Robert Swan disse um dia que a maior ameaça à sobrevivência do planeta vem da pretensão que os outros é que o irão salvar. Uma frase que explica muitos dos desafios da reciclagem em Portugal. Afinal, porque não reciclamos mais? Porque pretendemos que os outros façam a reciclagem por nós?

Existem várias explicações, uma delas apoia-se na ideia de que a ausência de recompensa ou reconhecimento prejudica o esforço de reciclagem, ou seja, não vemos uma ligação imediata entre o esforço de separar as nossas embalagens e levá-las até ao ecoponto e, por exemplo, um país mais sustentável. Ninguém está lá para nos bater palmas ou agradecer pela ação e certamente não vamos pagar mais ou menos taxas de gestão de resíduos urbanos por causa disso. Porquê reciclar se nada parece estar a acontecer? Da mesma forma que é pouco avisado esperar sermos promovidos nos nossos empregos só porque o queremos muito, é no mínimo fantasista esperar que as nossas ruas, jardins, cidades e país sejam mais sustentáveis, mais limpos, só porque temos muito boas intenções e sonhamos muito com isso. A reciclagem exige esforço e tempo para alcançar resultados. Não é uma má ideia levantarmo-nos do conforto da nossa cadeira para obtermos uma promoção, é fundamental fazer esse esforço para termos sucesso. A necessidade de reciclagem deve ser vista assim.

Imagine se ninguém fizer esse esforço, qual é a consequência? Cada português produz atualmente 500 kilos de resíduos urbanos por ano, uma família com um ou dois filhos produz perto de duas toneladas por ano. Imagine que ninguém recicla e como os aterros estão a ficar sem espaço, os resíduos vãoficar na sua porta de entrada ou numa das divisões de sua casa. Consegue imaginar o caos e desconforto que se seguiria?

No entanto, há uma pergunta que persiste e tem toda a razão de ser: Podemos ser recompensados de forma mais imediata pelo acto de reciclar, ou seja, colocar as embalagens nos Ecopontos, por exemplo? Como?

Podemos começar por equilibrar o modelo de financiamento da reciclagem existente, recolhendo nos ecopontos mais embalagens recicláveis, elas têm valor! São matérias primas que se forem para aterro são desperdiçadass e que podíamos estar a enviar para a indústria recicladora nacional, para produzir novas embalagens!. Promover a reciclagem como uma ação positiva e geradora de riqueza para o país. Porque reciclar é um ato de criação de capital ambiental e económico e merece por isso ser reconhecido e recompensado. A título de exemplo é bom lembrar que nós todos pagamos a tal taxa de gestão de resíduos que vem agregada na nossa fatura de água, que varia não em função da quantidade de resíduos que produzimos e reciclamos, mas com base na quantidade de água que utilizamos. No limite quanto mais banhos tomarmos mais pagamos de taxa de gestão de resíduos. Porque não desagregar a cobrança desta taxa ou, pelo menos, alterar a forma como é calculada, reconhecendo e incentivando os portugueses que mais reciclam? Aceitemos que o ato de reciclagem é uma tarefa pedida aos portugueses e criemos formas de o recompensar e olhar para a fiscalidade verde e demais medidas fiscais como instrumentos de proximidade entre o consumidor, incentivando o seu comportamento e o compromisso com o Ambiente e a Reciclagem.

Somos mais do que meros pagadores de taxas. Se contribuímos para que o país seja mais sustentável devemos ser reconhecidos por esse comportamento. Porquê? Porque merecemos.

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