As eleições são no domingo e os dez candidatos entram na segunda semana de campanha prontos para o sprint final. Mas ao contrário do que é habitual, vão ter de fazer uma inversão na marcha da caravana e parar em Lisboa para um frente a frente. Depois de uma primeira ronda, na rádio, esta terça-feira é a vez de se defrontarem na televisão. Serão mais de duas horas de debate (140 minutos) o que, a dividir pelos dez candidatos, dá a módica quantia de 14 minutos a cada um. O que cabe em 14 minutos?

Não cabem invenções, isso de certeza. Nem mudanças de tom ou inversões de estratégia. As palavras de ordem são “manter” e “reafirmar”. Usar o palco e os holofotes para apelar de forma mais direta quanto possível ao voto, quase como se aqueles 14 minutos (mais coisa menos coisa) fossem o minuto final que costuma encerrar os habituais debates, onde cada candidato olha para a câmara e luta por si.

É pelo menos assim que Vera Jardim, o socialista que apoia Maria de Belém Roseira, vê a oportunidade televisiva de terça-feira à noite. “Maria de Belém deve reafirmar as causas pelas quais tem lutado, reafirmar o seu currículo, a sua experiência e o seu entendimento dos poderes presidenciais e da Constituição”, diz ao Observador, sublinhando que a postura da candidata no debate deve ser “mais pela afirmativa do que pela comparação com os outros”. Isso, diz, vem por acréscimo. “Ao sublinhar a sua vantagem, está a sublinhar a vantagem que tem em relação aos outros sem ter que o dizer diretamente”, acrescenta.

E este parece ser um entendimento transversal às várias candidaturas. Do lado da organização da campanha de Marisa Matias, a palavra de ordem é similar: nada de “fulanização”. Ao Observador, o diretor de campanha da candidata bloquista, Fabian Figueiredo, admite que o momento do debate pode ser indicado para “confrontar os candidatos com as afirmações que têm sido feitas na campanha”, mas que a estratégia de Marisa Matias passa por “continuar a reafirmar as suas ideias com clareza”.”Tem sido a única candidata que diz claramente o que fará se for eleita” e é para continuar nesse registo.

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Também do lado da candidatura de Edgar Silva o debate televisivo é apenas visto como uma extensão da estrada. “É um momento para ampliar a ação de esclarecimento que a campanha de contacto direito tem permitido”, diz a candidatura em resposta ao Observador, garantindo que os (poucos) minutos televisivos de que cada um dispõe serão usados para apelar ao voto e explicar “as razões que devem levar os eleitores a optar” por aquele candidato.

Nove contra um. E um contra um, em busca da segunda volta

Certo é que nenhuma das candidaturas encara o debate televisivo como um ponto de viragem da campanha, ou como um momento decisivo. Sampaio da Nóvoa segue galvanizado por uma semana na estrada que não lhe está a correr mal, e entre os seus mais próximos acredita-se que é isso que fará a diferença – não o debate que vai sentar 10 pessoas à volta da mesma mesa. Ao Observador, Correia de Campos, ex-ministro da Saúde que é mandatário nacional de Nóvoa, não tem dúvidas de que o ex-reitor vai defrontar Marcelo numa segunda volta pelo que a reta final da campanha deve centrar-se em vincar as diferenças entre ambos.

Mas não com ataques aguerridos. Para Correia de Campos, o trunfo de Nóvoa, que deve ser realçado no debate de terça-feira, é a sua “personalidade tranquila”, símbolo de “confiança e estabilidade” – em contraponto com a personalidade mais excêntrica e extrovertida de Marcelo, que tem feito uma campanha inteiramente centrada em si, sem apoios nem estrutura. Apenas o show Marcelo e três carros, nada mais.

Nove contra um, é mais ou menos assim que tem sido a campanha e é mais ou menos assim que se adivinha vir a ser o debate. Intercalado com o confronto de um para um entre Nóvoa e Maria de Belém, que lutam por um lugar na segunda volta. Todos juntos deverão centrar as atenções em Marcelo para o obrigar a ir a uma segunda volta, e Marcelo, sozinho, vai centrar os seus esforços na necessidade de não ceder à pressão. “Eles querem que eu me enerve mas eu conto até 100. E quando chegar a 100, a campanha acabou”, disse este domingo em Aveiro, deixando antever qual vai ser a sua postura no frente a frente.

10 candidatos, 2h20, 14 minutos a cada. “Não é um debate, é uma confusão”

Serão 140 minutos de debate (2h20), moderado por dois jornalistas (Vítor Gonçalves e Carlos Daniel), na Fundação Champalimaud e com 220 pessoas a assistir – sem interagir. Com dois blocos temáticos, um com questões de cariz político e outro com questões mais pessoais, o debate será organizado em torno de quatro ou cinco rondas de perguntas, com oportunidade de réplica, mas sem que haja necessidade de cada um responder à mesma pergunta, explica fonte da RTP ao Observador.

A ideia é não repetir os erros do último debate entre Passos Coelho e António Costa, onde o cronómetro era rígido e cada um tinha o mesmo tempo para responder à mesma pergunta. Desta vez, com a dificuldade acrescida de serem não dois mas dez candidatos à volta da mesma mesa, as intervenções serão cronometradas numa perspetiva global e não resposta a resposta. No final, deverá haver equilíbrio entre os vários candidatos, e cada um deverá ter falado aproximadamente 13 a 14 minutos, explica a mesma fonte.

Ainda assim, há quem veja o debate a 10 não como um “debate” mas sim como uma “confusão”. A crítica é do comentador e ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, apoiante de Marcelo Rebelo de Sousa, que se recusa a comentar o debate do ponto de vista estratégico por considerar que “é um debate sem história, que só serve para cumprir calendário”. “Não é um debate, é uma confusão”.

Para Marques Mendes, os candidatos, no pouco tempo de que dispõem, vão limitar-se a “repetir as prestações que têm tido na campanha” sem terem uma estratégia muito definida para o confronto, precisamente por “não o levarem a sério”. “A época de debates já acabou, as pessoas estão saturadas e a campanha está no fim, o voto já está decidido – e eles sabem disso”, diz ao Observador.