Fui na viagem solidária organizada por Keren Hayesod (Solidarity Mission 19.11.23 – Europe Division – Keren Hayesod).

O sentimento de emoção sem acção após o ataque de 7.10.23 estava a gerar em mim frustração. Ver Israel atacado mais uma vez, e desta vez com pogrom dentro de sua casa, foi um imenso choque .

Tantas vezes fui a Israel, fiz os seus percursos a pé como quase todos os Israelitas, o chamado Shvil-Israel National Trail. Para mim era importante que os meus pés tocassem a terra numa espécie de abraço.

Andei desde o Kibutz Dan no Norte a Eilat no Sul. Subi Massada a pé, subi a Wall em Mitzpe Ramon. O Neguev é um lugar único onde marquei as minhas iniciais, numa aliança de quem quer voltar. Estive, comi e dormi em Kibutzim.

Em todo o lado experimentei uma imensa paz e harmonia com os israelitas, no seu frenesim urbano de Telavive, na sua determinação de fazer florir o deserto ou criar produtos que nos surpreendam, como o tomate cherry, regados a água do mar dessalinizada.

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Não consegui ficar em casa! Era como ter um amigo doente e não o ir ver!

Fui e não queria voltar no final da Missão Solidária. O que fazíamos não era muito, mas estávamos lá! Juntos!

O que vos conto agora não é uma descrição exaustiva porque as palavras me faltam, mas partilho convosco algo do que vi.

A chegada ao aeroporto de Telavive tem agora uma ala de cada lado de fotografias dos reféns em Gaza, aos pés do mural de Julio Carrasco Breton que mostra a história judaica e se chama Am Israel Chai – O Povo de Israel vive…

Mural de Julio Carrasco Breton

Encontrámo-nos em Telavive com Ayelet Nachmias Verbin, chairman da Victim of Terror Fund e com o Gen. Na reserva Giora Eiland que nos falaram da terrível situação de pessoas que, de repente, perderam os bens que fazem parte do quotidiano, casa, carro, documentos e barbaramente seus entes queridos.

A IDF tenta rapidamente devolver a segurança dentro do território. A zona de Kibutzim e Moshvaves à volta de Gaza são uma zona agrícola da maior importância e foram as mais martirizadas. Netiv Hasara, Kfar Aza, Nahal Oz, Be éri e outras recebiam quotidianamente, antes do indescritível ataque, palestinianos de Gaza e agora as colheitas da época estão comprometidas embora a força de voluntários acorra.

Encontrámos 300 refugiados no hotel vindos de Ashkelon e Kiryat Shemona.

Crianças de Askelon alojadas no hotel

As pessoas tinham uma casa, viviam em Kibutzim com vida agradável e ar livre. Tinham seus animais de estimação, as crianças corriam em liberdade e enchiam o ar de vida com suas risadas. Agora estão protegidas, mas deslocadas, crianças sem escola embora a sociedade civil e autoridades estejam a cuidar desse aspeto. Não têm nada, nem casa nem carro, nem documentos de identificação, não sabem quando poderão voltar.

A casa já não existe! Queimaram-na, partiram-na, explodiram-na. Ela é agora apenas uma memória para onde querem voltar, apesar do horror ter lá passado.

Visitámos na região sul, Sderot,  Askelon, Kibutzim ou Moshaves que foram atacadas a 7.10.23 e são agora zona militarizada onde só se pode ir com permissão, enquadramento de proteção, transporte blindado, colete e capacete.

Com um dos oficiais de segurança regionais, estivemos em Netiv ha’asara onde foram assassinadas 20 pessoas. Agora é uma cidade-fantasma de onde foram deslocadas as famílias para outros locais.

Sim, também os israelitas são deslocados das suas casas, estimam-se 200.000 deslocados só do Sul. Nessa madrugada estavam em suas casas a dormir no final das festas de Sucot. Eles estavam em Paz e felizes pela presença de visitantes familiares.

O terror entrou barulhento e bárbaro nas suas casas e sem bater à porta. Arrombaram-na! Muitos foram barbaramente assassinados, não vou descrever como, outros raptados pelo Hamas e levados em exibição pelas ruas de Gaza.

Destroços de uma casa em Netiv Haásara

Askelon e Sderot têm as suas ruas e casas vazias, restaurantes fechados, lojas fechadas. Sinais de destruição e cinzas tornam-nos silenciosos. Fomos a um National Digital Center, ao lado da Esquadra de Polícia de Sderot que já não existe pois foi também atacada, e que agora serve de centro de reunião e monitorização da situação.

Carros circulam de vidros abertos para o condutor ter a certeza que ouve os alarmes das bombas a chegar e tenha os seus 30 segundos para se abrigar. Vemos ao longo da rua os shelters/abrigos de betão já existentes antes de 7.10.23 pois Sderot e Askelon são martirizadas por rockets dada a proximidade com Gaza.

Visitámos o Hospital de Barzilay em Ashkelon. Encontrámos uma médica extraordinária, Dra. Givati.

Dra. Givati, diretora do Hospital Barzilai

Ela explicou como tiveram de converter um hospital civil em hospital de crise ao ser surpreendida com uma multidão de feridos de gravidade nunca vista antes. Chegavam trazidos por ambulâncias ou particulares que também traziam os seus mortos… As pessoas em pânico traziam os seus familiares sem vida acreditando poder salvá-los.

Era Shabat mas o pessoal do hospital que estava em casa, na madrugada de Sábado, acorreu a ajudar bem como médicos de Telavive quando se percebeu o que se passava. Foram pedidos médicos de maxilofacial pelo tipo de ferimentos terríveis.

