Nos últimos 8 anos, tem havido muita especulação sobre a permanência do governo e a imunidade política do primeiro-ministro António Costa, especialmente desde a conquista da maioria absoluta pelo PS. Apesar dos escândalos, da falta de estratégia, da óbvia falta de projeto para o país e da perda constante de membros do governo, a queda do primeiro-ministro não ocorrerá até que os eleitores vejam uma alternativa clara por parte da oposição.

Francisco Mendes da Silva escrevia no Jornal Público, a 12/08/2020: “… a direita democrática portuguesa… Caso ainda deseje salvar-se só há um caminho: o PSD, o CDS e a IL têm de começar rapidamente a construir uma proposta política única”.

O que nos leva a perguntar: mas então porque razão a direita portuguesa ainda não conseguiu apresentar um projeto alternativo, convincente, capaz de mobilizar o eleitorado e conquistar o poder?

A resposta a essa pergunta é relativamente simples. Além de ter sofrido de uma carência gritante de liderança durante vários anos, a direita política em Portugal tem enfrentado uma falta de visão estratégica, uma política fraca e uma escassez de ideias claras e inovadoras para apresentar ao país. O que se resume em poucas palavras: Não tem ainda um projeto alternativo ao do PS.

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Para além disso, os políticos de direita parecem não compreender que o eleitorado não vai confiar novamente o voto e o governo a um partido ou partidos que baseiem a sua estratégia política em “ações” de há uma década atrás.

A política e a forma de fazer política mudaram e evoluíram. A direita precisa de evoluir e apresentar propostas atualizadas, capazes de enfrentar os desafios contemporâneos. A Iniciativa Liberal (IL) tornou-se atrativa para um certo eleitorado de Direita nos grandes centros urbanos, por apresentar um “ar mais arejado”.

É crucial reconhecer que a estabilidade política de um país depende de um sistema multipartidário saudável, onde diferentes visões e ideologias possam ser debatidas. A existência de uma oposição forte é fundamental para que um governo seja responsável perante a população. No entanto, a falta de uma alternativa viável, tem perpetuado o poder do atual governo e deixado os eleitores sem uma escolha clara. Os anos de Rui Rio como líder do PSD foram marcados pela falta de ação política e deixaram marcas sérias na Direita e no PSD em particular. Ou os anos de disputas internas do CDS. É momento de parar, olhar para o futuro e agir.

Uma das principais razões para essa falta de alternativa é a ausência de renovação dentro dos partidos de direita. Muitos líderes políticos têm ocupado cargos de destaque por décadas, sem demonstrar uma verdadeira adaptação às demandas e necessidades da nova realidade política. O país já não os ouve. Mais uma vez, a IL é prova de que é possível não ter palco mediático ou anos e anos de aparelho partidário para conquistar a confiança do eleitor. O que é necessário são ideias coerentes, com ligação à realidade e boa comunicação – algo que os grandes partidos clássicos de direita perderam.

Enquanto isso, o eleitorado, especialmente a geração mais jovem, procura líderes e partidos que compreendam e abordem as questões contemporâneas, como as mudanças climáticas, a desigualdade social, o elevador social que parou, a habitação e a digitalização da economia e tantas outras que marcam a agenda atual.

Além disso, a falta de uma agenda política clara e articulada também tem prejudicado a direita. Praticamente desde o fim do governo de Passos Coelho, a direita tem-se perdido em disputas internas e divergências ideológicas. É essencial que os partidos de direita estabeleçam uma plataforma sólida, com propostas realistas e eficazes para enfrentar os desafios do país. Isso requer um diálogo aberto e uma colaboração entre os diferentes setores da direita política.

Creio que não seja necessário dizer que me refiro apenas à Direita democrática. O Chega, seja aquilo o que for, apesar dos votos de protesto que tem, não é nem tem condições para ser alternativa a nada. Trata-se de um projeto unipessoal alicerçado em premissas perigosas e num género político perigoso e anti-democrático.

