Cada vez mais próximos do dia das eleições, com os programas eleitorais de cada partido já apresentados, temos assistido nos últimos dias a uma verdadeira caça ao voto por parte dos líderes partidários. Com a intenção de captar o maior número de votos e uma vez que falam para um país de baixos salários, o foco principal deveria ser esse, o aumento progressivo e equitativo dos salários. Mas o que os partidos de esquerda têm feito é falar para aqueles que recebem o salário mínimo nacional (SMN) e indiretamente para aqueles que recebem o salário médio nacional e dizer-lhes que em 2026 terão todos o mesmo salário. Ou seja, o plano da maioria dos partidos de esquerda é nivelar por baixo.

Fazendo um pequeno exercício de relacionar o SMN com o vencimento de um professor do ensino básico e secundário, entre 2009 e 2026, podemos chegar a algumas conclusões interessantes que deveriam ser o suficientes para perceber a falácia da afirmação de que a esquerda quer e gosta de valorizar os professores.

Se considerarmos a proposta do Bloco de Esquerda para o aumento do SMN para 1032 euros em 2026, teremos um aumento de cerca de 86% entre 2009 e 2026.

Se fizermos a comparação com os professores que em 2009, no índice 167 (1.º escalão), recebiam de vencimento bruto 1518,63 euros, previsivelmente, e considerando o aumento deste ano, 0,9%, até 2026, estamos a falar de cerca de 5% de aumento acumulado. E chamo a atenção para o facto de esta discrepância injusta acontecer com a maior parte dos salários que não o mínimo. Os professores, perspetivando estes aumentos e não considerando reformas na carreira remuneratória, chegarão a 2026 com o salário de cerca de 1592 euros.

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Se a este facto acrescentarmos a possibilidade de assistirmos às habituais propostas de isentar de IRS todos os titulares de SMN teremos os salários médios colados ao salário mínimo, com a diferença que os que auferem o médio, geralmente a já fustigada classe média, terá de continuar a pagar imposto sobre os rendimentos o que na prática faz com que em termos líquidos recebam ao fim do mês o mesmo salário.

Em janeiro de 2022 um professor que seja contratado ou esteja nos primeiros 4 anos de carreira, correspondentes ao 1.º escalão remuneratório, ganhará cerca de 1054 euros após impostos.

Com esta estratégia teremos cada vez mais portugueses a dependerem de subsídios de qualquer espécie para conseguirem sobreviver.

Portanto, enquanto o cavalo de batalha da esquerda for apenas o SMN, sem repercussões proporcionais nos restantes salários, sobretudo no salário médio onde se englobam os professores, sem uma estratégia de crescimento económico com alívio de impostos sobre as empresas para que estas possam crescer, produzir mais e consequentemente conseguirem aumentar salários, teremos um país cada vez mais empobrecido e carente do estado.

A estratégia é clara, nivelar por baixo, criar dependentes e garantir votos. É disto que o país precisa? Tenho a certeza que não. Acredito que ninguém queira que Portugal seja uma Venezuela europeia.

O país precisa de empresas saudáveis e potenciadoras de emprego bem remunerado, aliviar os impostos das empresas e ao mesmo tempo garantir, através de outros incentivos fiscais e respetiva fiscalização, que esse alívio tenha repercussões diretas no bolso do trabalhador, que também tem de ver aliviada a sua carga de impostos, através do aumento salarial.

Se ao menos a atual carga fiscal, a mais alta de sempre, fosse sinal de melhores serviços públicos, como a educação, a saúde, a justiça, os transportes entre tantos outros serviços, poderíamos não nos queixar, só que nos últimos anos todos estes serviços públicos se têm degradado. Como se justifica esta não proporcionalidade entre aumento de impostos e melhoria de serviços públicos?