Os dois enfermeiros militares do Exército ouvidos esta tarde de terça-feira pelo Ministério Público foram constituídos arguidos por omissão de auxílio e e de abuso de autoridade por ofensa à integridade física. A investigação, que contou com a colaboração da Polícia Judiciária Militar, poderá levar à constituição de mais arguidos. Para já, esclarece a Procuradoria-geral da República (PGR), apenas os dois enfermeiros foram constituídos.

Segundo fonte oficial da Polícia Judiciária Militar ao Observador, os dois militares terão prestado “apoio à prova”, escusando-se esclarecer qual. Recorde-se que pelo menos onze militares deste curso acabaram por ser assistidos no Hospital. Dois morreram. A mesma fonte refere ainda que não significa que estes dois militares sejam os instrutores do curso que foram recentemente alvo de um processo disciplinar.

“A nossa investigação é independente da do Exército. Não sabemos quem foram os militares que foram alvo de processo disciplinar, embora possamos pedir esses resultados para completar a nossa investigação”, disse a mesma fonte, que diz que foram ouvidos vários militares dos Comandos ao longo da investigação.

Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República refere que, “até ao momento, para além dos agora constituídos, o processo não tem quaisquer outros arguidos”. Os dois enfermeiros militares foram ouvidos no DIAP de Lisboa pelo envolvimento nas mortes dos dois recrutas — foi-lhes aplicada a medida de coação mais leve, Termo de Identidade e Residência.

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No entanto, acrescenta a nota divulgada esta tarde, “as investigações prosseguem, estando em causa suspeitas da prática de crimes de omissão de auxílio e de abuso de autoridade por ofensa à integridade física”. Fica, por isso, em aberto a possibilidade de virem a ser constituídos mais arguidos.

Na edição desta terça-feira, o Correio da Manhã avançava que Dylan da Silva e Hugo Abreu estiveram quase duas horas sem assistência médica. Aquele jornal citava a investigação da Polícia Judiciária Militar em articulação com o DIAP, que conclui ter havido erro médico na morte dos dois comandos.

De acordo com o Correio da Manhã, a enfermaria tinha 25 militares — entre os quais, os dois que mais tarde morreram — na tarde de 4 de setembro. O médico de serviço terá abandonado as instalações às 19h00 depois de considerar que os doentes não precisavam de cuidados urgentes. No local, ficaram dois enfermeiros e dois socorristas. Ainda de acordo com o Correio da Manhã, o médico em causa alega que saiu para ir preparar o Hospital das Forças Armadas para receber as vítimas. Porém, aquele jornal refere que não foi chamado um outro médico, que estava de escala, para aquele curso dos Comandos.

O médico em causa, segundo confirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, ao Observador, foi alvo de um inquérito disciplinar há já três semanas. Ao Expresso, o bastonário diz que o médico visado, militar com a patente de capitão, poderá ser alvo de sanções pela Ordem que vão da simples advertência ao impedimento total do exercício da profissão.

Dylan da Silva e Hugo Abreu foram os dois militares do 127. º Curso de Comandos que perderam a vida, mas outros 23 militares ter-se-ão sentido mal e foram assistidos na enfermaria do campo de treino.