O debate em torno do “salário emocional” tem ganho destaque nos últimos anos, com muitas empresas e profissionais de recursos humanos a destacarem a importância de oferecer benefícios intangíveis para melhorar a satisfação e o envolvimento dos funcionários. No entanto, é crucial não perder de vista a importância das remunerações básicas, uma vez que o dinheiro desempenha um papel fundamental no bem-estar e na felicidade das pessoas, num país de rendimentos tão baixos, onde 50% das pessoas que trabalham não conseguem fazer face às despesas básicas mensais. Não estou a referir-me a luxos, estou a falar de saúde, alimentação e habitação. Nesse sentido considero que há um perigo real ao falar sobre o salário emocional sem antes garantir que as remunerações básicas estejam num patamar adequado.

Estudos internacionais têm consistentemente demonstrado a influência do dinheiro no bem-estar e na felicidade das pessoas. A pesquisa da psicologia e da economia comportamental mostra que o dinheiro é fundamental para atender às necessidades básicas, como habitação, alimentação, cuidados de saúde e educação. No caso de essas necessidades não serem atendidas de forma adequada, o stress financeiro pode tornar-se esmagador, afetando negativamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida.

Um estudo notável nesse campo é o Relatório Mundial de Felicidade, produzido pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Esse relatório classifica os países com base em vários fatores, incluindo rendimento per capita e bem-estar subjetivo. Em países onde o rendimento médio é baixo e as desigualdades são altas, a felicidade geral tende a ser menor.

Por outro lado, o salário emocional refere-se a benefícios não financeiros que os funcionários recebem, como reconhecimento, oportunidades de desenvolvimento profissional, flexibilidade no trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, entre outros. Esses benefícios desempenham um papel importante na satisfação e no envolvimento dos funcionários, contribuindo para um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

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Mas o perigo pode ser a tendência para que o salário emocional substitua as remunerações económicas. As empresas, ao darem um destaque desproporcionado ao salário emocional sem garantir remunerações básicas adequadas, estarão a contribuir para a degradação do ambiente de trabalho, onde os funcionários sentirão que as suas necessidades financeiras não são valorizadas por substituição por algo que não tem o mesmo propósito. Isso pode levar a uma lacuna entre as expectativas e a realidade, resultando em insatisfação.

As empresas devem adotar uma abordagem equilibrada, reconhecendo que tanto o dinheiro quanto o salário emocional são importantes para o bem-estar dos funcionários. Isso implica, em primeiro lugar, ajustar as remunerações básicas para um patamar capaz de deixar de ser uma preocupação, garantindo que os funcionários recebam um salário que permita uma vida digna. Somente após esse patamar estar atingido é que o salário emocional pode ser eficazmente implementado para melhorar o ambiente de trabalho e a satisfação dos funcionários.

Em resumo, o salário emocional é um componente valioso para melhorar o bem-estar e a felicidade dos funcionários, mas não pode substituir a importância das remunerações básicas. O dinheiro desempenha um papel fundamental no atendimento das necessidades básicas das pessoas. Portanto, é imperativo que as empresas priorizem a revisão das remunerações básicas antes de implementar estratégias de salário emocional.