é aí que mora a grande questão? Que estratégia tem ou terá o CDS-PP para apresentar? E isto obriga a que Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo trabalhem juntos e já.   A bem do partido e de Portugal os dois tem de ser capazes de construir uma ponte e um ponto de entendimento e os dois têm de estar no centro dessa união. Eu sei que muitos dirão que é ingenuidade minha, mas para mim nada do que ultimamente tenho assistido faz sentido. E, como eu, a maioria dos portugueses.

Fica então a pergunta: que golpe de asa têm estes dois homens para inverter o declínio do CDS? Que futuro propõem para o CDS? que estratégia e que alternativa para contrariar o crescimento do Chega e da IL vão partilhar com os militantes, na esperança de a mesma ser entendida depois pelo eleitorado.

Que vão eles dizer ao eleitorado e que justificação vão apresentar para que o mesmo possa entender por que razão andou o CDS nos últimos dois anos entretido com questiúnculas internas? Foi também por isso que o eleitorado deixou de crer ser o CDS uma verdadeira alternativa ou, pelo menos, fazer parte de um projeto de alternativa à direita, com o PSD. Paulo Rangel já veio dizer que cada partido deve ir sozinho a eleições, o que obriga a um esforço extra de todos nós, para unir em torno de um objetivo comum.

Onde antes o CDS-PP era, a par do BE, dos poucos partidos que mais conseguia chegar aos jovens, hoje essa posição foi tomada pela IL que, com um marketing político genial e meia dúzia de bandeiras – sendo a dos impostos a mais “badalada” – consegue fazer passar a sua mensagem. E, nos últimos dois anos, a IL fez bem o trabalho de casa e cresceu e vai continuar a crescer nas próximas legislativas, também muito por demérito do CDS.

Por sua vez, o CDS andou dois anos virado para dentro e focado numa luta fratricida, onde os dois lados andaram entretidos em lutas e onde o grupo parlamentar e o Presidente remaram tantas vezes sozinhos e desencontrados, na procura de passar uma mensagem.

Os últimos três resultados eleitorais podem ter várias interpretações e cada lado fará a leitura que mais lhe convém. Mas que fará o CDS com a “bagagem” política que tem? É que o CDS tem a vice-presidência do Governo Regional dos Açores, da Madeira e a vice-presidência da Câmara Municipal de Lisboa. O partido tem uma rede de autarcas, mesmo que sejam menos, seis presidências de câmaras municipais, que nem o BE nem a IL nem o PAN e muito menos o Chega têm sozinhos, ou todos em conjunto. O CDS tem estruturas em todos os distritos, em quase todos os concelhos do país, desde a bolha mediática das duas maiores cidades do país ao país profundo.
Que vão eles fazer com tudo isto? É que se trata de uma base política que, bem trabalhada e com um discurso claro e certeiro, com um número de bandeiras que realmente toquem as pessoas, pode ser o golpe de virada da sentença de morte que muitos nos deram. Pensar que acontecer o Congresso agora vai, só por si, resolver de forma miraculosa a vida interna do CDS é estar a ver o filme errado.

Mais do que um congresso, o que o CDS precisa é de união e compromisso de todos, o que o CDS precisa é de foco. Acabar de vez com a guerra interna e ter um único objetivo em mente: evitar a extinção e a irrelevância. Para isso é necessário que haja responsabilidade de todos. É a única forma de salvar o partido.