Hospital Barzilai

Os pisos subterrâneos foram libertados de material médico armazenado para receber camas de feridos. Aí, pretendia-se defendê-los de bombas, de ataques e também proteger os feridos da multidão que chegava, do barulho, do horror que andava à solta nas ruas.

Os terroristas nas ruas atiravam sobre quem passava o que tornava difícil a fuga. Organizou-se evacuação de feridos cuja gravidade exigia cuidados superlativos e eram muito numerosos. Voluntários montaram mesas de apoio com comida e bebida para o pessoal do hospital ou para quem precisasse.

Como médica imaginei-me ali na situação daquela médica, e abençoei-a com todo o meu respeito e admiração. Que mulher formidável, Dra. Givati!

Em Telavive, a empresa Check Point, cedeu um piso para Fórum das famílias dos reféns do Hamas em Gaza. Aqui as famílias e voluntários procuram indícios de localização de seus desaparecidos.

Como os terroristas queimavam as casas e os corpos, tudo jaz em cinza e não é fácil dizer se a pessoa foi raptada ou morta. Há uma organização chamada Z.A.K.A. que, em colaboração com arqueólogos, tem a competência de analisar poeiras, resíduos e estudar o DNA em alguns fragmentos identificados.

Neste Fórum falámos com algumas famílias que, ao contrário do que eu pensava, queriam falar e ser abraçados. Quando o alarme de rockets tocou, fomos para o abrigo em marcha silenciosa, o que nos deixou ouvir o Iron Dome, com estampido seco, a neutralizar o perigo.

Em Jerusalém há um local lindo de onde se vê Telavive, Yad Ha’Shemona. Neste local funciona o Hotel Logus. No dia 7.10.23, quando se teve a noção do ataque, converteram a cozinha para apoio alimentar aos soldados e pessoas deslocadas. Preparámos comida com o pessoal da Luisa Catering aqui.

Já tinha ficado surpreendida noutros momentos mas aqui entendi melhor. A sociedade israelita tem uma reatividade incrível. Eles consideram-se “balagan” ou caóticos, mas na verdade na confusão entusiástica de se entreajudar tornam-se uma força!

Neste ataque bárbaro e inesperado organizaram-se rápido em grupos de WhatsApp segundo o que pretendiam: quem leva comida quente aos soldados ou a deslocados, quem transporta pessoas para o Norte, Sul ou outro destino, quem toma conta de crianças… Quem faz comida?

Nós fizemos comida e num gesto tão simples sentimos que fazíamos parte daquele TODO solidário que não deixará nunca mais Israel só…

Em Rabin Youth Hostel Jerusalém que recebeu refugiados de Ashkelon, tivemos um enternecedor momento de café preparado por famílias etíopes aqui refugiadas. Estas famílias também perderam as suas casas e muitos dos seus elementos.

Neste Hostel estão muitas crianças e procura-se que elas retomem suas aulas e também ambiente de brinquedos.

Crianças refugiadas na escola improvisada

Nesta Missão de solidariedade e de trabalho também tivemos ocasião de nos informar com elementos de Foreign Affaires na sede de Keren Hayesod, Hamutal Fuchs e Mordechai Rodgold. No grupo de 18 havia franceses, alemães, holandeses, espanhóis e uma portuguesa,eu própria . Fiquei surpreendida com os testemunhos de antissemitismo nesses países. Todos pedimos informação para difundirmos e contrariarmos as notícias da Al Jazeera/Hamas que alimentam as agências noticiosas.

Tivemos um momento para ir ao National Memorial Hall para os soldados estrangeiros em Har Herzel. Participámos numa homenagem aos caídos.

Um dos soldados fez um discurso muito emotivo pois tinha dois irmãos em Gaza a combater que dizia:

“Uma Mãe quando vê um filho ir para a guerra deseja que ela seja:
– Justa
– Que os comandantes se interessem que os seus soldados voltem a casa
– Se acontecer que morram, que ninguém se esqueça dos que morreram”

Penso sempre que a grandeza das pessoas se manifesta em pequenos detalhes.

Aqui, existe um mural com o nome dos soldados estrangeiros que morreram por Israel nas várias guerras. Os nomes são colocados apenas nas placas que ficam ao alcance das pessoas, para que estas possam tocar a placa com o nome do seu familiar ou amigo…

Quando o dia acabava, o corpo estava cansado mas o espírito continuava alerta e atento à palestra após a refeição. Houve uma Conferência com Raheli Baratz, Rix Chefe do departamento de combate ao antissemitismo do World Zionist Organization. Ela fez uma brochura de princípios legais da Guerra Iron Swords, com Legal Forum. Achei muito bem organizada e pedi-lhe uma que transmitirei.

O dia de partir chegou e eu não tinha visto passar o tempo. Vi o aeroporto Ben Gurion vazio, o mesmo que costumava estar cheio de gente que chegava para férias ou negócios. Agora há uma pausa na vida das pessoas, algumas para sempre.

E que dizer dos reféns de Hamas? Bébés, crianças, jovens, idosos, adultos! São vidas em suspenso insustentável. Como estarão? Voltarão um dia?

Esta Missão Solidária organizada por Keren Hayesod fez-nos a todos fazer algo de concreto por um país que consideramos justo e democrático. É costume considerar Israel um milagre. Mas agora vendo como todos dão tudo de si para que a sua Nação seja uma realidade, penso que Israel não é um milagre mas sim uma obra de arte com alma.

Em Portugal presido a uma Associação Lusa – Portugueses por Israel – ALPI, e levei-os em pensamento, sabendo como tantos gostariam, também, de dar de si.

O slogan “Nie wieder” do pós-guerra passou a “Nie wieder ist jetzt” – Nunca mais é agora!

Grupo de Keren Hayesod – Missão Solidária em Israel 19.11.23