“Valorize a paixão onde quer que a encontre”, um dos princípios do Modelo Touchpoints criado por Berry Brazelton. É este grito de optimismo que transparece de toda a obra de Berry Brazelton legado que nos cabe honrar, nomeadamente, na Missão que inspira a Fundação Brazelton/Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família.

Para os pais, descobrir o seu bebé é, certamente, o maior desafio de toda a sua vida. Descobre-se o que se quer conhecer.

É nesse processo de descoberta que reside o mistério em muitas das expressões do destino de cada criança, mais tarde feita adulto, cidadão do mundo e recriador dum novo ciclo existencial. Mercê de todas as incessantes descobertas científicas, os pais reconhecem, hoje, que este mistério é ganho ou perdido logo muito cedo, quando o bebé aparece e transforma, por exemplo, o que era, então, só casal, em família.

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A descoberta do bebé representa, essencialmente, fazer a viagem pela diferença, identificando, logo às primeiras horas de vida, o temperamento, as forças, as fraquezas, as emoções, as competências desse pequeno alguém que tudo mobiliza, que todos influencia, que em todos transforma sonho em paixão.

Acredito que um dos principais papéis dos profissionais da saúde e da educação e, de uma maneira muito especial, do pediatra, é o de funcionar como guia, proporcionando aos pais essa viagem de um modo mais partilhado e mais competente e, deliberadamente também, de modo não intrusivo.

A consulta pré-natal e, sobretudo, a avaliação do bebé em presença dos pais, no período pós-natal imediato, são oportunidades de excelência para fazer apetecer aos pais e, eventualmente, aos outros membros mais chegados da família, os caminhos intermináveis dessa descoberta.

O bebé, mais do que uma referência social, é a referência afectiva da família.

No paralelo do conhecimento científico mais especializado em cada uma das dimensões do desenvolvimento infantil, é cada vez mais fundamentada e creditada a noção de que é no contexto de cada identidade, individuada e partilhada, que se constrói o vínculo da pertença e o sinal de coerência que essa pertença assume quando de cada passo da descoberta se reforça o afecto e se constroem as expectativas dum destino.

O primeiro passo da descoberta do bebé faz conhecer à mãe que dos dois bebés extremos que quase sempre a fantasia da mulher grávida constrói, ela, de facto, tem à sua frente o seu bebé real, mais ou menos bochechudo, mais ou menos risonho, mais ou menos comilão, mais ou menos dorminhoco, porém, o seu bebé, por quem se vai apaixonar e a quem vai dedicar parte da sua vida.

Cada mãe, cada pai tem à sua frente o bebé da sua vida para quem é preciso assegurar o melhor futuro com um sucesso creditável em toda a família.

Excerto do Livro de João Gomes-Pedro, Pensar a criança sentir o bebé, ed. In