Acabado o prazo para adesão dos trabalhadores da TAP às medidas voluntárias que permitem à companhia aérea reduzir os seus encargos com massa salarial, e na expectativa da avaliação de Bruxelas ao Plano de Reestruturação apresentado pelo Governo de Portugal, impõem-se as questões: que TAP terá quem lá fica? E quem fica com a TAP, ou seja, todos os Portugueses, que empresa terá?

No âmbito da negociação do Acordo Temporário de Emergência para a reestruturação da TAP, o SITEMA – Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves foi, pensamos, o único sindicato que fez questão de incluir no clausulado do documento assinado uma alínea que prevê a constituição de uma equipa de trabalho para analisar, projetar e promover, em estreita parceria com a administração da TAP, as condições de eficiência e rentabilidade desta empresa. Esta exigência não foi, para nós, uma operação de cosmética e é um objetivo que não vamos deixar de perseguir. Ainda em 2019, a TAP gastou mais de 70 milhões de euros em indemnizações aos passageiros, parte destas devido a atrasos por manutenção que poderiam ser evitados com reorganização operacional de alguns setores e de procedimentos. Esta é apenas uma das razões pelas quais devemos, trabalhadores e Portugueses, exigir transparência e seriedade na gestão da reestruturação desta empresa. Isso só será possível se nesta reestruturação fizermos diferente do que fizemos no passado.

Esta reestruturação deve servir para, a partir daqui, celebrar o mérito e reconhecer a competência, aspetos que, se importantes em todos os setores, são cruciais neste ramo de negócio, seja na manutenção, seja na gestão. Na manutenção, os pergaminhos, os prémios e o reconhecimento internacional são públicos, já na gestão… é importantíssimo que os erros do passado não sejam repetidos e que a competência e o rigor sejam os principais motes de quem assumir a missão de gerir a TAP.

Esta crise é a oportunidade para abandonarmos modelos antigos que, ao apoiarem-se unicamente na redução de custos por via de salários, como aconteceu em quase todas as intervenções do Estado na TAP, promoveram amadorismos e clientelismos, à boa maneira da pior administração pública. A TAP tem todas as possibilidades de ser uma verdadeira empresa de sucesso e de, além do orgulho na bandeira, dar dividendos ao país.

A TAP dispõe de uma frota moderna e eficiente, opera num hub geograficamente bem colocado, serve um país com uma forte diáspora, apoia a importante indústria de turismo e, por último, mas não menos importante, tem uma excelente oportunidade de negócio na área da Manutenção e Engenharia que é, pela sua qualidade e pela existência de mercado, uma das potenciais joias da empresa. Se assim não fosse, teria a empresa Hi Fly aberto em Beja um polo de manutenção já em período de pandemia?

Um verdadeiro cluster de aviação e aeronáutica pode ser estruturante quer para esta região, quer para a economia nacional. Com dotação de meios, temos tudo para nos afirmar como um dos melhores players mundiais na manutenção de material aeronáutico. Haja vontade e coragem para fazer o melhor para quem fica na TAP e, com eles, o melhor para quem fica com a TAP.

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