Os eleitores procuram líderes que possam cativar e transmitir confiança, que tenham a capacidade de mobilizar e unir as pessoas em torno de um objetivo e de um projeto comum. Líderes como Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Sá Carneiro ou Freitas do Amaral são exemplos dessa capacidade de agregar. Caberá neste momento a Montenegro ou ao próximo líder do PSD, a Nuno Melo e a Rui Rocha resgatar essa confiança, construindo e apresentando um novo caminho aos portugueses.

É essencial que a direita seja capaz de despertar entusiasmo e esperança na população, tornando-se uma alternativa atrativa ao atual governo. No entanto, é importante lembrar que a política não é apenas uma batalha de ideias, mas também de estratégia. A direita precisa de aprender a comunicar e a articular as suas propostas de maneira eficaz, conquistando a confiança e a atenção dos eleitores. Isso requer um esforço conjunto para superar a fragmentação e a falta de unidade que têm caracterizado a direita portuguesa. Isso só poderá ocorrer com o surgimento de uma grande coligação de direita, como ocorreu com PSD, CDS e PPM no final da década de 70.

Nesse contexto, a atual conjuntura política portuguesa aponta para a necessidade de uma pré-coligação eleitoral de direita com o PSD, IL e CDS.

Portugal, a Europa e o Mundo enfrentam desafios económicos e sociais sem precedentes e é preciso apresentar uma alternativa séria e credível para responder a estas dificuldades. A tal “bazuca” será a nossa última grande oportunidade para fazer as grandes reformas estruturais e para relançar a economia portuguesa. Portugal precisa de deixar de ser subsídio-dependente. Neste sentido, uma plataforma comum de direita com um projeto reformador, liberal e humanista pode ser a melhor, se não a única, opção para o país. Já nem vou abordar a simples matemática que são as eleições legislativas e o método D’Hondt, que claramente reforça a ideia de coligação.

A união da direita moderada em torno de um projeto alternativo para Portugal é fundamental para garantir um futuro próspero e justo para os portugueses. A proposta dessa pré-coligação poderá por exemplo enfatizar as novas tecnologias renováveis, como o hidrogénio e a possibilidade de Portugal se tornar um hub tecnológico de excelência.

Além disso, a reforma constitucional e fiscal é também uma necessidade urgente para Portugal. É preciso simplificar e modernizar a legislação para atrair investimentos e permitir que as empresas se desenvolvam. A reforma da justiça, da educação e a salvaguarda do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são igualmente importantes, mas com uma aposta clara na sociedade empresarial, pois apenas um país que reforça a sua economia pode crescer.

PSD, IL e o CDS têm valores semelhantes e uma visão de futuro que pode ser concretizada com uma aliança forte e coesa. A pré-coligação eleitoral permitirá que os partidos trabalhem em conjunto para apresentar uma proposta séria e ambiciosa para Portugal.

Uma coligação reformadora de direita é a melhor ou mesmo a única opção para Portugal. É preciso unir forças em torno de um projeto comum que permita ao país enfrentar os desafios do presente e construir um futuro melhor para todos os portugueses. Em resumo, apresentar um sinal de esperança aos portugueses, como fizeram Sá Carneiro, Freitas e Ribeiro Teles.

A permanência do governo atual, mesmo diante de escândalos e perdas de membros, é um reflexo direto da falta de uma alternativa claramente perceptível pela população. A direita política em Portugal precisa de se reinventar, apresentar propostas atualizadas e inspiradoras e demonstrar uma liderança forte e carismática.

Somente assim os eleitores considerarão a possibilidade de entregar o poder à direita. A construção de uma alternativa sólida requer esforço, cooperação e uma visão estratégica de longo prazo, longe dos egos ou da pequena política dos lugares e das ambições pessoais. Caso contrário, o atual governo continuará a usufruir da sua imunidade política, mantendo-se no poder, independentemente das razões inconfessáveis que possam surgir.

Marcelo só aguarda por esta grande coligação e alternativa para poder mandar para casa António Costa.