Com a recente tentativa de golpe de estado por parte dos mercenários do grupo Wagner, tornou-se clara a instabilidade interna do estado russo. Apesar de o líder destes mercenários,Yevgeny Prigozhin, menos de 24 horas após ter declarado rebelião, ter chegado a um acordo com o Kremlin, retornando as suas tropas às posições pré-revolta e exilando-se na Bielorrússia, foram expostas inúmeras ruturas no estado russo. Associando esta situação com os eventos que decorreram desde a invasão de Fevereiro de 2022, que escalou a proporção da guerra Russo-Ucraniana, surge uma questão: Qual será o destino da Federação russa após a guerra?

Para oferecer uma resposta a esta questão é necessário analisar três fatores: o estado do conflito, as consequências económicas das sanções sobre a Rússia e a situação política da Federação Russa.

O conflito decorrente na Ucrânia não se demonstra favorável ao estado russo, tendo as suas previsões e expectativas sido subvertidas pela competência e determinação das forças ucranianas, transformando um plano de “blitzkrieg” numa desastrosa campanha que decorre há cerca de ano e meio. No decorrer desta invasão, as forças russas têm visto as suas tropas reduzidas maioritariamente a conscritos equipados com equipamento desatualizado, perdendo uma grande parte do seu equipamento moderno e soldados veteranos, reforçadas por mercenários de várias empresas pró-russas, os quais se demonstraram das poucas forças capazes de defrontar as tropas ucranianas através de táticas e estratégias desumanas, a lealdade dos quais foi comprovada com a recente revolta.

Em contraste, contrariando as suposições russas, as forças ucranianas encontram-se motivadas, cada vez melhor equipadas e treinadas devido ao suporte ocidental, infligindo derrota atrás de derrota sobre as forças russas. Atualmente, os soldados ucranianos encontram-se numa nova ofensiva contra as posições russas, a qual, caso tome a trajetória esperada e consiga quebrar as fortificações russas no sul da Ucrânia, ameaçam cercar a península da Crimeia, ameaçando retomar o território capturado em 2014. Esta vantagem é ainda fortificada pela existência de grupos paramilitares russos anti-Kremlin e pró-ucranianos, cujas incursões em Belgorod pressionam a logística do exército russo.

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Uma análise económica da Rússia mostra-se igualmente negativa para o Kremlin. Apesar de a informação disponível se encontrar restrita devido à censura implementada no inicio da guerra, a fuga de milhares de russos para a Finlândia e para em Geórgia em 2022, o abandono de acordos estabelecidos com outras nações do OPEP (organização de países exportadores de petróleo), inundando o mercado internacional com um elevado número de produtos petrolíferos russos, e a falha no cumprimento de contratos de militares, tanto de segurança, tornada clara durante o recente conflito entre a Arménia e o Azerbaijão, como de fornecimento de meios militares, tendo o contrato de fornecimento de meios militares com a Índia entrado em incumprimento por parte dos russos. Contabilizando estas situações, é razoável presumir que a economia russa foi fortemente prejudicada pelas sanções ocidentais.

Seguindo a tendência dos campos anteriores, a situação política russa demonstra-se igualmente instável. O conflito o entre o estado russo e grupo Wagner quebrou a ilusão de controlo do primeiro, desestabilizado o poder de Putin e dos seus aliados.

As novas acusações de “extremismo” lançadas contra Alexei Naviny, suportam a decadência do controlo político do Kremlin, uma vez que estas condenarão o líder da oposição russa a uma pena mais pesada, numa prisão de segurança máxima. Este ato contra um homem encarcerado, demonstram o pavor por parte do governo russo de qualquer potencial movimento dissidente.

Tendo em conta esta análise, é difícil acreditar que o governo russo irá manter-se intacto após a conclusão do conflito com a Ucrânia. A verdadeira questão será: até que ponto a Federação Russa será alterada?

O cenário mais favorável ao atual regime será a perpetuação de Putin e dos seus apoiantes, um cenário que necessitará de uma eficaz supressão dos elementos ultra-nacionalistas que criticam as ações durante a invasão da Ucrânia, assim como de qualquer movimento pró-democrático.

Historicamente, este não é o cenário mais provável, sendo que tanto após a prestação desastrosa do Império Russo na 1ª Guerra Mundial e o desastre no Afeganistão da União Soviética, ambas as vezes o regime atual colapsou, apesar deste colapso ter tomado formas distintas.

Assim sendo, o mais provável será o colapso do regime atual, seguido ou por um conflito entre forças divergentes ou por uma transição democrática de poder, onde a maioria do povo demonstra o seu apoio a um novo regime. Esta situação irá potencialmente levar à restauração do território em estados invadidos, como é o caso da Geórgia, e a proclamação de independência de novos estados, normalmente em regiões com uma forte identidade cultural própria. No seu extremo, este cenário poderá levar ao colapso da Federação Russa em dezenas de estados.

Assim sendo, que papel podemos desempenhar nós, como indivíduos e cidadãos europeus? Como ocorreu no pós 2ª Guerra Mundial, a UE deve demonstrar-se capaz e incentivada a estender a tocha da liberdade e fraternidade aos cidadãos russos, incentivando que qualquer alteração de regime na Rússia tome uma face democrática e respeitadora dos direitos humanos. Apenas desta forma podemos ajudar a Rússia a depor os grilhões do autoritarismo e imperialismo que emprega há séculos.