O Stop vai mesmo encerrar.

Percebo o apego das pessoas, de cada um de nós, aos locais da nossa vida. Percebo que, num primeiro momento, as emoções se sobreponham aos factos e à razão. Mas, somos todos seres racionais, com obrigação de interação responsável com a realidade. A realidade, no caso do Stop, não deixa margem para dúvidas. O relatório da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) é rigorosamente taxativo.

Não há condições mínimas de segurança para que o Stop continue em funcionamento. Para dotar o Stop das condições necessárias, seria preciso um investimento de milhões, que a Câmara não pode fazer em propriedade privada e que os proprietários não têm possibilidade ou disponibilidade para levar a cabo.

Estranha-se a passividade oportunista do Ministro da Administração Interna José Luis Carneiro em face dos factos, em contraste com a rapidez de tomada de posição nos assuntos que lhe são politicamente convenientes.

A reacção do Bloco de Esquerda, igual à do Chega noutras matérias, é profundamente lamentável. É o populismo irresponsável mais puro, é demagogia sem limites, é o vale tudo, explorando sem escrúpulos as emoções, em detrimento da razão e da responsabilidade.

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Entre o silêncio de uns e a vozearia de outros, há um lamentável aproveitamento político de uma situação que não é agradável para ninguém. Ninguém quer, em termos emocionais e afectivos, fechar o Stop, ninguém nega o papel do Stop na vida de inúmeros artistas da cidade. Mas, em face da insustentável situação de insegurança que ali se vive, há quem tenha a racionalidade, seriedade e coragem de decidir em defesa dos interesses de todos, apesar das incompreensões, e quem aproveite sem escrúpulos uma onda de comoção, fazendo a mais lamentável demagogia.

Se Rui Moreira permitisse a continuação do funcionamento do Stop, em face deste relatório independente da mais credível autoridade nacional na matéria, seria automaticamente cúmplice e corresponsável, caso ocorresse uma tragédia no edifício. Os mesmos demagogos irresponsáveis que hoje exigem a continuação do funcionamento do Stop, seriam os primeiros a apontar o dedo ao Presidente da Câmara, caso alguma coisa corresse mal.

A Câmara do Porto ganhou, nos últimos dez anos, uma credibilidade única no país em tudo o que se relaciona com a cultura. Paulo Cunha e Silva, o grande intérprete e promotor da ideia de cidade-cultura de Rui Moreira para o Porto, deixou-nos demasiado cedo, tendo o pelouro que tutelava sido desde então assumido directamente pelo Presidente da Câmara; não pode haver maior prova política da prioridade da cultura na vida da cidade.

A Câmara, a maior promotora e facilitadora da cultura na cidade, já disponibilizou a Escola Pires de Lima, a dois passos do Stop, para que aí se instalem os músicos, em condições que são em tudo superiores ao Stop, onde não é difícil imaginar um novo polo de dinamização cultural da cidade com condições extraordinárias. Desde a infraestrutura, à arquitectura, à vizinhança, a Pires de Lima tem tudo para ser um centro de referência a nível nacional. Deem o tempo necessário à Câmara, aproveitem a oportunidade e nascerá mais um novo centro cultural de excelência na cidade.

Pelo meu lado, de boa fé e com os olhos no futuro, penso no que a Pires de Lima pode vir a ser e vejo tudo isto como uma enorme oportunidade.