O ministro do Turismo de Moçambique, Carvalho Muária, alertou, esta quarta-feira, que a ameaça de extinção de algumas espécies de animais pode criar um impacto negativo no turismo, exortando o país a unir esforços contra a caça furtiva.

Carvalho Muária falava num seminário sobre o combate à caça furtiva organizado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), em Maputo, a capital de Moçambique.

“O desaparecimento destas espécies vai trazer um impacto negativo no turismo e no desenvolvimento socioeconómico”, declarou Muária, apontando o rinoceronte e o elefante como alvos de organizações internacionais de crime organizado.

O ministro moçambicano do Turismo admitiu que o país se tornou num corredor para o contrabando de chifres de rinocerontes com destino a Ásia, realçando ter sido assinado um Memorando de Entendimento com a África do Sul, em abril, visando o reforço do combate à caça ilegal daqueles animais.

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Carvalho Muária destacou, igualmente, a aprovação de uma nova lei sobre as áreas de conservação, que agrava as penas por caça ilegal de espécies protegidas.

O WWF revelou hoje dados preliminares de um estudo que apontam para um “aumento explosivo” da caça furtiva em Moçambique, visando o elefante e o rinoceronte, especialmente procurados pelos mercados asiáticos.

Os resultados do estudo preliminar, objeto de debate desta quarta e quinta-feira, estabelecem uma relação entre “as proporções alarmantes” da caça furtiva e a procura dos mercados e expõem também a fragilidade das instituições locais.

“A forma como as operações de caça furtiva do rinoceronte ocorrem leva a crer a existência de grupos bem organizados e estruturados. O número de armas apreendidas pelo Parque Nacional do Limpopo em caça furtiva tem estado a aumentar, e muitas destas armas têm ligações com instituições de segurança e proteção do Estado”, refere o relatório, acrescentando que uma arma da Polícia da República de Moçambique de Massingir foi apanhada três vezes consecutivas em ações contra esta atividade ilegal.

O documento considera que a capacidade de deteção das autoridades alfandegárias moçambicanas é fraca, embora esteja a aumentar.

“Só em 2013 foram apreendidos 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto Internacional de Maputo e apenas no primeiro trimestre de 2014 foram já apreendidos seis chifres de rinocerontes”, refere o texto.

Outro dado a levar à reunião, esta quarta-feira, em Maputo diz respeito à última contagem aérea de elefantes no Parque Nacional das Quirimbas (província de Cabo Delgado, norte de Moçambique), em novembro de 2013, em que um em cada dois elefantes avistados era uma carcaça. “Comparado com a contagem de 2011, a estimativa de carcaças subiu de cerca de 119 para 811”, adianta a WWF.

Na Reserva Nacional do Niassa, também no norte do país, segundo a organização não-governamental, a caça furtiva ao elefante levou a que, entre 2009 e 2011, o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 para 2365.

Moçambique, segundo a WWF, tinha 22 mil elefantes em 2011, sobretudo em Niassa e distrito de Magoé (Tete, centro). As populações de rinoceronte branco e preto no país, apesar de algumas presenças ocasionais junto ao Parque Kruger, “como resultado da pressão da caça, foram já extintas”.