Na luta política na comissão de inquérito ao BES, esta semana será de definições. PSD assumiu uma posição de força dizendo que não iria aprovar o pedido de depoimento por escrito do Presidente da República e o PS vai manter o braço de ferro, mas no que diz respeito ao primeiro-ministro. O PS não vai insistir no envio de perguntas para Belém, mas não abandona a intenção de ouvir o primeiro-ministro, também por escrito.

Os requerimentos apresentados pelo PS, PCP e BE para pedirem declarações ao Presidente da República vão ser discutidos na quarta-feira e vão ficar pelo caminho, mas o PS não quer deixar cair os esclarecimentos de Passos Coelho. Ao Observador, o deputado Pedro Nuno Santos diz que “gostaria que o Presidente respondesse às perguntas, mas distinguimos o papel do Presidente do papel do primeiro-ministro, que tem responsabilidades executivas e também tem de garantir a estabilidade financeira do país”. Por isso, insiste que a comissão de inquérito ao BES envie perguntas a São Bento.

Em declarações à Lusa, fonte oficial do PSD disse “não ter nada a opor” a este pedido, mas a declaração foi feita antes de Passos Coelho ter falado e ter dito que “não há nada a acrescentar” no caso BES, o que pode alterar a posição oficial do partido quando o requerimento for votado.

O deputado socialista diz que o objetivo do PS é o de saber afinal o que Ricardo Salgado disse ao primeiro-ministro quando se encontraram no dia 15 de maio, a reunião em que Passos Coelho negou a ajuda do Governo ao Grupo Espírito Santo.

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“Em finais de maio, primeira quinzena de junho, estava a decorrer o aumento de capital do banco. Ricardo Salgado, aparentemente, foi pedir dinheiro para o Grupo Espírito Santo (GES), mas pode ter ido dizer que o aumento de capital não seria suficiente” para salvar o banco, que tinha uma grande exposição ao grupo. “Se ele disse isso, não deveria ter sido permitido o aumento de capital”, acrescenta Pedro Nuno Santos.

Em maio do ano passado, Ricardo Salgado teve reuniões com vários responsáveis políticos onde terá ido pedir ajuda para o GES. Mas, de acordo com o que o próprio escreveu na carta que enviou à comissão de inquérito a semana passada, foi também falar dos problemas do BES. O que para o deputado socialista faz toda a diferença, uma vez que se Ricardo Salgado foi falar do banco foi porque poderia saber que o aumento de capital que iria decorrer não seria suficiente.

Ora, para o socialista começa por ser o próprio Ricardo Salgado a ter de explicar em nova audição “porque é que ele próprio não desistiu do aumento de capital” quando, tendo o Governo negado ajuda ao grupo, saberia que o aumento de capital não seria suficiente para salvar o banco.

O problema coloca-se, para a oposição, porque as reuniões de Salgado com os dirigentes políticos aconteceram antes do aumento de capital do banco e por isso querem saber exatamente qual a informação que dispunham e porque não travaram a subscrição do aumento de capital.

Depois de conhecida a carta de Ricardo Salgado em que este detalhava os encontros com responsáveis políticos, PS, PCP e Bloco de Esquerda pediram depoimentos por escrito ao Presidente da República e o agendamento da audição de Paulo Portas na comissão.

Num primeiro momento, o PSD reagiu dizendo que nunca tinha votado contra um pedido dos partidos da oposição, mas, depois das declarações do Presidente da República em que este disse que não tinha “esclarecimentos adicionais a dar”, os sociais-democratas voltaram atrás e dizem que vão chumbar os requerimentos apresentados pelos três partidos. Fonte social-democrata disse à Agência Lusa que o requerimento ia ser chumbado por se tratar de uma “estratégia de lançar a confusão” da oposição “absolutamente lamentável”. Os socialistas esperam agora que o voltar atrás não aconteça também no caso do requerimento do primeiro-ministro.