A maior parte das escolioses tem origem numa alteração genética e, até agora, ainda não se encontrou forma de a prevenir. A relação com o peso das mochilas ou as más posturas não passa de um mito, e o efeito protetor de determinados desportos ou exercícios não foi, até à data, demonstrado. Por isso, se tem – ou se os seus filhos têm – uma escoliose, não se culpabilize! Na verdade, nada poderia ter feito para a evitar.

O mais importante é fazer o diagnóstico o mais precocemente possível. Junho é o mês de sensibilização para a escoliose, e é a altura em que todos nos juntamos para chamar a atenção para esta doença. Os sinais de alerta são muito precoces e fáceis de identificar: um ombro mais alto do que o outro, uma diferença na altura ou na projeção das omoplatas, uma assimetria na cintura ou nas costelas. Basta olhar-se ao espelho, ou aproveitar uns dias de praia para olhar para os seus filhos – e detetar estes pequenos sinais.

Quando existe a suspeita de uma escoliose, uma simples radiografia da coluna é suficiente para fazer o diagnóstico e para caraterizar a curva, quer quanto ao seu tipo (há vários tipos de escoliose) e quanto à sua magnitude (a medida em graus). A escoliose tende a progredir durante o crescimento, sobretudo na fase de crescimento mais rápido. E se não é possível evitá-la, há várias formas de travar a sua progressão e impedir que evolua para uma situação tão grave que cause cansaço, dificuldade respiratória, dores recorrentes e uma deformidade do tronco demasiado visível e inestética.

Nos últimos anos, a evolução sobre o conhecimento da escoliose foi grande e as formas de a abordar têm vindo a mudar. Para as curvas mais pequenas, abaixo de 25 graus, têm surgido várias metodologias de exercícios específicos que parecem prometer bons resultados. A evidência científica deste tipo de tratamentos é, ainda assim, inexistente.

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Ao contrário, surgiu forte evidência sobre a eficácia das ortóteses (coletes) e é hoje, inquestionável, o seu benefício para travar a progressão de uma curva de gravidade moderada, entre os 20 e os 40 graus.

O terceiro patamar de tratamento é a cirurgia. Até há poucos anos, a cirurgia resumia-se ao que se chama “fusão vertebral posterior”. Sendo uma técnica amplamente utilizada, segura e com eficácia documentada, tem dois grandes óbices: a perda de mobilidade e de crescimento da zona operada. Esta técnica continua a ser a opção de eleição para curvas de magnitude superior a 50 a 60 graus.

A grande evolução recente foi o surgimento de técnicas que permitem manter o crescimento e a mobilidade, em simultâneo com a correção da curva, preenchendo o espaço entre as escolioses que não respondem aos coletes (acima de 40 graus) e que ainda não têm indicação para a cirurgia de fusão (acima de 50 a 60 graus). Nestes casos, a utilização de um sistema de distração do lado côncavo da curva tem mostrado bastante eficácia. A colocação deste tipo de sistema, no qual o Hospital CUF Porto foi pioneiro em Portugal, é feita por uma abordagem cirúrgica posterior da coluna vertebral, unilateral, numa cirurgia extremamente segura, com a duração de cerca de 90 minutos. Este procedimento permite o retorno precoce à atividade normal, incluindo a prática desportiva sem qualquer restrição, num período de 12 a 16 semanas.

Assim, neste mês de sensibilização para a escoliose, vamos estar mais atentos aos sinais: fazer o diagnóstico precoce é crucial para encontrar a melhor solução. Só a análise específica de cada situação permite escolher o tratamento mais adequado. Se tiver alguma dúvida ou suspeita, não hesite em contactar um Ortopedista Pediátrico ou especialista em Cirurgia da Coluna.